Diz a comunicação social local que o presidente da Câmara de Oeiras declarou que havendo ainda um crédito para construir mais 900 casas, no âmbito do Programa Especial de Realojamento – PER – o vai fazer.
Estas explosões de dinamismo criam um sentimento de angústia e até de rejeição face aos problemas há muito instalados e não resolvidos naquilo que já foi feito.
Na verdade, muitos dos bairros sociais estão a transformar-se em “guetos” exponenciando-se as atitudes e problemas resultantes da falta de empregos, de abandono escolar precoce, do atafulhamento dos espaços e a falta deles como componentes essenciais da sociabilidade de vizinhanças, a falta de transportes, de equipamentos infantis e escolares e tempos livres, e até estruturação do “bairro” nalguns casos com ruas sem saída. Muitas das queixas também se prendem com a má qualidade das construções: armários que se deterioraram rapidamente, humidades e infiltrações; a falta de responsabilização dos seus utilizadores pela manutenção e da própria autarquia que não fiscaliza.
Também não se pode perder de vista as famílias que, entretanto cresceram em número e idade e entendem, por um lado, que a autarquia lhes deve uma casa maior, por outro, as crianças, entretanto adultas, exigem um casa para si. Como diz o ditado: “...deram-lhes o peixe, mas não as ensinaram a pescar”.
Havendo um tal de Conselho de Senadores para ajudarem a projectar Oeiras no futuro, não seria de reflectirem nos males da política de habitação social seguida até aqui, e encontrarem e implementarem uma política inovadora e humanizada – no ideal que possibilite que cada um tenha acesso a uma habitação e diminua, drasticamente, o número de casas vazias que existem neste Município de Oeiras.
Irão dizer: é pura demagogia, é pura utopia. Talvez: mas porque não reflectir? Porque não ouvir com atenção os autarcas locais?
*****
Em 9 de Maio de 2006 o Jornal Público – Tribuna do Leitor, publicou o meu texto acima. Falando agora com pessoas mais conhecedoras e actualizadas lamento concluir que o texto pode ser considerado de hoje. Oeiras é também o Alto dos Barronhos em Carnaxide, onde continua a faltar transportes aos sábados de tarde e domingos, a segurança em sentido amplo é uma miragem, o ruído da auto-estrada é um tormento, há falhas nas estruturas sociais de apoio...
E como “Município modelo” que dizem ser, Oeiras tem de saber dos seus males para ajudarmos a melhorar e sermos, realmente, o tal MODELO.
Estas explosões de dinamismo criam um sentimento de angústia e até de rejeição face aos problemas há muito instalados e não resolvidos naquilo que já foi feito.
Na verdade, muitos dos bairros sociais estão a transformar-se em “guetos” exponenciando-se as atitudes e problemas resultantes da falta de empregos, de abandono escolar precoce, do atafulhamento dos espaços e a falta deles como componentes essenciais da sociabilidade de vizinhanças, a falta de transportes, de equipamentos infantis e escolares e tempos livres, e até estruturação do “bairro” nalguns casos com ruas sem saída. Muitas das queixas também se prendem com a má qualidade das construções: armários que se deterioraram rapidamente, humidades e infiltrações; a falta de responsabilização dos seus utilizadores pela manutenção e da própria autarquia que não fiscaliza.
Também não se pode perder de vista as famílias que, entretanto cresceram em número e idade e entendem, por um lado, que a autarquia lhes deve uma casa maior, por outro, as crianças, entretanto adultas, exigem um casa para si. Como diz o ditado: “...deram-lhes o peixe, mas não as ensinaram a pescar”.
Havendo um tal de Conselho de Senadores para ajudarem a projectar Oeiras no futuro, não seria de reflectirem nos males da política de habitação social seguida até aqui, e encontrarem e implementarem uma política inovadora e humanizada – no ideal que possibilite que cada um tenha acesso a uma habitação e diminua, drasticamente, o número de casas vazias que existem neste Município de Oeiras.
