JN 00h00m
Noticia o DN que, no domingo passado, entre as 10 da manhã e as 10 da noite, foram encontrados mortos em Lisboa e levados pela PSP para o Instituto de Medicina Legal nove velhos. Viviam quase todos sozinhos, abandonados por filhos e família, sobrevivendo com a ajuda de vizinhos ou da Misericórdia, e pelo menos um deles tinha-se, em desespero, enforcado.
Segundo a notícia, só as autópsias revelarão as "causas" dessas mortes. Só que nem os bisturis dos patologistas nem a química dos analistas podem alcançar no terrível e silencioso cancro social que ceifa hoje, em Portugal, a maior parte dos nossos velhos, a solidão. Expulsos da família e da sociedade, os velhos "atravessam o presente desculpando-se por não estarem já mais longe" e, amontoados em sórdidos "lares" e hospitais públicos ou entregues a si mesmos, trilham, desamparados, o resignado e último percurso "du lit à la fenêntre, puis du lit au fauteuil, puis du lit au lit" e às campas rasas dos cemitérios. Evitamos falar disso porque a principal doença de que morrem hoje os velhos é uma doença nossa, vergonhosa, que nos culpa a todos.
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