quinta-feira, 27 de março de 2008

LISBOA - Livro de Bordo


Praça de D. Pedro IV - 1944
CARLOS BOTELHO


“Que fazemos nós, Lisboa, os dois aqui
Na terra em que nascemos e eu nasci”

Perguntava Alexandre O’Neill, de ombro na ombreira, a olhar o Imperador Maximiliano do México que está na estátua do Rossio a fingir que é o Dom Pedro IV de Portugal.
Hoje da Igreja de Arroios já não voam anjos sobre os bêbados, mas há mistérios que continuam a animar a cidade e o Dom Pedro do Rossio é um deles. Verdade ou mentira, ainda se está para saber porque razão é que o escultor francês encarregado de figurar o nosso rei em bronze de primeiríssima não esteve com mais aquelas e despachou para Portugal um Maximiliano qualquer que tinha lá para um canto do atelier.
Enigmas destes comprometem a paisagem e, muito sinceramente, não só caem mal nas pessoas de sentimentos como são difíceis de desculpar à luz da inteligência. Os eruditos, então, ainda hoje perdem o sono com este parágrafo da nossa História e quando passam pela estátua do falso rei baixam os olhos num silêncio de pudor que só lhes fica bem.
O lisboeta corrente é que não se deixa embrulhar em desmandos desta espécie, o lisboeta corrente tem cá uns traquejos e um deixa-andar que lhe permitem dar a volta aos azares de estremeção e às complicações mais solenes. Se levanta a cabeça e vê o imperador transviado a escorrer verdete lá do alto, até é capaz de achar graça. Dom Pedro? Dom Maximiliano? Que se lixe, seja o Dom Pedro, porque não? Assim como assim, o país fica na mesma e o Rossio ainda ganha mais um caso para entreter.
O’Neill reagiria tal e qual, estou mesmo a vê-lo, um riso pronto, um bocejar, e ia à vida porque de monumentos errados e escultores de mão canhestra está a nossa capital a transbordar (...)

José Cardoso Pires

6 comentários:

Menina Idalina disse...

Partilhavam ambos, amargurados e quase embaraçados, essa tragédia portuguesa como dizia o O'Neill " tão mansa, tão absurda e comezinha" e simultâneamente tão genialmente lúcida onde se mistura o riso a indignação e onde nada nada fica igual.

M.A.R. disse...

Tanto quanto li, já não sei onde, o Maximiliano veio cá parar porque, tendo sido encomendado pelo México nunca o pagamento foi efectuado. Assim, quem sabe se em preço de saldo, a estátua mudou de rumo e o francês não perdeu tudo.

Isabel Magalhães disse...

M.A.R.;

Também ouvi essa versão e ainda outra; a de que as estátuas viajavam no mesmo barco e a do Imperador foi descarregada por engano em Lisboa.

O que é certo é que não há certezas, parece que nem se sabe quando e quem descobriu a troca.

No curso de Turismo contaram-me o episódio pela primeira vez, já não sei qual dos professores, se o Mello Moser do Património Monumental e Artístico, se o Tomaz Ribas da Etnografia e Folclore que dava uma aulas divertidíssimas e gostava de alargar a conversa a outras áreas, ou até mesmo outro, o que é certo é que ninguém sabia a resposta definitiva nem sequer os muitos Guias e Correios de Turismo com quem falei ao longo dos anos.

Resta a pergunta, em que pedestal no México estará o nosso D. Pedro IV?

Anónimo disse...

Isabel,

O n/D.Pedro IV não está em lado nenhum, pois nunca foi feito. O Maximiliano foi deposto e acabaram os reis e imperadores no México e a estátua ficou aí no n/ porto de Lisboa. Como andavam a pensar numa estátua para nós e era para pôr no alto optaram por esta.
Mas há quem diga que é fantasia pois o senhor lá no alto está vestido como o n/ rei.
Clotilde

Isabel Magalhães disse...

Clotilde;

A pergunta final era uma brincadeira. :)

Sabemos a história do Maximiliano... o que não sabemos, ao certo, é se chegou a haver duas estátuas e se houve troca. A sua versão também é conhecida, a da estátua ter sido descarregada e ficado no porto de Lisboa. O que eu gostaria de saber é a fonte da dessa informação.

Isabel Magalhães disse...

Se a estátua de D. Pedro IV nunca foi feita então quem está no Rossio é o Maximiliano de Habsbourg, Imperador do México. Quanto à figura e às roupas fala-se mesmo da grande semelhança física entre os dois.

De vez em quando persigo informações sobre o assunto e hoje encontrei algumas no 'Baixa Pombalina'. Até encontrei uma tela minha que lá publicaram.

E esta, heim?! :)))


http://baixapombalina.blogspot.com/2006/08/la-ciudad-que-navega-de-enrique-vila.html