Irão dizer: é pura demagogia, é pura utopia. Talvez: mas porque não reflectir? Porque não ouvir com atenção os autarcas locais?
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Em 9 de Maio de 2006 o Jornal Público – Tribuna do Leitor, publicou o meu texto acima. Falando agora com pessoas mais conhecedoras e actualizadas lamento concluir que o texto pode ser considerado de hoje. Oeiras é também o Alto dos Barronhos em Carnaxide, onde continua a faltar transportes aos sábados de tarde e domingos, a segurança em sentido amplo é uma miragem, o ruído da auto-estrada é um tormento, há falhas nas estruturas sociais de apoio...
E como “Município modelo” que dizem ser, Oeiras tem de saber dos seus males para ajudarmos a melhorar e sermos, realmente, o tal MODELO.
Clotilde Moreira / Algés
4 comentários:
Não se podem atafulhar pessoas em gavetas como se elas não vivessem, não comessem, não respirassem... longe dos olhares da classe alta deste país. Isso era o que se fazia antes, há uns séculos atrás, antes haver direito ao trabalho, à segurança social, à saúde, à educação. Afinal de contas, hoje, para muitas pessoas, estes direitos não passam de miragens. E continuamos a atafulhar pessoas em gavetas sem condições, criando autênticos guetos onde não há supermercados, caixas multibanco, farmácias, polícia, transportes, posto médico, creche, mercado, marco dos correios... As consequências hão-de fazer-se sentir. E depois todos vão ralhar e sacudir a água do capote.
Até quando?
Clarividêcia minha cara Clotilde.
O que diz no artigo é a verdade inteirinha. Claro que as pessoas merecem ter uma casa condigna... mas se calhar têm que fazer mais algum esforço (será que podem?). Eu vi na CMO, em reuniões públicas, presidentes diferentes a confrontarem este problema.
Acto I :
- Senhora "Presidente" quero uma casa para a minha filha (estava com um bebé ao colo)porque tb uma deram a cicrana!!!
- Ó minha senhora, não pode pedir desse modo.
(um ano depois)
Acto II
- Senhor Presidente preciso de uma casa (já não me lembro se era uma senhora que não sabia quantos filhos tinha o marido, o que suscitou galhofa do PCMO).
- Vocês têm que começar a resolver o problema porque a Cãmara não pode chegar sempre a todos.
Vi e ouvi com estes que a terra há-de comer.
O bairro social do Alto dos Barronhos, Carnaxide, tem farmácia, creche, comércio local, Polícia Municipal, e já dispõe de uma carreira directa da Vimeca até Lisboa desde o dia 17 de Março.
Aliás, esse novo percurso / desvio das carreiras 1 e 13 tem causado grandes protestos da população de Carnaxide como consta do Jornal da Região - Oeiras de 1 a 7 de Abril corrente.
Diz uma moradora: "A 13 começa em Queijas, passava em Carnaxide e seguia para Lisboa. Agora tem um percurso novo e ainda vai ao Alto dos Barronhos, Outorela, entra na CRIL no sentido de Lisboa-Cascais, vai ao Hospital de São Francisco Xavier e só depois é que entra na A5."
"Esta mudança implica perdermos mais 20 a 30 minutos em cada uma das viagens, o que ao fim do dia dá quase uma hora. (...) Não estou contra que esses bairros sejam também servidos pela Vimeca, (...) mas a empresa deveria ter criado uma carreira própria para aquela zona e não sacrificar as centenas de utentes que já utilizavam a 13 para irem trabalhar ou estudar."
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Cara Clotilde,
Infelizmente o PER teve, e continua a ter, apenas objectivos eleitoralistas.
Ele não existe para resolver coisa nenhuma - caso contrário TERIA RESOLVIDO, ao invés de criar problemas maiores, alguns do quais Oeiras quase não tinha.
O PER destina-se a "tapar o Sol com a peneira". A 'ESCONDER' a miséria e a pobreza e não a resolvê-la.
Só não vê quem tem vistas curtas e/ou não conheceu Oeiras antes e depois do PER.
Cumps
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