Por Vasco Pulido Valente
Público Sexta-Feira 23/10/2009
O problema com o furor que provocaram os comentários de Saramago sobre a Bíblia (mais precisamente sobre o Antigo Testamento) é que não devia ter existido furor algum. Saramago não disse mais do que se dizia nas folhas anticlericais do século XIX ou nas tabernas republicanas no tempo de Afonso Costa. São ideias de trolha ou de tipógrafo semianalfabeto, zangado com os padres por razões de política e de inveja. Já não vêm a propósito. Claro que Saramago tem 80 e tal anos, coisa que não costuma acompanhar uma cabeça clara, e que, ainda por cima, não estudou o que devia estudar, muito provavelmente contra a vontade dele. Mas, se há desculpa para Saramago, não há desculpa para o país, que se resolveu escandalizar inutilmente com meia dúzia de patetices.
Claro que Saramago ganhou o Prémio Nobel, como vários "camaradas" que não valiam nada, e vendeu milhões de livros, como muita gente acéfala e feliz que não sabia, ou sabe, distinguir a mão esquerda da mão direita. E claro que o saloiice portuguesa delirou com a façanha. Só que daí não se segue que seja obrigatório levar a criatura a sério. Não assiste a Saramago a mais remota autoridade para dar a sua opinião sobre a Bíblia ou sobre qualquer outro assunto, excepto sobre os produtos que ele fabrica, à maneira latino-americana, de acordo com o tradição epigonal indígena. Depois do que fez no PREC, Saramago está mesmo entre as pessoas que nenhum indivíduo inteligente em princípio ouve.
O regime de liberdade, aliás relativa, em que vivemos permite ao primeiro transeunte evacuar o espírito de toda a espécie de tralha. É um privilégio que devemos intransigentemente defender. O Estado autoriza Saramago a contribuir para o dislate nacional, mas não encomendou a ninguém? principalmente a dignatários da Igreja como o bispo do Porto - a tarefa de honrar o dislate com a sua preocupação e a sua crítica. Nem por caridade cristã. D. Manuel Clemente conhece com certeza a dificuldade de explicar a mediocridade a um medíocre e a impossibilidade prática de suprir, sobre o tarde, certos dotes de nascença e de educação. O que, finalmente, espanta neste ridículo episódio não é Saramago, de quem - suponho - não se esperava melhor. É a extraordinária importância que lhe deram criaturas com bom senso e a escolaridade obrigatória.
6 comentários:
Que pena a Santa Inquisição já não ter o poder de enviar o Saramago e outros herejes para a fogueira...
A Bíblia é, segundo se diz, o livro mais vendido no mundo. Deve ser, no entanto, só para ter na mesa-de-cabeceira e para levar debaixo do braço na missa domingueira, pois pouca gente a lê.
Eu até percebo. Aquilo é um montão de contradições e de factos inverosímeis que foram escritos para as mentes da época e que não têm cabimento à luz dos conhecimentos actuais.
Para facilitar a vida aos eventuais interessados em conferir as afirmações do Saramago, aconselho a consulta do seguinte endereço:
http://www.bibliadocetico.net/
A dar de cotovelo e a mediocridade continua a ser cultivada por eeste país.
Por alguma razão a Igreja continua a caminhar pelos caminhos da ignorância das realidades que aenvolvem - que o seu "deus" lhes perdoe!
Quem está há muito tempo senil è VPV. Destila inveja, problemas mal-resolvidos, preconceito de classe, espuma quando perora. Dá pena.
Será que VPV viu ontem um debate Histórico na SIC entre dois gigantes? O simples, claro e sapiente Pe. Carreira das Neves, certamente o maior biblista católico (para mim com Frei Bento Domingos),com um homem de provecta e lúcida idade (tomara VPV). Quantos portugueses terão visto tal (ou mudaram para os Gatos, de que gosto mas não troquei). Aquilo foi uma catarse sobre 4000 anos de misérias e grandezas de que somos feitos. Humildemente Saramago aceitou ser...Ignorante (com I, digo eu). Já VPV julga-se acima, porque ignorante (com i, para não lhe chamar outra coisa). VPV apenas vomita aquilo de que acusa os outros de "evacuar" (parafraseando a metáfora porque quero ser educado).
