domingo, 18 de outubro de 2009

Mário Crespo

Opinião







Abracadabra, piff, pum!
JN 2009-10-13

Nem JK Rawling conseguiria escrever uma crónica, sem magia negra, a dizer que o PSD de Ferreira Leite ganhou as eleições. Nem o mais refinado dos professores de Harry Potter tem filtro mágico ou reza de quebranto que transforme a derrotada Manuela Ferreira Leite numa Thatcher renascida e vitoriosa ou numa abundante Angela Merkel, que qual Valquíria sorridente, é capaz de com os seus encantos e ousadia seduzir para a ressurreição guerreiros abatidos em combates políticos passados.

Ferreira Leite não tem esse dom porque ela é a feiticeira das derrotas presentes. Antes destes malogros eleitorais, ainda foi a Bona tentar inspirar-se nas glórias de Merkel mas a chanceler, se se recordam, não quis ser retratada ao lado da líder da social-democracia portuguesa. Tenho de boa fonte que a distante rainha germânica, crente como todos eles na mitologia wagneriana, temeu que Manuela Ferreira Leite trouxesse para a social-democracia alemã o mau-olhado que tinha feito cair sobre a portuguesa.

Porque não há poção milagrosa que dê coerência ao discurso político quando não existe discurso. Não há amuleto que solte as grilhetas do insucesso perpétuo quando os prisioneiros são incorrigíveis repetentes que se agarram a uma cartilha de vacuidades e às frases soltas do Livro de Todos os Absurdos, composto há décadas por um mago louco que ouve escutas e não escuta o que ouve. Não há beijo de príncipe encantado que transforme sapos em donzelas inspiradoras porque os sapos são muitos e saltitam à volta de uma donzela que não inspira e que só vagamente respira. E que ainda por cima perde eleições. Sucessivas. Por isso, a mensagem dos ossos benzidos, pedras mágicas, contas milagreiras, entranhas frescas, folhas de chá e das listas finais do Secretariado Técnico de Assuntos do Processo Eleitoral é: deixem a bruxaria para trás e assumam que não se pode dizer que a nível nacional se ganham eleições autárquicas perdendo em Lisboa.

Assumam e partam para outra. Ou para outro. Não é altura de contar pelos dedos que mantêm juntas de freguesia em Tordezelo, Trancão, Boas Raparigas ou Mata Cães e que têm a influência intocada nos corpos directivos do Atlético da Murtosa. Estas eleições perderam! Já tinham perdido as outras. E vão perder mais se não esconjurarem os amaldiçoados. E, que diabo, há gente no PSD que não está metida nem no Freeport nem no BPN e que ainda por cima ganha eleições contra tudo e todos. Os eloquentes 70% de Luís Filipe Meneses, a solidez de Rui Rio, a persistência de Macário Correia, o empenho de Passos Coelho ou as garantias reafirmadas de Fernando Seara são uma plataforma mais que suficiente para recriar as alternativas políticas de que o país necessita. É essencial não perder tempo. Governar um país é acto colectivo e a colectividade já se pronunciou. Mais do que dizer o que queria, disse em duas eleições o que não queria. Entre os vetos nacionais está a gestão do partido da alternativa que, no presente, criou um irrespirável ambiente de asfixia política, e que a continuar assim desaparecerá no futuro sufocado entre as manápulas de uma polícia de costumes, abrupta e impiedosa, e esfacelado por um último grupo de zelotes apedrajantes que estão sempre ao serviço de qualquer coisa, desde que constem das listas. Este pode ser o primeiro dia do resto da vida do PSD. Ou pode ser o último. A decisão agora já não é dos eleitores. É dos militantes.

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