quinta-feira, 16 de abril de 2009

PONTOS DE VISTA por JORGE MIRANDA



NUNCA ESTÁ ACABADA…



Muito recentemente, um magistrado com actividade relevante no concelho de Oeiras nos afirmava a sua convicção de que pouca margem haveria já para a investigação histórica sobre o território, tantos têm sido os trabalhos editados de carácter historiográfico, nas últimas décadas. É evidente que retorquímos, expondo opinião absolutamente contrária.

Em primeiro lugar – e no geral –, porque a História não acabará, enquanto existir o Homem. Não só o tempo comportará novos acontecimentos como, sobre o passado, surgirão ignorados documentos que farão luz sobre um ou outro ponto, novas análises e interpretações serão efectuadas e outras páginas serão escritas ou reescritas.

No que se refere ao local, de facto, desde a década de 80 do século passado, temos assistido a um crescente interesse pela história do concelho e muitos trabalhos têm sido editados. No entanto, é preciso considerar que quantidade não é sinónimo de qualidade. E temos de reconhecer que muito do que tem sido escrito não prima pela inovação, por desbravar novos caminhos. Assemelha-se aos desusados sacos saloios: uma cerzidura mais ou menos bem conseguida de retalhos. Talvez se possa computar em cerca de duas dezenas os trabalhos que se debruçam sobre novas áreas e matérias, tendo por base uma sólida e exaustiva investigação arquivística. Mas estes resultam de uma exigente, morosa e absorvente tarefa que não se efectua de ânimo leve e não se compagina com o predominante diletantismo. E é desta visão que a historiografia oeirense precisa, na actual fase. O salto qualitativo só poderá ser dado por esta via. Mas, para que tal se verifique, é necessário haver estímulos e incentivos.

Há alguns anos, publicamente, propusemos à Câmara de Oeiras que instituísse um prémio para trabalhos na área das ciências sociais e humanas, cujo patrono seria Francisco Ildefonso dos Santos – o pai da historiografia oeirense. Há cidades e vilas por este país que, embora bem mais recuadas que Oeiras, adoptaram esta estratégia para fazer avançar o conhecimento do passado das suas localidades e territórios. Oeiras ainda não o fez, sem que saibamos porquê. Ainda, na semana passada, vimos noticiada a abertura de candidaturas para a atribuição de uma bolsa de investigação sobre o convento da Cartuxa de Évora, pela Fundação Eugénio de Almeida daquela cidade.

E a propósito, sobre a Cartuxa de Laveiras conhecemos dois trabalhos de muito mérito. No entanto, os três outros conventos dos capuchinhos que aqui existiram – S. José e Santa Catarina de Ribamar e Boa Viagem – ainda não foram estudados. Esta é uma lacuna, entre tantas outras.

A historiografia oeirense ainda está na infância. E é preciso que saia desta insipiência.


Jorge Miranda

jorge.o.miranda@gmail.com


Com os nossos agradecimentos ao Autor e ao "Jornal da Costa do Sol" pela cedência do artigo e ao "Boletim Municipal Oeiras Actual" pelo uso da foto.

4 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Caro Amigo Jorge;

É sempre um enorme prazer ler os seus artigos e tomar conhecimento de assuntos pouco divulgados fora de determinados círculos.

Ainda bem que estava atento e retorquiu ao tal magistrado. ;)

[]

I.

Unknown disse...

.

Será só impressão minha ou há gente - inclusive com formação superior, o que é grave - que acha (?) e quer fazer passar a mensagem que a História não serve para nada?!

Estudar o passado para compreender o presente é a tese do grande historiador Fernand Braudel.

Será esta 'compreensão do presente' o que tais pessoas receiam?
Terão elas alguma coisa a esconder?

.

Clotilde Moreira disse...

Jorge Miranda,

Se não estudam depressa e se não fõr travado já o Ribamar virará vivendas de luxo. Sabe o que se propõem fazer na quinta da Foz?

Veja se podem travar.

Clotilde

Fernando Lopes disse...

Ele há tanta coisa a precisar de ser "escavada", recuperada, tratada, protegida, documentada, trazida à luz, dada a "conhecer" e consolidada na memória dos presentes e disponível para os vindouros.
À frase do Braudel, citada pelo JA, acrescentaria "preparar o futuro". Talvez assim não se cometessem tantos erros que nós e outros pagarão.
Para isso é preciso que a sociedade organizada faça muito mais, particularmente aquela que é paga por todos nós.