Fernando Lopes
Deus: assunto perpétuo das especulações humanas mesmo quando se Lhe diz " Abomino-Te, não existes!". Desta maneira também se expõe um sistema completo de teologia mesmo que contrário ao daquele que, com coração contrito, se ajoelha e diz " Adoro-Te!". O 1º lança a blasfémia, o 2º ora, mas ambos o afirmam, cada um à sua maneira. O ateísmo não passa disso, a zanga com o Deus que nos desilude
Saramago tem razão!
por João Pedro Martins, Sociólogo das Religiões
Ainda não li Caim e por isso não falo de um livro que não conheço, mas vi e ouvi as declarações do autor: “O Deus da Bíblia não é de fiar: é vingativo e má pessoa.”
Saramago traçou dois objectivos ao criar esta polémica: espetar mais um prego na crucificação da Igreja Católica e através da agressão suscitar o debate e vender a sua obra.
Saramago conseguiu juntar o útil ao agradável, mas houve uma variável que o consagrado Nobel da Literatura esqueceu. O plano de Saramago não é perfeito e o escritor pode ter caído numa cilada de Deus.
A má pessoa imaginária que Saramago persegue e teima em negar preparou uma vingança ao escritor e usou o velho Nobel para lançar o debate, não sobre Caim mas sobre a Bíblia, e trazer novos leitores para o livro escrito por um Deus que o escritor diz ser vingativo.
Ao inaugurar a sua nova piscina literária baptizando-a de Caim, Saramago anunciou aos nadadores da literatura um oceano infinito chamado Bíblia. E ninguém vai querer um patinho de borracha ou uma bóia numa piscina com cloro quando pode pescar e mergulhar num oceano de águas profundas.
A mensagem de Saramago revelou que o escritor pode ser apenas o mensageiro para abrir as páginas de um livro esquecido.
A estranha luta de Saramago com um Deus que não existe não é uma demência intelectual. É a revolta de um homem que desconhece que na sua procura por um divino que nunca descobriu foi encontrado por um Deus que o conhece e o ama profundamente.
Saramago é inteligente. Não perde tempo em conversas banais com o eurodeputado Mário David que apelou à sua renúncia da nacionalidade portuguesa. Não tem medo de afrontar a religião maioritária e de afirmar que já não há fogueiras para queimar os hereges. Mas quando fala de Deus e da Bíblia o verniz estala. Inquieta-se. Revolta-se. Sente-se perturbado. Quer vingança!
Ninguém inteligente luta com a fantasia alheia. Fazer um campanha contra alguém que não existe é uma perda de tempo e Saramago sabe que o tempo que lhe resta é pouco para ser esbanjado em palermices de religiosos.
Saramago tem razão! Mas não tem fé! E a razão sem fé é como a justiça cega.
O que inquieta Saramago é a sua lógica contraditória. Como é que um Deus que só existe na cabeça das pessoas as influencia tanto?
“A neve não existe pois nunca a vi nem tive dela qualquer sinal”, é assim que se expressa a lógica de um ateu tropical pouco viajado. Mas Saramago tem viajado pelas Escrituras e já viu neve, mas tem medo de lhe tocar e de ser tocado.
Só falta mesmo olhar para cima e ver a luz do Deus que lhe brilha no seu pensamento.
A estratégia de Saramago transformou-o no maior publicitário português da Bíblia. Mesmo que Deus não exista ele conseguiu fazer o que muitos pregadores tentaram mas raramente fizeram, trazer os desiludidos com a religião de volta às Escrituras.
Obrigado Saramago.
Estes sociólogos não se enxergam! Armados em cientistas, transformando um vulgar ateu em propagandista da Bíblia.Agora um imaginanando uma armadilha divina ao pobre do Saramago.
A Bíblia, um livro esquecido, agora ressuscitado pelo pobre do escritor!
Depois da cabotinice ateia saramaguista, só faltava a presunção balofa dos agnósticos de trazer por casa portuguesa. Esta gente anda mesmo noutro planeta...
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