segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Despilfarro

Opinião






JN 00h26m

A Oposição pode sentar-se à mesa das negociações, até pode ter direito a prato e a talheres, mas não pode servir-se. Chama-se a isto negociar com aspas



1O Governo anunciou, com a solenidade dos grandes momentos, que iria abrir um período de negociações com todos os partidos de oposição, no sentido de ouvir opiniões e concertar posições, para que fosse possível desenhar um Orçamento de Estado capaz de passar na Assembleia da República.

Tal como se previa, foi junto do centro-direita que se encontrou o espaço natural de negociação - não foi à toa que se inventou a expressão bloco central, aqui e ali complementada com a ambígua expressão "de interesses".

Mas os partidos têm de aceitar uma condição essencial: a Oposição, neste caso o PSD e o CDS-PP, não pode andar por aí a reivindicar propostas que aumentem a despesa ou diminuam a receita. Como diz Teixeira dos Santos, em tom de ameaça, se insistirem em apresentar propostas diferentes das do Governo, vai ser preciso aumentar impostos aos portugueses.

Ou seja, a Oposição pode sentar-se à mesa das negociações, até pode ter direito a prato e a talheres, mas não pode servir-se. Chama-se a isto negociar com aspas.

2. A mudança de uma corrida de aviões, do Douro para o Tejo, gerou uma onda de inquietação. Ouviram-se e leram-se alguns excessos, amplificando um evento com menos importância do que a que lhe decidiram atribuir. Mas também se ouviram alguns alertas razoáveis ao apetite centralista, que açambarca tudo o que apareça na rede, incluindo peixe fora de prazo.

Verifica-se agora que, tal como a Red Bull Air Race, também o histerismo em volta da prova se transferiu do Porto para Lisboa. A vontade de ouvir roncar os motores sobre o estuário do Tejo é tanta que se abriram os cordões à bolsa pública com uma generosidade nunca antes vista.

Os milhões que a organização da prova antes tinha de batalhar junto de patrocinadores privados ficam generosamente garantidos à partida por entidades públicas. Ou seja, as fabulosas máquinas voadoras vão consumir "gasóleo" pago com o dinheiro dos contribuintes.

Os espanhóis têm uma palavra com uma sonoridade interessante para descrever este esbanjamento compulsivo: despilfarro.

Sem comentários: