Caros amigos
A propósito do "VIII Encontro de História Local de Oeiras" a decorrer no Auditório da Biblioteca Municipal de Oeiras de 21 a 24 de Novembro, já anunciado neste Blog, e na sequência dos pequenos contributos que tenho enviado, anexo agora umas fotos acompanhadas de um pequeno texto sobre património local e casas saloias, com referências bibliográfias para os mais interessados, a fim de serem publicadas, caso entendam.
Seria interessante ouvir os visitantes do blog sobre esta temática, que não anda longe das questões da ruralidade que ainda existem em nós e no espaço que nos rodeia, mesmo que nos julguemos imunes, quando falamos de lugares e povoações como Leceia (vide notícia recente neste Blog), de hortas (Idem), agora de casas saloias ou até de sistemas antigos de captação de água de que o nosso Concelho é rico.
As imagem reportam-se a duas habitações de típica arquitectura saloia (a), torreadas, de quatro águas, com telhado de meia cana, beiral duplo e sanqueado. O próprio muro que sustenta a vereda e o quintal anexo, apresenta uma estrutura característica. A primeira casa, com floreira, foi recentemente rebocada com cimento. Porém, a segunda apresenta na sua nudez de pedra e cal uma das tipologias mais características.
Estas casas situam-se na muito antiga povoação da Terrugem (de Cima), Freguesia de Paço de Arcos. A observação atenta, ainda nos remete para memórias passadas no Concelho agrícola que foi Oeiras até não há muito tempo. É bem possível que por ali tenha andado, menino, aquele que seria depois D. Frei Bartolomeu dos Mártires, ilustre figura do século XVI português (b).
A segunda casa, ainda recuperável, está degradada e é pena. Mesmo numa povoação aparentemente descaracterizada merecia melhor sorte.
A circunstância do núcleo antigo da Terrugem não constar no actual Plano de Salvaguarda da CMO, não deve ser razão suficiente para não ser considerada a urgente protecção do património "humilde" que ainda subsiste no Concelho.
Tem a Câmara de Oeiras desenvolvido uma política de aquisição e defesa de Quintas e Casas Apalaçadas- notável certamente. Porém, e aqueles que construíram os palácios e neles serviram - onde e como habitavam? E aqueles que ciclicamente cumpriam o calendário agrícola, fazendo produzir as terras de pão e de vinho - onde viviam e como viviam? E aqueles que produziam a carne, a lã e o queijo - como e por onde apascentavam ou transumavam com os seus rebanhos e pernoitavam? E aqueles que nos vales e ribeiras construíram açudes, edificaram sistemas de minas e aquedutos capazes de conduzir a água que abastecia, até há bem pouco, palácios, lugares, quintas e hortas - como eram?
Certamente que temos doutas obras publicadas que de tudo isso nos informam. Mas precisamos, enquanto é tempo, de preservar a memória sensitiva do mundo rural edificado e paisagístico, que já fomos em Oeiras, e reforçar o sentido crítico e atento sobre tudo o que nos rodeia - em particular na defesa da recuperação e conservação do Património identitário dos oeirenses
Sempre ao vosso dispôr.
Nota: Depois de ter escrito este texto tive o prazer de ouvir da boca do 1.º autarca do Concelho, em Nova Oeiras, que foi possível este ano aumentar a produção de vinho de Carcavelos na Quinta de Cima do Marquês de Pombal, agora gerida pela CMO. Que este exemplo de conservacionismo rural sai para fora da tapada e frutifique, é o nosso desejo.
Fernando Lopes
(a) A este tipo de habitação se referem:
MÁRIO MOUTINHO, A Arquitectura Popular Portuguesa, Editorial Estampa, Lisboa, 1995.
JOÃO PEDRO CABRAL e GUILHERME CARDOSO, em Actas do VI Encontro de História Local do Concelho de Oeiras , História Espaço e Património Rural, A Casa e o Viver Saloio no Território de Oeiras, Edição da CMO, 2005
JOSE MANUEL FERNANDES, Arquitectura Vernácula da Região Saloia, ICLP, Ministério da Educação, 1991
(b) Referem-se a este assunto:
ROGÉRIO DE OLIVEIRA GONÇALVES, Terrugem - Terra e Gente de Paço de Arcos. Edição da CMO, 1995
JAIME CASIMIRO, em artigo recentemente publicado no Jornal de Oeiras de 31.07.2007
JORGE MIRANDA, Frei Bartolomeu dos Mártires, O Beato da Terrugem (Artigo no Jornal da Região)
A propósito do "VIII Encontro de História Local de Oeiras" a decorrer no Auditório da Biblioteca Municipal de Oeiras de 21 a 24 de Novembro, já anunciado neste Blog, e na sequência dos pequenos contributos que tenho enviado, anexo agora umas fotos acompanhadas de um pequeno texto sobre património local e casas saloias, com referências bibliográfias para os mais interessados, a fim de serem publicadas, caso entendam.
