quinta-feira, 15 de maio de 2008

PONTOS DE VISTA



É URGENTE INTERVIR NA CASA DA PESCA


Vivemos num país farisaico. No discurso político, tecemos loas à “perfeição” do presente e ao “ridente” futuro, omitindo a caótica realidade concreta. Para os incautos, até parece que habitamos um país de maravilha. Assim aturdidos, nem nos damos conta da “apagada e vil tristeza” em que estamos mergulhados. Os Romanos ainda tinham pão e circo; nós contentamo-nos só com o circo (e mau)…
Todos os anos, entre nós, de norte a sul, evocam-se, em várias circunstâncias e iniciativas, os valores e importância da preservação do património cultural. Ainda, recentemente, se assinalou o Dia Mundial dos Monumentos e Sítios. A torrente de acontecimentos até pode fazer supor que adoptamos e prezamos uma política que coloca em alta conta esta problemática. Puro engano!
Oeiras possui um único monumento nacional: palácio, jardim, casa da pesca e cascata do Taveira, no complexo da quinta do marquês de Pombal. Quer a classificação significar que o Estado considerou, em 1940, por decreto, o conjunto com a categoria de valor e importância nacionais. Transcendeu a esfera limitada concelhia! Trata-se de uma mais-valia nacional! Não é uma banalidade, algo que possa ser tido como menor. Pelo contrário, deve ser encarado com a dignidade e a atenção que merecem as grandes referências de um povo-nação.
E o que vemos? Degradação, inércia, alheamento!
Sem nos atermos nas restantes unidades do conjunto, é confrangedora a situação em que se encontra a casa da pesca, localizada na Estação Agronómica Nacional, sobranceira à espectacular cascata do Taveira. Desde há anos, sem que se tome a iniciativa de promover a consolidação e restauro deste monumento nacional, o seu tecto, decorado com pintura a fresco e em estuque, encontra-se em derrocada. Uma parte já ruiu, deixando um enorme rombo! E mais ruirá, se não se intervir…
A salvaguarda da integridade desta obra de arte não se compadece com o persistente alheamento dos poderes públicos. É o interesse nacional que está em causa! Aja, pois, o Estado como lhe compete (com a agravante de ser seu proprietário!), batalhe e interfira a Câmara de Oeiras em defesa do património concelhio como lhe cumpre ou apareça um mecenas, preocupado com a coisa pública, que se “compadeça” com esta desgraça e financie o seu restauro. Venha o dinheiro necessário para as inadiáveis obras do Estado, da Câmara ou de um cidadão, pouco importa. Tem é de se agir, e já! A situação não permite mais delongas nem a demissão de responsabilidades!

Jorge Miranda,
(jorge.o.miranda@gmail.com)

[Com os nossos agradecimentos ao autor e ao Jornal da Costa do Sol pela cedência do artigo]
[Foto: Oeiras Actual]

2 comentários:

Anónimo disse...

Caro Prof. Jorge Miranda,

Bem perto de si, em Barcarena, existe outro exemplo de degradação e saque, de um conjunto arquitectónico classificado ainda, ao tempo do Estado Novo, que consta em «Quintas e Palácios da região de Lisboa», refiro em concreto a Quinta da Nossa Senhora da Conceição, pertenceu outrora, a uma família de barcarenenses os Sinel de Cordes.

Dela foram retirados imensos valores, da capela e do palácio.
O imóvel esteve na posse de um cidadão belga, depois passou para uma fundação (que nada lhe fez) e hoje foi adquirida em 2007 pela Câmara Municipal de Oeiras.

Esperemos que não siga o caminho dos condomínios privados, e nela sejam feitas as adequadas melhorias, para que seja dignamente adaptada e requalificada, entregue aos interesses público do povo oeirense e de Barcarena, já gora, como espaço multidisciplinar de cultura e lazer (sem bares da noite claro …).

Não se nos afigura que, estejam nas prioridades deste edil, essas medidas que o amigo preconiza. Infelizmente isso não dá votos, e as coisas tem de ser populuxas, que interessem às massas humanas (em especial indigentes e outros …).

Joaquim Sena

Isabel Magalhães disse...

Caro Amigo Jorge Miranda;

"Para os incautos, até parece que habitamos um país de maravilha."

Pois eu tenho frequentemente a convicção de que existem dois países de nome Portugal; este onde vivo e pago imposto e assisto diariamente à incúria, compadrio, corrupção, esbanjamento da receita pública e a um fosso cada vez maior entre ricos e pobres, - isto para dizer o mínimo, claro! - e um outro Portugal, algures no cosmos, o tal PARAÍSO de que falam em geral os nossos governantes e em particular o Sr Pinto de Sousa.

O seu artigo, um excelente acordar de consciências.

[]

I.