Era uma manhã fresca, lavada pela chuva de fim de Maio, essa indefinida estação em que não podemos deixar os agasalhos, mas por outro lado, estes são muito quentes para a brisa que sopra do lado do rio.
Apesar da vacuidade da estação e da excepcionalidade da ocasião, Manuela tinha sido, desde a infância até aos confins da meia idade, educada por uns pais extremosos que tentaram mantê-la ao abrigo das mais duras realidades da vida. Até o casamento com o Tino tinha sido escolhido com o maior rigor.
É verdade que o casamento sempre esteve recheado de pequenas arrelias e grandes discórdias e agora, que tinha de rever o passado, instalava-se a perfeita noção que os seus sentimentos ainda estavam eriçados.
Longe estavam os tempo do "dois cavalos" a cair de podre e do pechiché do quarto sempre desarrumado com notas dispersas. Até na gaveta das meias se escondiam maços de notas, enroladas e atadas com um elástico.
Longe estava o tempo em que tinham sido felizes.
Quando ele começa a despachar a altas horas e a mandar faxes às três da manhã, tudo por causa do dever, a família tinha ficado descurada .
Antes de ter tempo de pensar o que haveria de dizer achou a ideia elegante e repetiu-a como uma epifânia quando foi questionada.
Um fiel amigo do Tino, sempre oportuno, repete-a no "Correio de Oeiras" e dá-lhe o devido destaque " Descurou a família em prol da Câmara".
Quando leu a notícia Tino pensou: "Ela tem razão! Não devia ter posto o dinheiro na gaveta das meias."
1 comentário:
Querida Tiazoca de Oeiras
Estais imparável!
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