Visão - 5 de Mar de 2009
Curiosa improbabilidade ideológica: grande partido da esquerda democrática convidou o Partido Comunista Chinês para o seu congresso
Julgo não estar longe da verdade se disser que os congressos partidários são das mais belas celebrações da democracia. Claro, a liberdade de expressão é bonita, e a possibilidade de eleger livremente um Governo é interessante, mas os congressos são um fim-de-semana prolongado de tolice democrática. Animam muito. Eis a razão pela qual custa compreender que estas excelentes festas de propaganda sejam constantemente marcadas por uma incivilidade tão violenta. Foi o caso do recente congresso do Partido Socialista. A imodéstia dos congressistas do PS é chocante, e a indelicadeza dos convidados dos outros partidos é igualmente deplorável. Para os primeiros, o congresso foi extremamente importante, por razões de tal modo evidentes que nunca são referidas; para os segundos, o congresso foi uma oportunidade perdida, no que se distinguiu, parece, dos outros congressos partidários, que ficaram conhecidos pela extraordinária utilidade e influência que tiveram na história de Portugal. Os últimos não tiveram uma palavra de agradecimento por terem sido convidados para a casa do PS - nem sequer aquelas frases de circunstância que qualquer convidado dirige ao anfitrião: nem um "esteve-se bem", nem um "obrigado por este bocadinho", nem uma menção simpática à qualidade dos croquetes - nada. Os primeiros não souberam temperar o entusiasmo, que é legítimo em quem acaba de organizar uma festa na qual Stevie Wonder e Dionne Warwick celebram o trabalho partidário de Vítor Constâncio, Jorge Sampaio e tantos outros, com um pouco de humildade, que também fica bem.
Julgo não estar longe da verdade se disser que os congressos partidários são das mais belas celebrações da democracia. Claro, a liberdade de expressão é bonita, e a possibilidade de eleger livremente um Governo é interessante, mas os congressos são um fim-de-semana prolongado de tolice democrática. Animam muito. Eis a razão pela qual custa compreender que estas excelentes festas de propaganda sejam constantemente marcadas por uma incivilidade tão violenta. Foi o caso do recente congresso do Partido Socialista. A imodéstia dos congressistas do PS é chocante, e a indelicadeza dos convidados dos outros partidos é igualmente deplorável. Para os primeiros, o congresso foi extremamente importante, por razões de tal modo evidentes que nunca são referidas; para os segundos, o congresso foi uma oportunidade perdida, no que se distinguiu, parece, dos outros congressos partidários, que ficaram conhecidos pela extraordinária utilidade e influência que tiveram na história de Portugal. Os últimos não tiveram uma palavra de agradecimento por terem sido convidados para a casa do PS - nem sequer aquelas frases de circunstância que qualquer convidado dirige ao anfitrião: nem um "esteve-se bem", nem um "obrigado por este bocadinho", nem uma menção simpática à qualidade dos croquetes - nada. Os primeiros não souberam temperar o entusiasmo, que é legítimo em quem acaba de organizar uma festa na qual Stevie Wonder e Dionne Warwick celebram o trabalho partidário de Vítor Constâncio, Jorge Sampaio e tantos outros, com um pouco de humildade, que também fica bem.
Tirando a descortesia, o que se reteve da reunião magna dos militantes do PS? Por um lado, uma curiosa improbabilidade ideológica: o grande partido da esquerda democrática convidou o Partido Comunista Chinês para o seu congresso. Já se sabia que o grande partido da esquerda democrática era, na melhor das hipóteses, do centro relativamente autoritário. Mas não era público que apreciava a companhia da esquerda ditatorial.
Por outro lado, deve sublinhar-se a coragem de José Sócrates, quando pediu que fosse o povo, através do voto, a julgar o caso Freeport. É uma proposta ousada na medida em que os casos de justiça costumam ser julgados em tribunal. E arriscada porque, até hoje, nenhum tribunal condenou Sócrates, mas eu conheço muita gente do povo que acha que ele tem pinta de ser culpado.
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