JN - 00h22m
Os factos oferecidos pelas eleições europeiais estão à vista de todos: o PS e José Sócrates apanharam uma tareia; a maioria absoluta nas legislativas deve ter falecido anteontem; Manuela Ferreira Leite (e não o PSD) rejuvenesceu; Paulo Rangel é a mais fresca e interessante figura surgida no espectro político-partidário português desde há muitos anos; os barões sociais-democratas que esperavam um deslize para atacar a jugular de Ferreira Leite vão ter que se manter sossegados no seu canto durante mais uns tempos; o CDS-PP voltou a erguer-se, quando já era dado como morto e (quase) enterrado; a CDU conquistou 70 mil votos; o Bloco de Esquerda teve um fantástico resultado; e, finalmente e mais importante do que tudo isto, os portugueses não ligaram patavina a estes eleições.
O retrato é mais famoso para uns do que para outros. E dele emergem duas realidades cujo significado merece alguma atenção. Uma é boa, outra nem por isso.
A boa realidade é esta: os resultados de anteontem trazem o PSD de volta para a discussão sobre quem deve liderar o próximo Governo. Há uns meses - melhor: há umas semanas -, Ferreira Leite estava acantonada e à mercê dos que anseiam substituí-la rapidamente e em força. Com um partido dilacerado por erros vários, a tarefa afigurava-se impossível para a ex-minsitra das Finanças. Não é que, de um dia para o outro, Ferreira Leite tenha passado do inferno para o céu. Os cacos do partido estão lá para ser colados, um por um. Sucede que, agora, legitimida pelo voto, a presidente do PSD tem outros meios para fortificar o partido, preparando-o assim para as duras lutas que aí vêm.
E isto só pode ser uma boa notícia. Porque, antes disto, a democracia portuguesa estava colocada perante uma inevitabilidade: viver sem hipótese de escolha entre, pelo menos, dois partidos. A pluralidade de opções só faz bem.
Segunda e mais delicada realidade. Portugal é, desde domingo, um país onde a extrema-esquerda (CDU e Bloco de Esquerda) vale mais de 20% dos votos do eleitorado. Isto deve assustar? Não, pelo menos para já. Mas, se a tendência se mantiver em próximos actos eleitorais, é caso para reflectirmos muito bem sobre o país que estamos a construir, ou queremos construir. Pode ser verdade que, sobretudo o Bloco, tenha beneficiado do voto fiel (gente jovem, urbana e "moderna", que discute nos blogues) e de muito voto de protesto. Normalmente, este último tipo de voto tende a fugir nas legislativas, por entender que há apenas dois partidos idóneos para governar: PS e PSD. Pode ser, mas também pode não ser...
Antevendo esta derradeira possibilidade, é crucial que os dirigentes bloquistas nos expliquem qual é, afinal, o seu modelo de sociedade, coisa de que fogem como o diabo foge da cruz. Não basta cavalgar as notícias, pedir aos ricos que paguem a crise e usar reiterados floreados de linguagem para impressionar os incautos.
2 comentários:
Mais um articulista que acha que 21% dos portugueses votaram na extrema esquerda. Será que também acha que o CDS é de extrema-direita.
Preconceitos continuam a envenenar a visão política. Agora já começam a pensar porque cerca de 150000 portugueses votaram em branco
Ao articulista só preocupa a "governabilidade" que esta se faça com proveito ou consentimento dos responsáveis da pouca vergonha que nos leva para o abismo económico, financeiro, não terá importância.
Parece que os eleitores começaram a cordar...os comissários políticos ainda não.
"Paulo Rangel é a mais fresca e interessante figura surgida no espectro político-partidário português desde há muitos anos".
É a melhor anedota que já li aqui desde há muitos meses. Esse tipo cinzentão, que o PSD nomeou para ir para Bruxelas porque estava a enterrar o partido na Assembleia da República?
Nunca ouviram aquela de que os maiores incompetentes são colocados no topo das empresas, para não poderem fazer grande mossa (uma vez que deixam de produzir)?
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