terça-feira, 12 de maio de 2009

Qualquer semelhança com a realidade é pura ficção

Era uma manhã fresca, lavada pela chuva de fim de Maio, essa indefinida estação em que não podemos deixar os agasalhos, mas por outro lado, estes são muito quentes para a brisa que sopra do lado do rio.
Apesar da vacuidade da estação e da excepcionalidade da ocasião, Manuela tinha sido, desde a infância até aos confins da meia idade, educada por uns pais extremosos que tentaram mantê-la ao abrigo das mais duras realidades da vida. Até o casamento com o Tino tinha sido escolhido com o maior rigor.
É verdade que o casamento sempre esteve recheado de pequenas arrelias e grandes discórdias e agora, que tinha de rever o passado, instalava-se a perfeita noção que os seus sentimentos ainda estavam eriçados.
Longe estavam os tempo do "dois cavalos" a cair de podre e do pechiché do quarto sempre desarrumado com notas dispersas. Até na gaveta das meias se escondiam maços de notas, enroladas e atadas com um elástico.
Longe estava o tempo em que tinham sido felizes.
Quando ele começa a despachar a altas horas e a mandar faxes às três da manhã, tudo por causa do dever, a família tinha ficado descurada .
Antes de ter tempo de pensar o que haveria de dizer achou a ideia elegante e repetiu-a como uma epifânia quando foi questionada.
Um fiel amigo do Tino, sempre oportuno, repete-a no "Correio de Oeiras" e dá-lhe o devido destaque " Descurou a família em prol da Câmara".
Quando leu a notícia Tino pensou: "Ela tem razão! Não devia ter posto o dinheiro na gaveta das meias."

1 comentário:

Anónimo disse...

Querida Tiazoca de Oeiras

Estais imparável!