segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

O palhaço

Opinião








JN - 00h30m

O palhaço compra empresas de alta tecnologia em Puerto Rico por milhões, vende-as em Marrocos por uma caixa de robalos e fica com o troco. E diz que não fez nada. O palhaço compra acções não cotadas e num ano consegue que rendam 147,5 por cento. E acha bem. O palhaço escuta as conversas dos outros e diz que está a ser escutado. O palhaço é um mentiroso. O palhaço quer sempre maiorias. Absolutas. O palhaço é absoluto. O palhaço é quem nos faz abster. Ou votar em branco. Ou escrever no boletim de voto que não gostamos de palhaços. O palhaço coloca notícias nos jornais. O palhaço torna-nos descrentes. Um palhaço é igual a outro palhaço. E a outro. E são iguais entre si. O palhaço mete medo. Porque está em todo o lado. E ataca sempre que pode. E ataca sempre que o mandam. Sempre às escondidas. Seja a dar pontapés nas costas de agricultores de milho transgénico seja a desviar as atenções para os ruídos de fundo. Seja a instaurar processos. Seja a arquivar processos. Porque o palhaço é só ruído de fundo. Pagam-lhe para ser isso com fundos públicos. E ele vende-se por isso. Por qualquer preço. O palhaço é cobarde. É um cobarde impiedoso. É sempre desalmado quando espuma ofensas ou quando tapa a cara e ataca agricultores. Depois diz que não fez nada. Ou pede desculpa. O palhaço não tem vergonha. O palhaço está em comissões que tiram conclusões. Depois diz que não concluiu. E esconde-se atrás dos outros vociferando insultos. O palhaço porta-se como um labrego no Parlamento, como um boçal nos conselhos de administração e é grosseiro nas entrevistas. O palhaço está nas escolas a ensinar palhaçadas. E nos tribunais. Também. O palhaço não tem género. Por isso, para ele, o género não conta. Tem o género que o mandam ter. Ou que lhe convém. Por isso pode casar com qualquer género. E fingir que tem género. Ou que não o tem. O palhaço faz mal orçamentos. E depois rectifica-os. E diz que não dá dinheiro para desvarios. E depois dá. Porque o mandaram dar. E o palhaço cumpre. E o palhaço nacionaliza bancos e fica com o dinheiro dos depositantes. Mas deixa depositantes na rua. Sem dinheiro. A fazerem figura de palhaços pobres. O palhaço rouba. Dinheiro público. E quando se vê que roubou, quer que se diga que não roubou. Quer que se finja que não se viu nada.

Depois diz que quem viu o insulta. Porque viu o que não devia ver.

O palhaço é ruído de fundo que há-de acabar como todo o mal. Mas antes ainda vai viabilizar orçamentos e centros comerciais em cima de reservas da natureza, ocupar bancos e construir comboios que ninguém quer. Vai destruir estádios que construiu e que afinal ninguém queria. E vai fazer muito barulho com as suas pandeiretas digitais saracoteando-se em palhaçadas por comissões parlamentares, comarcas, ordens, jornais, gabinetes e presidências, conselhos e igrejas, escolas e asilos, roubando e violando porque acha que o pode fazer. Porque acha que é regimental e normal agredir violar e roubar.

E com isto o palhaço tem vindo a crescer e a ocupar espaço e a perder cada vez mais vergonha. O palhaço é inimputável. Porque não lhe tem acontecido nada desde que conseguiu uma passagem administrativa ou aprendeu o inglês dos técnicos e se tornou político. Este é o país do palhaço. Nós é que estamos a mais. E continuaremos a mais enquanto o deixarmos cá estar. A escolha é simples.

Ou nós, ou o palhaço

12 comentários:

Anónimo disse...

Esta escorrêngia do caciquismo e do mofo, tão do agrado do Oeiras Local tem os seus leitores e apaniguados próprios que são fruto duma letargia mental imprópria dos dias de hoje. A alteração da actual realidade e a sua transformação não se produz com este tipo de mentalidade apalhaçada dos tempos das troups da cabrinha e do macaco e do som esfarrapado do trompete amolgado e da luz produzida com os velhos candeiros de carboreto malcheirosos

Anónimo disse...

Isto ultrapassa a liberdade de imprensa e muito - é ofensa reles e boçal. Espero que Mário Crespo seja devidamente processado. E punido.

Anónimo disse...

Precisa-se de mais jornalistas como o Crespo .

Os 3 Mosqueteiros de Oeiras disse...

Punido, ó anónimo das 10:10. DEVIDAMENTE PUNIDO! Fuzilado ou, melhor, torturá-lo com requintes de malvadez!Também é um processo, não acha, meu caro?
Crespo apenas se esqueceu de mais alguns palhaços na sua crítica verrinosa e pessimista: aqueles que não estão no palco mas são pagos para aplaudir os do palco, exigindo, como os espectadores do circo romano, mais disparates apenas porque são modernos e porque, ao fim e ao cabo, se rumina tudo.

Anónimo disse...

