15 Dezembro 2009 - 09h00
Causas e consequências
Uns dizem que o Governo quer precipitar eleições em busca de uma nova – e altamente improvável – maioria absoluta. Outros garantem, com igual solenidade, que o PSD deseja ir a votos antes que surja uma nova liderança no partido.
E a verdade é que, entre estas duas aliciantes teses, o país parece viver em plena campanha eleitoral, um mês e meio depois de ter votado nas legislativas. De dia para dia os insultos sobem de tom, as "palhaçadas" na Assembleia da República sucedem-se, o dramatismo ganha contornos insuportáveis, com o Governo em guerra com uma Assembleia que se tornou pródiga em iniciativas parlamentares e em "coligações" que, para além de "negativas", o primeiro-ministro considera também "estranhíssimas". No Partido Socialista houve até quem apelasse ao Presidente da República para que este, através da sua palavra – que os mesmos, curiosamente, consideram desprestigiada – pusesse as instituições na ordem para que o Governo pudesse exercer a sua actividade em paz e sem contrariedades de maior.
E, no entanto, por trás de todo este alarido, no sossego dos gabinetes, os acordos essenciais não deixam de se fazer entre o PS e o PSD. Há uns tempos, numa pirueta inesperada, os sociais-democratas ajudaram prestimosamente o Governo a resolver o imbróglio que tinha sido criado com os professores. E, na semana passada, no meio de grande algazarra pública, soube-se que o Orçamento Rectificativo tinha sido negociado entre o Governo e o dr. Jardim por interposto PSD – e à custa, diga-se, de passagem do dinheiro dos contribuintes, que vão continuar a pagar alegremente a factura do endividamento da Madeira. Aquilo que o ministro das Finanças, no plenário, considerou um verdadeiro "regabofe" foi sancionado, com o devido recato, pelo seu colega dos Assuntos Parlamentares.
O que estes acordos mostram – e o Orçamento do Estado se encarregará de confirmar – é que, apesar da diversidade das teses e da balbúrdia que por aí reina, nem o PS nem o PSD se encontram em condições de ir a votos nos próximos tempos. O engº Sócrates, que entretanto parece ter desistido de governar, só tem a apresentar aos portugueses um rol de desgraças sem paralelo e da sua exclusiva responsabilidade. O PSD, por seu lado, não chega sequer a ser uma alternativa: entretido com as suas intrigas domésticas, sem uma liderança de facto e sem propostas que se conheçam, o partido acabou por se transformar numa espécie de válvula de segurança do engº Sócrates. Se o PS está – e vai continuar a estar – no Governo, ao PSD o deve.
Constança Cunha e Sá, Jornalista
Causas e consequências
Uns dizem que o Governo quer precipitar eleições em busca de uma nova – e altamente improvável – maioria absoluta. Outros garantem, com igual solenidade, que o PSD deseja ir a votos antes que surja uma nova liderança no partido.
E a verdade é que, entre estas duas aliciantes teses, o país parece viver em plena campanha eleitoral, um mês e meio depois de ter votado nas legislativas. De dia para dia os insultos sobem de tom, as "palhaçadas" na Assembleia da República sucedem-se, o dramatismo ganha contornos insuportáveis, com o Governo em guerra com uma Assembleia que se tornou pródiga em iniciativas parlamentares e em "coligações" que, para além de "negativas", o primeiro-ministro considera também "estranhíssimas". No Partido Socialista houve até quem apelasse ao Presidente da República para que este, através da sua palavra – que os mesmos, curiosamente, consideram desprestigiada – pusesse as instituições na ordem para que o Governo pudesse exercer a sua actividade em paz e sem contrariedades de maior.
E, no entanto, por trás de todo este alarido, no sossego dos gabinetes, os acordos essenciais não deixam de se fazer entre o PS e o PSD. Há uns tempos, numa pirueta inesperada, os sociais-democratas ajudaram prestimosamente o Governo a resolver o imbróglio que tinha sido criado com os professores. E, na semana passada, no meio de grande algazarra pública, soube-se que o Orçamento Rectificativo tinha sido negociado entre o Governo e o dr. Jardim por interposto PSD – e à custa, diga-se, de passagem do dinheiro dos contribuintes, que vão continuar a pagar alegremente a factura do endividamento da Madeira. Aquilo que o ministro das Finanças, no plenário, considerou um verdadeiro "regabofe" foi sancionado, com o devido recato, pelo seu colega dos Assuntos Parlamentares.
O que estes acordos mostram – e o Orçamento do Estado se encarregará de confirmar – é que, apesar da diversidade das teses e da balbúrdia que por aí reina, nem o PS nem o PSD se encontram em condições de ir a votos nos próximos tempos. O engº Sócrates, que entretanto parece ter desistido de governar, só tem a apresentar aos portugueses um rol de desgraças sem paralelo e da sua exclusiva responsabilidade. O PSD, por seu lado, não chega sequer a ser uma alternativa: entretido com as suas intrigas domésticas, sem uma liderança de facto e sem propostas que se conheçam, o partido acabou por se transformar numa espécie de válvula de segurança do engº Sócrates. Se o PS está – e vai continuar a estar – no Governo, ao PSD o deve.
Constança Cunha e Sá, Jornalista
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