Constâncio é a ‘rainha’ de Sócrates para enfrentar o xadrez da crise
Um dia destes, perante a alta dos preços dos bens essenciais, o governador do Banco de Portugal, Vítor Constâncio, vai provavelmente dizer ao país se os agricultores devem semear milho, soja ou qualquer outro cereal que considere mais adequado face à crise. Isto, depois de ter vindo dizer, esta semana, no próprio Parlamento, que perante a crise dos combustíveis o país deve considerar a hipótese de desenvolver energia nuclear.
É, de facto, insólito que o governador de um banco central venha dizer que opções sectoriais de governação devem fazer-se. Lembro-me de Constâncio me dizer que não tinha de se pronunciar sobre as opções em concreto, até em sede de política fiscal – matéria que, por natureza, está no cerne dos temas sobre os quais o Banco de Portugal tem de debruçar-se. é certo que Vítor Constâncio não revelou a sua posição sobre o nuclear. Mas, com toda a franqueza, foi algo de descabido. Por ser quem foi, com as funções que exerce.
Será que o senhor Trichet vai fazer o mesmo na próxima conferência de imprensa do Banco Central Europeu? Vamos ter o Conselho dos Governadores a funcionar em paralelo ao Conselho Europeu de chefes de Estado e de Governo? Estarei a exagerar? Um pouco. Mas isto é tão insólito que me leva a uma conclusão idêntica àquela a que cheguei, na semana passada, em relação ao Presidente da República e Manuela Ferreira Leite em matéria de investimentos públicos.
Quero crer que Vítor Constâncio, mais uma vez, disse o que não desagrada ao Governo. Aqui é ele a ‘rainha’ de José Sócrates para enfrentar o jogo de xadrez da crise económica e social, cuja complexidade aumentou tanto.
A verdade é que José Sócrates e Manuel Pinho nunca foram convictos a rejeitar esta forma de energia. E Constâncio abriu ao Governo a porta de um debate que o Executivo quer que seja feito.
Sem comentários:
Enviar um comentário