Estado do Sítio
Os queridos políticos da nossa praça andam verdadeiramente divertidos. Os outros, os indígenas que votam de quatro e quatro anos, quando votam, vão fazendo pela sua vidinha, com o coração nas mãos, cheios de medo de tudo e de mais alguma coisa.
Quem assiste ao discurso político nos tempos que correm, liga a televisão e vê debates mais ou menos violentos entre deputados e membros do Governo do senhor presidente relativo do Conselho, só pode esfregar os olhos de quando em vez para tentar perceber em que sítio vivem e de onde vieram as almas que lhes entram em casa todos os dias. E têm razão para o fazer.
Quem assiste ao discurso político nos tempos que correm, liga a televisão e vê debates mais ou menos violentos entre deputados e membros do Governo do senhor presidente relativo do Conselho, só pode esfregar os olhos de quando em vez para tentar perceber em que sítio vivem e de onde vieram as almas que lhes entram em casa todos os dias. E têm razão para o fazer.
O desemprego dispara para os dois dígitos e as notícias sobre o encerramento de empresas sucedem-se a um ritmo impressionante. O défice das contas do Estado vai por aí acima, a dívida pública começa a atingir valores alarmantes e o endividamento externo não pára de subir. Para agravar a situação, o tempo do dinheiro barato e dos juros baixos tem os dias contados. Em 2010 a situação vai inverter-se e quem tem empréstimos à habitação vai ver a prestação da casa voltar aos tempos antigos.
Perante este cenário cada vez mais negro aparecem os especialistas do costume a aconselhar aumentos de impostos e congelamento de salários e pensões. No fundo, as receitas do costume com os péssimos e conhecidos resultados do costume. A verdade, por muito que custe, é só uma. A hipótese de o sítio entrar em falência, como já aconteceu por outras paragens, não é irrealista e mesmo os optimistas de ontem já começam a pensar como os terríveis pessimistas que andaram anos a fio a alertar para as fantasias e ilusões vendidas pelo senhor presidente relativo do Conselho.
A situação deste sítio pobre, deprimido, manhoso e cada vez mais mal frequentado é negra e vai obviamente piorar. A classe política, da esquerda à direita, sabe disso. A classe política, da esquerda à direita, sabe que o paradigma económico está há muito esgotado e não tem soluções para o presente e o futuro.
A classe política sabe que está esgotada e sem ideias e que o regime precisa urgentemente de uma implosão. Por isso mesmo, é incapaz de fazer seja o que for. Agarrada ao poder e às mordomias será a última a querer mudanças. A implosão do regime não será provocada pela Justiça, como aconteceu em Itália nos anos oitenta. Os milhões com fome, sem emprego e sem futuro vão matar esta III República falida, podre e moribunda.
António Ribeiro Ferreira, Jornalista
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