quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Não se marque já o funeral...

Opinião







JN 00h31m

Anda por aí muito comentador encartado a passar certidões de óbito ao PSD, por tardar a reencontrar-se consigo próprio. Marcar o funeral com o corpo ainda quente parece, no mínimo, pouco avisado, tratando-se de um gato de sete vidas, mesmo acossado pelo "socratismo" que, embora na mó de cima, também já teve mais saúde.

Se a memória for convocada para o debate, relativizar-se-á o coma político que tantos diagnosticam. O PSD sofreu mil e um golpes na sua história e sobreviveu sempre. Só em 1979, viu partir mais de metade do grupo parlamentar, incluindo um ex-presidente (Sousa Franco) e um futuro (Rui Machete), discordantes do ataque ao Governo Mota Pinto, dissidente do partido que também seria, mais tarde, recebido como filho pródigo e alcandorado a líder. Por efeito desse episódio, o PSD encostou-se mais à Direita do que o seu código genético indiciaria. Não precisou, contudo, de recolher aos cuidados intensivos para recuperar. Logo em finais de 1979, como partido hegemónico da AD, chegaria pela primeira vez ao poder.

Esta incursão histórica, se não elide a crise que o PSD atravessa, recomenda pelo menos cautelas quanto à apreciação do seu fôlego enquanto alternativa política, mais a mais num cenário de maioria relativa.

O actual problema do PSD não é um, são três. O primeiro é, digamos assim, estrutural. Trata-se do "pecado original" da indefinição ideológica, porventura útil quando governa, mas que o vulnerabiliza na Oposição. O segundo prende-se com a "orfandade" em que ainda vive. "Matou" seis líderes desde que Cavaco Silva fez as malas e prepara as exéquias do sétimo. Nada que não tenha acontecido ao PS no período pós-Soares. Quem sucede a um grande líder político fica sempre fragilizado por essa condição, quanto mais não seja por se expor a comparações. Marcello Caetano, se fosse vivo, explicá-lo-ia.

Estes dois factores, conjugados, produzem o terceiro. Não sabendo bem "quem é" (até porque o PS lhe tem ocupado o território natural) e carente de líder forte, o PSD tende a balcanizar-se. O impulso é tanto mais forte quanto mais longínqua for a perspectiva de regresso ao poder. Estivesse o PS na eminência de atirar a toalha ao chão e não faltariam candidatos - se teriam êxito é outra questão. Assim, só Passos Coelho se chega à frente. Como tem idade para se submeter a um "estágio", não perde nada. E pode ir, paulatinamente, fazendo caminho interno.

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