MÁRIO CRESPO
Jornal de Notícias 25.11.2009

O horror do vazio

Depois de em Outubro ter morto o casamento gay no parlamento, José Sócrates,
secretário-geral do Partido Socialista, assume-se como porta-estandarte de
uma parada de costumes onde quer arregimentar todo o partido.
Almeida Santos, o presidente do PS, coloca-se ao seu lado e propõe que se
discuta ao mesmo tempo a eutanásia.
Duas propostas que em comum têm a ausência de vida.
A união desejada por Sócrates, por muitas voltas que se lhe dê, é
biologicamente estéril.
A eutanásia preconizada por Almeida Santos é uma proposta de morte.
No meio das ideias dos mais altos responsáveis do Partido Socialista fica o
vazio absoluto, fica "a morte do sentido de tudo" dos Niilistas de
Nitezsche.
A discussão entre uma unidade matrimonial que não contempla a continuidade
da vida e uma prática de morte, é um enunciar de vários nadas descritos
entre um casamento amputado da sua consequência natural e o fim opcional da
vida legalmente encomendado.
Sócrates e Santos não querem discutir meios de cuidar da vida (que era o que
se impunha nesta crise).
Propõem a ausência de vida num lado e processos de acabar com ela noutro.
Assustador, este Mundo politicamente correcto, mas vazio de existência, que
o presidente e o secretário-geral do Partido Socialista querem pôr à
consideração de Portugal.
Um sombrio universo em que se destrói a identidade específica do único
mecanismo na sociedade organizada que protege a procriação, e se institui a
legalidade da destruição da vida.
O resultado das duas dinâmicas, um "casamento" nunca reprodutivo e o
facilitismo da morte-na-hora, é o fim absoluto que começa por negar a
possibilidade de existência e acaba recusando a continuação da existência.
Que soturno pesadelo este com que Almeida Santos e José Sócrates sonham onde
não se nasce e se legisla para morrer.
Já escrevi nesta coluna que a ampliação do casamento às uniões homossexuais
é um conceito que se vai anulando à medida que se discute porque cai nas
suas incongruências e paradoxos.
O casamento é o mais milenar dos institutos, concebido e defendido em todas
as sociedades para ter os dois géneros da espécie em presença (até Francisco
Louçã na sua bucólica metáfora congressional falou do "casal" de coelhinhos
como a entidade capaz de se reproduzir).
E saiu-lhe isso (contrariando a retórica partidária) porque é um facto
insofismável que o casamento é o mecanismo continuador das sociedades e só
pode ser encarado como tal com a presença dos dois géneros da espécie.
Sem isso não faz sentido.
Tudo o mais pode ser devidamente contratualizado para dar todos os
garantismos necessários e justos a outros tipos de uniões que não podem ser
um "casamento" porque não são o "acasalamento" tão apropriadamente descrito
por Louçã.
E claro que há ainda o gritante oportunismo político destas opções pelo
"liberalismo moral" como lhe chamou Medina Carreira no seu Dever da Verdade.

São, como ele disse, a escapatória tradicional quando se constata o
"fracasso político-económico" do regime.
O regime que Sócrates e Almeida Santos protagonizam chegou a essa fase.
Discutem a morte e a ausência da vida por serem incapazes de cuidar dos
vivos.

Anónimo disse...

...temos pena que o Crespo não tenha dado nome ao palhaço? era o que faltava dizer as verdades e ser punido!

A. João Soares disse...

Independentemente de se concordar ou discordar das opiniões de Mário Crespo ele é um artista no uso das palavras e na argúcia com que observa as realidades que o cercam.

Esta crónica tem o dom de nos transportar aos escritos de Gil Vicente fazendo recordar a peça «Todo o mundo e Ninguém», por exemplo, de que retiro como exemplo a parte em que diz que TODO O MUNDO é mentiroso e NINGUÉM fala verdade. Estas duas personagens repetem até ao fim da obra a sua dicotomia.

Agora Mário Crespo, sem citar nenhuma destas personagens nem outras, deixa ao leitor a a liberdade de pessoalizar uma personagem VIRTUAL que é apenas RUÍDO DE FUNDO, um fantasma incorpóreo, que não é TODO O MUNDO e que NINGUÉM quer sê-lo.

Talvez haja leitores atrevidos que queiram pessoalizar o ruído de fundo. Mas estou certo que NINGUÉM irá crucificar Mário Crespo por que NINGUÉM vai enfiar a carapuça. TODO OMUNDO se considera alheio a tais palhaçadas.

Parabéns ao Mário Crespo porque no circo emparelha bem com os palhaços, na sua arte de equilibrista e contorcionista no sábio uso das palavras.

Abraço
João

Anónimo disse...

Em Oeiras também temos um grande palhaço rico e muitas palhaças à sua volta. O Mário Crespo tem um artigo simplesmente fabuloso. Bravo.

O Nome Não Interessa disse...

Assino, subscrevo, assino e volto a subscrever! Espero que o palhaço e os palhaços que o rodeiam se revejam nesta palhaçada!

Anónimo disse...

O anónimo das 15:22 deve julgar que as pessoas precisam de se casar para terem filhos. E que os mesmos ficam mais ou menos protegidos por os paizinhos terem decidido assinar ou não uns papéis.

Isabel Magalhães disse...

Amigo A. João Soares;

Excelente.

Quem é que vai assumir que se revê num dos palhaços? :)

Isabel Magalhães disse...

Caro leitor [14 de Dezembro de 2009 15:22];

Sempre que pretender ver publicado algum artigo basta que no-lo envie para o e-mail do blog.

Saudações

IM