segunda-feira, 29 de junho de 2009

Lisboa e o fim dos dinossauros

Há 20 minutos

Opinião


Que o presidente da Câmara Municipal de Lisboa tenha sido eleito por um em cada nove lisboetas não é normal. Que o seu grupo de vereadores tenha poder de planear e gerir projectos tão estruturais como a terceira travessia do Tejo, a frente ribeirinha, urbanizações e reabilitações de vastas áreas do território da cidade parece quase um golpe de Estado


No íntimo, o cidadão português anseia por um ciclone que varra a classe política instalada, que uma tempestade solar curte-circuite o espectro partidário, que uma onda gigante leve os maçons para França, os opus dei para Itália, o compadrio para a Sicília e as cunhas para Espanha.

A bem dizer, a população portuguesa está-se nas tintas para o socialismo, borrifa-se para a social-democracia, marimba-se para a democracia cristã, considera o comunismo uma anedota e o bloquismo de esquerda uma variante de loja do canhoto.
Ninguém, a não ser os clientes da partidocracia em que se tornou a cangalhada herdada da revolução de 1974, se revê sinceramente no sistema político montado, em que a ordem é produzida em Bruxelas, o sustento é assegurado por grupos financeiros e a mira da felicidade é acaparada pela peste do futebol. O resultado confrangedor deste estado de coisas da res publica lusitana é um intransponível abismo cavado entre eleitores e eleitos, que se espelha na quase total ausência de participação cívica na vida política, e no desamor colectivo pelos conceitos de comunidade e de civilidade.

A Lisboa é um caso agudo desta derrocada cultural. Em grande parte, tal é devido à existência de um mastodonte político-administrativo chamado CML.

A CML deveria ser, pura e simplesmente, suprimida e em seu lugar deveriam ser criadas cinco câmaras que pudessem gerir eficazmente os vários núcleos urbanos que compõem a cidade.

Estas câmaras, com as dos concelhos limítrofes, deveriam compor um conselho municipal com funções de gestão e planificação estratégica, que absorvessem funções da CCDR e do Governo Civil. A miríade de freguesias deveria ser destituída, segundo o princípio de que uma junta de freguesia urbana não deveria administrar uma população menor que 5 mil habitantes e maior que 20 mil. A Assembleia Municipal deveria ser, correspondentemente, reformada de modo a funcionar como parlamento regional.

Seria mais lógico e mais prudente que os munícipes votassem em agrupamentos cívico-partidários, que representassem e defendessem interesses específicos à freguesia, ao núcleo urbano, à cidade e à região.

Depois de tal terramoto, justificar-se-ia a criação de um museu dedicado à evocação da memória dos tempos jurássicos da democracia portuguesa. Seria o local indicado para contemplar as foices, martelos, setas, punhos e flores, bolas e estrelas partidárias.

Manuel João Ramos
Cidadão de/por Lisboa

1 comentário:

meninaidalina disse...

Que Karma os Lisboetas têm. Nunca tiveram um presidente decente na CML.

Pensando bem, é muito semelhante ao Karma da CMO