Seria interessante ouvir os visitantes do blog sobre esta temática, que não anda longe das questões da ruralidade que ainda existem em nós e no espaço que nos rodeia, mesmo que nos julguemos imunes, quando falamos de lugares e povoações como Leceia (vide notícia recente neste Blog), de hortas (Idem), agora de casas saloias ou até de sistemas antigos de captação de água de que o nosso Concelho é rico.
As imagem reportam-se a duas habitações de típica arquitectura saloia (a), torreadas, de quatro águas, com telhado de meia cana, beiral duplo e sanqueado. O próprio muro que sustenta a vereda e o quintal anexo, apresenta uma estrutura característica. A primeira casa, com floreira, foi recentemente rebocada com cimento. Porém, a segunda apresenta na sua nudez de pedra e cal uma das tipologias mais características.
Estas casas situam-se na muito antiga povoação da Terrugem (de Cima), Freguesia de Paço de Arcos. A observação atenta, ainda nos remete para memórias passadas no Concelho agrícola que foi Oeiras até não há muito tempo. É bem possível que por ali tenha andado, menino, aquele que seria depois D. Frei Bartolomeu dos Mártires, ilustre figura do século XVI português (b).
A segunda casa, ainda recuperável, está degradada e é pena. Mesmo numa povoação aparentemente descaracterizada merecia melhor sorte.
A circunstância do núcleo antigo da Terrugem não constar no actual Plano de Salvaguarda da CMO, não deve ser razão suficiente para não ser considerada a urgente protecção do património "humilde" que ainda subsiste no Concelho.
Tem a Câmara de Oeiras desenvolvido uma política de aquisição e defesa de Quintas e Casas Apalaçadas- notável certamente. Porém, e aqueles que construíram os palácios e neles serviram - onde e como habitavam? E aqueles que ciclicamente cumpriam o calendário agrícola, fazendo produzir as terras de pão e de vinho - onde viviam e como viviam? E aqueles que produziam a carne, a lã e o queijo - como e por onde apascentavam ou transumavam com os seus rebanhos e pernoitavam? E aqueles que nos vales e ribeiras construíram açudes, edificaram sistemas de minas e aquedutos capazes de conduzir a água que abastecia, até há bem pouco, palácios, lugares, quintas e hortas - como eram?
Certamente que temos doutas obras publicadas que de tudo isso nos informam. Mas precisamos, enquanto é tempo, de preservar a memória sensitiva do mundo rural edificado e paisagístico, que já fomos em Oeiras, e reforçar o sentido crítico e atento sobre tudo o que nos rodeia - em particular na defesa da recuperação e conservação do Património identitário dos oeirenses
Sempre ao vosso dispôr.
Nota: Depois de ter escrito este texto tive o prazer de ouvir da boca do 1.º autarca do Concelho, em Nova Oeiras, que foi possível este ano aumentar a produção de vinho de Carcavelos na Quinta de Cima do Marquês de Pombal, agora gerida pela CMO. Que este exemplo de conservacionismo rural sai para fora da tapada e frutifique, é o nosso desejo.
Fernando Lopes
(a) A este tipo de habitação se referem:
MÁRIO MOUTINHO, A Arquitectura Popular Portuguesa, Editorial Estampa, Lisboa, 1995.
JOÃO PEDRO CABRAL e GUILHERME CARDOSO, em Actas do VI Encontro de História Local do Concelho de Oeiras , História Espaço e Património Rural, A Casa e o Viver Saloio no Território de Oeiras, Edição da CMO, 2005
JOSE MANUEL FERNANDES, Arquitectura Vernácula da Região Saloia, ICLP, Ministério da Educação, 1991
(b) Referem-se a este assunto:
ROGÉRIO DE OLIVEIRA GONÇALVES, Terrugem - Terra e Gente de Paço de Arcos. Edição da CMO, 1995
JAIME CASIMIRO, em artigo recentemente publicado no Jornal de Oeiras de 31.07.2007
JORGE MIRANDA, Frei Bartolomeu dos Mártires, O Beato da Terrugem (Artigo no Jornal da Região)
4 comentários:
Caro Fernando Lopes;
Obrigada pela colaboração.
[]
I.
Muito interessante o texto. Assim vale a pena estar em blog.
Antonio Manuel Bento, um cidadão ao serviço da comunidade
.
Caro Fernando Lopes,
Os meus sinceros PARABÉNS por esta excelente colaboração.
Sobre o tema Casas Saloias, concordo que se perde cada vez mais este património, infelizmente, e com ele é toda uma memória rural que se perde.
Quando eu puder e se eu tiver tempo, farei uma pesquisa no meu acervo fotográfico em busca de material relacionado, para voltarmos a este assunto.
Abraço,
.
Um aplauso para um blog que não descura tais assuntos e que aceita colaboração deste âmbito.
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