Artigo de Opinião
De repente, parece que o País acordou para o problema da indisciplina nas escolas. De facto, se é verdade que sempre houve alunos indisciplinados, nunca, como hoje, a indisciplina nas escolas tomou a dimensão alarmante que se conhece. E não me parece que as medidas anunciadas, inclusivamente pelo Ministério Público, possam dar resposta a esta grave situação.
O problema da indisciplina nas escolas tem a ver com factores múltiplos. Há um mercado da violência nos audiovisuais, os problemas sociais do desemprego, a instabilidade profissional e a desestruturação da família também são geradores de violência.
Além destes factores exógenos, há os endógenos.
O modelo de escola que temos foi desenvolvido a partir da revolução industrial. As grandes escolas, com alunos provenientes de diferentes zonas, com problemas muito diversos e turmas com elevado número de discentes desenvolvem condições de conflito.
Precisamos de escolas de proximidade, mais pequenas e com outra arrumação do seu espaço. Depois, o professor tem sido desautorizado não só pelo Ministério da Educação que se tem revelado duma incompetência gritante, mas também pela forma, muitas vezes, abusiva com que as associações de pais interferem no trabalho dos professores.
Precisamos de repensar a forma de organizar a escola, a função do professor e o papel dos pais. A escola tem um papel social de formar cidadãos responsáveis e profissionais competentes e é urgente que lhe sejam dadas condições para poder desempenhar esse papel.
João Baptista Magalhães
(Professor aposentado)
2 comentários:
Caro Professor Baptista Magalhães,
Se me permite, os meus parabéns, quer pelo tema, quer pela forma como o aborda.
Com o qual eu, concordo absolutamente.
Para o cidadão, que estabelece prioridades na vida, na gestão do tempo e das suas tarefas, familiares, profissionais, sociais e outras, de cidadania por exemplo, e que o faz com empenho e natural preocupação, facilmente descobre que o tempo é finito, e que afinal de contas a vida, as horas e os dias, tem de ser geridos e vividos com regras e prioridades.
As regras começam pela capacidade (ou não) de rejeitar o superficial.
Como consequência dessa opção, surgem as situações que enuncia, e muito bem, os temas televisivos, de baixos conteúdos, onde os valor nacional é por exemplo, entre outros, o futebol e os heróis nacionais, são os jogadores (estrangeiros…) da selecção, ao invés de serem médicos, cientistas, cidadãos comuns, pais e mães exemplares, governantes e políticos não corruptos, etc.
Para aqueles cidadãos comuns (incógnitos) que dedicam toda uma vida, a servir por exemplo, causas comuns, e que trabalham gratuitamente em organismos focados na educação, na integração e protecção social, na qualificação profissional, até na ocupação de tempos livres, numa procura incessante de modelos ocupacionais e actividades disciplinarmente apelativas, susceptíveis de levar as crianças e jovens, a outros graus mais elevados de cognição, esses são expulsos pelas entidades oficiais, como por exemplo o faz o próprio presidente da Câmara Municipal de Oeiras (porque um munícipe, uma mãe, uma avó, um tio, se manifesta preocupado, por exemplo, bastará apenas isso…).
Sabendo-se ao longo de décadas, que muitos desses projectos de protecção e integração social, nunca são ajudados a prosseguir, porque, talvez, quem sabe, defendam valores e coisas que estão em oposição ao «sistema» e ao regime imposto, e não são populares (populismo demagógico) como por exemplo, a noite, os jogos de azar e os bares, o futebol, entre outros riscos, desportivos, sociais e económicos.
Por outro lado, vimos, muitos, talvez demasiados pais, que possuidores de (alguns) recursos financeiros, remetem os seus filhos e educandos, para organizações onde os possam manter (fechados) para eles ganharem tempo, o tempo e os dias que lhes faltam, no dever de acarinhar e educar, como progenitores, para desfrutarem dos tempos necessário à bola, e, aos gastos e vidas fúteis. Para tanto basta dispor de dinheiro, o resto outros farão, e os resultados são, crianças, cada dia mais problemáticas, materialmente saciadas, umas, outras não, passam fome. Exigentes e desinteressadas.
Outros agregados familiares sofrem pressões financeiras, confrontam-se com problemas de alcoolismo e droga, desprotegidas são depois as famílias com problemas económicos, desemprego, trabalho precário, falta de habitação, ou ainda, extremos e comportamentos desviantes, vidas paralelas, amantes. Casais desagregados, cujas principais vítimas são os filhos e outros familiares (país, avós, tios etc.).
Aqui as políticas educativas, económicas e de ordenamento territorial, tem tido um papel determinante (depois de 1974 e da entrada na União Europeia) como a falta de criação de mais empregos, baixa qualificação técnica, pouco desenvolvimento da indústria, que se tem reduzido, ou ainda a habitação, coisas que os jovens nascidos no concelho de Oeiras, nos últimos 50 anos, não tem tido. Uma situação que se agrava dia após dia, só os economicamente ricos, e vindos do exterior, tem acesso à habitação no concelho de Oeiras.
Por fim, muitos técnicos e responsáveis, desses ministérios e autarquias (Oeiras é um caso preocupante) assumem apenas as funções mínimas que lhes são exigíveis (trabalham aqui, não são de cá) servindo interesses políticos e económicos, e de tudo isso, em adição: família, sociedade, escola, bairro, etc., resultou aquilo que referiu, um modelo escolar incapaz e insuficiente, estruturalmente inadequado, cheio de massa humana «com alunos provenientes de diferentes zonas, com problemas muito diversos e turmas com elevado número de discentes desenvolvem condições de conflito» gerando problemas insustentáveis.
São afinal de contas problemas conhecidos, que ocorreram na Europa ao longo dos últimos 50 anos, e que os nossos autarcas e políticos incautos, desleixados, desinteressados, incapazes, não quiseram, preventivamente, prevenir e salvaguardar, prosseguindo os mesmos modelos, onde os resultados serão, inevitavelmente os mesmos ou piores, crescente descontrolo, e exclusão económica e social.
Joaquim Sena
Obrigado pelas suas considera�es.
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