sexta-feira, 22 de agosto de 2008

As praias de Oeiras

Banhistas frequentam praias onde o Governo desaconselha a prática balnear

22.08.2008, Joana Lança – Publico Local

Não são consideradas praias, mas os banhistas usam-nas como tal. O concelho de Oeiras promove a procura, o Ministério do Ambiente pede para não tomarem banho na zona

Apesar de não ser considerada praia pelos parâmetros da UE, as indicações são iguais às de qualquer outra praia
A Câmara Municipal de Oeiras recorda, em resposta por correio electrónico ao PÚBLICO, que a zona costeira, de Algés a Cascais, "é 'gerida' de forma partilhada pela APL, Comissão de Coordenação da Região de Lisboa e Vale do Tejo, Polícia Marítima e Capitania de Lisboa". Como parece evidente pelo que consta na placa, não há uma clara sintonia nesta tutela dividida.
O Ministério do Ambiente já chegou a considerar as praias de Santo Amaro e a de Paço de Arcos um perigo para os banhistas devido à má qualidade das águas, responsabilizando a câmara presidida por Isaltino Morais por não ter resolvido focos de contaminação de águas e por promover a procura dessas zonas (ver PÚBLICO de 5.06.08).

A placa é clara: "É desaconselhada a prática balnear neste lugar". Mas, a julgar pelo número de pessoas que estão nesta manhã de Agosto na praia de Santo Amaro de Oeiras, o conselho serve de pouco. É um dia de semana e o areal está concorrido. Há crianças, os adultos, os seus pais, e até um grupo vindo de um infantário. Está muito calor e são poucos os que não tentam um mergulho.
E o aviso colocado na placa? O que faz com que os banhistas o ignorem, tomando banho nas águas? Muitos não sabem, outros preferem não saber e há os que ficam com dúvidas.
Maria Rosa, de 52 anos, e a filha Ana Rita, de 25, de Porto Salvo, estiveram na água, mas não deram por nada. Também Maria da Graça, ou Anabela Trindade, ou António Santos ou... Muitos simplesmente não vêem a placa, o que faz com que António Simões, de 67 anos, se queixe: "A tabuleta deveria estar bem destacada, no paredão". Vem de Barcarena, mas foge da água, pois já viu "flutuações" ou seja, dejectos no mar/rio, num sítio do qual se afasta sempre.
Outros banhistas, mesmo sabendo que a água pode não ser boa para banhos, decidem não alterar a sua opção. Consciente do risco, Graça Pereira, de 54 anos, é de Lisboa e vem para Santo Amaro desde os 16. "Fica mais em caminho e acho que tanto faz mal esta água como outra, até já vi algo a boiar por aqui...", confessa.
O fácil acesso é um dos argumentos usados por alguns dos banhistas, tal como António Santos, de 44 anos, que acaba de sair do mar e diz que "compensa vir aqui, pois é mais perto". Ou Anabela Trindade, de 43 anos, que escolhe esta praia para "fugir às filas infernais da Ponte 25 de Abril". Já Ana Cristina, de 34 anos, tem medo da poluição, mas continua a frequentar a praia. Aliás, diz, "todos têm um pouco de medo". E todos estão aqui. Até um grupo inserido na iniciativa camarária Praia Acessível, que promove o acesso de deficientes através de cadeira anfíbia e uma passadeira.
Depois, há os mais atentos que lêem a placa e ficam confusos. É o caso de Luís Miguel, de 38 anos, na de Paço de Arcos. É que o cartaz colocado pela Administração do Porto de Lisboa (APL), numa das entradas da praia, contém dados de três entidades. O alerta "Atenção" aos utentes diz: "Praia não designada à Comissão Europeia por isso classificada como 'Zona de Recreio e Lazer', cuja qualidade da água balnear se encontra em estudo". Abaixo mostra os resultados de análises da Direcção Regional da Saúde que classificam a água como aceitável e boa (apesar de a última análise datar de há três semanas). E termina com "Zona de Recreio e Lazer" e "É desaconselhada a prática balnear neste lugar", frases do Ministério do Ambiente.
Ninguém se entende
Nada que tenha passado despercebido ao proprietário de um dos bares de uma destas praias, que pediu anonimato: "A câmara e as outras entidades não se entendem. Nós fazemos a nossa parte e temos os assuntos burocráticos em ordem, mas parece haver sempre alguma confusão entre a Câmara de Oeiras e as outras entidades", revela.
A autarquia admite que nos últimos anos tem dotado a zona de infra-estruturas várias, contribuindo para uma maior afluência de pessoas. E, justifica, a prática balnear não é proibida, mas apenas desaconselhada. "Aliás", continua o e-mail do serviço de imprensa, "não há razões para isso, uma vez que os resultados das análises dão informação clara a todos os cidadãos que as queiram consultar". Mais: "Sendo esta zona de recreio e lazer frequentada diariamente por milhares de banhistas, as análises têm revelado que a qualidade da água não compromete a saúde e segurança dos frequentadores. Os resultados têm oscilado entre qualidade 'aceitável' e 'boa'". Isto deve-se, explica, "ao facto de serem fortemente influenciadas pelo rio Tejo (são águas de transição entre rio e mar) e pelas ribeiras". Também António Matos, da Administração Regional de Saúde, considera que "mesmo sem serem consideradas zonas balneares, estas zonas têm um número considerável de pessoas, logo são necessárias as análises". Estas têm sido, em geral, referentes a duas ou três semanas anteriores à data em que estão afixadas, o que, devido às oscilações referidas, acabam por deixar em dúvidas os banhistas.
A câmara frisa ainda que, no concelho, "a classificação de praia apenas foi atribuída à Torre, embora a procura por banhistas e os usos que têm sido dados aos restantes areais sejam notórios". Já Joaquim Calé, do Ministério do Ambiente, defende que Caxias, Paço de Arcos e Santo Amaro não obedecem aos parâmetros exigidos pela UE para serem praias.

http://jornal.publico.clix.pt/default.asp?url=%2Fmain%2Easp%3Fc%3DA%26dt%3D20080822%26id%3D14153207

2 comentários:

Anónimo disse...

Tiazoca de Oeiras

Também vi este artigo no Público. Conheço desde 1942 as praias desde Algés até Santo Amaro de Oeiras: fui inaugurar a Praia Nova em P. Arcos.Dantes havia "golfinhos" a passarem ao largo de P.Arcos e todos diziam: as àguas estão boas; depois desapareceram e todos diziam: cuidado. Mas fui informada que os "golfinhos" estão a reaparecer.
Clotilde

Anónimo disse...

Amigos,

A SANEST fez um imenso esforço para controlar a poluição da foz do Tejo, mas o senhor Isaltino Morais, continua a mandar despejar os esgotos para as ribeiras da Laje, Barcarena e Jamor (digo esgotos dos SMAS de Oeiras) mais toda a outra contaminação que está a montante do concelho de Oeiras.

O IOMAF (que antes era PSD) anda há 23 anos a enganar o povão do concelho de Oeiras e quer continuar.

Eles querem é construir ..., e ganhar graveto, sem serem capazes de manter o que aqui herdámos (conclusão esses criminosos querem é colonizar Oeiras...) o resto que se lixe tudo, seja povo, seja ambiente, seja qualidade de vida.