um ponto é tudo
Frase terrível e magnífica aquela de abertura da comunicação ao País, ontem: "Não preciso de vos dizer..." Ui, aquilo anunciava o fim do subsídio de férias para o ano... Enganei-me: foi o subsídio de férias e o de Natal. E mais, e mais... Passos Coelho permitiu-se aquela frase porque logo que tomou posse disse que viajaria de avião em turística e de carro próprio para Massamá. Isto é, que está como nós, no mesmo barco da crise. Como bom português esqueci-me, depois, de lhes controlar a aplicação, mas como bom português gostei das medidas humildes. Sempre gostei de políticos que valorizam os exemplos pequeninos. Sobre as grandes catástrofes ontem anunciadas não me pronuncio - é tão fácil acreditar que elas são boas (porque inevitáveis) ou más (porque reproduzem a recessão), que não convenço ninguém. Eu gostava, mesmo, era de convencer Passos Coelho a não abandonar aquela ideia de nos convencer de que os governantes estão no nosso barco. Por exemplo, ele tem dois colegas no Governo, Miguel Macedo e José Cesário, com casa própria em Lisboa, mas que, por serem da província, recebem subsídio (1150 euros/mês) de alojamento. Tudo legal, eu sei, mas também os subsídios de férias e Natal de outros portugueses eram legais e acabaram. Coisinha pouca (poupavam-se 2300 euros/mês), eu sei, mas seria exemplar. Se Passos Coelho me ouvisse, eu comprometia-me, cada semana, a custo zero por causa da crise, a dar-lhe um bom exemplo.
3 comentários:
Excelente prosa de Ferreira Fernandes! Parabéns!
Passos Coelho é um funcionário bancário, tal como Sócrates o foi. Imaginar-se que ele está minimamente preocupado com a população portuguesa é pura ingenuidade.
Num artigo de Fernando Madrinha, no Jornal Expresso de 01-09-2007, este explicou claramente de que forma o Poder Financeiro controla os Estados e as populações:
a) Os poderes do Estado cedem cada vez mais espaço a poderes ocultos ou, em qualquer caso, não sujeitos ao escrutínio eleitoral.
b) A ponto de os próprios partidos políticos e os governos que deles emergem se tornarem suspeitos de agir, não em obediência ao interesse comum, mas a soldo de quem lhes paga as campanhas eleitorais.
c) Os bancos continuarão a engordar escandalosamente porque, afinal, todo o país, pessoas e empresas, trabalham para eles.
São todos iguais, ou antes, vão sendo uns ainda piores do que os outros e a mediocridade parece não ter fim.
Que ninguém tenha dúvidas de que estes cortes no subsidio de férias e de Natal não se vão restringir aos próximos dois anos. Eles vieram para ficar e no próximo anúncio de novas medidas, atenção, estes cortes vão ser estendidos ao sector privado.
Vivemos décadas a querer ser iguais em direitos e qualidade de vida aos paises desenvolvidos do norte da Europa, quisemos ter um pais coberto de auto-estradas de estádios de futebol e de grandes eventos, quisemos ser grandes, quisemos apoiar em força as camadas sociais mais desfavorecidas, quisemos dar subsidios a qualquer agente cultural que espirrava, quisemos ir ao encontro de todas as exigências que tinham eco na comunicação social, boas e más sem qualquer critério de sustentabilidade. Entretando a divida foi subindo e quem emprestava deixou de emprestar, porque ninguém é obrigado a emprestar e para não irmos à falência quem nos empresta impõe condições. A festa acabou, recebem aquilo que é sustentável receber. E aqui estamos, mais pobres, porque o pais nunca foi rico para a vida que levávamos, e nesta aterragem forçada onde gastamos aquilo que nos dão na nossa mão estendida de pedintes, alguém conhece algum pedinte que tenha subsidio de férias ou de Natal? Eu não.
Análio da Silva
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