domingo, 25 de novembro de 2007

O correio dos leitores


Isabel;

Ao assistir às Jornadas do Património lembrei-me de uns escritos meus que foram publicados no Jornal Público, depois de uns amigos me arrastarem até Carnaxide para me inteirarem das suas preocupações. Claro que não são profundos, foram feitos apenas para alertar.

Um abraço

Clotilde


Tribuna do Leitor – Jornal Público em 28/Março/2006

O MUNICÍPIO DE OEIRAS E AS SUAS QUINTAS

O Município de Oeiras tinha um importante espólio de quintas rurais, de veraneio e de recreio, com as suas grandes casas mais ou menos apalaçadas e demais anexos como celeiros, cocheiras, pavilhões condizentes com a sua finalidade, muitas delas anteriores ao século XVIII. Digo tinha porque, pouco a pouco, elas tem sido mortas ou muito mutiladas.

Respondendo à chamada de atenção de muita gentes, foram feitos uns planos de salvaguarda (que têm servido de pouca coisa), também uns comunicados “blás blás” sobre a necessidade de preservar a memória deste Município, enquanto uns tantos foram comprando uns bocados, permutando outros entre si e a Câmara, e, por exemplo, da Quinta Santo António em Algés só se vê a invasão do betão e até a sua linha de água desapareceu sem que ninguém tenha sido responsabilizado.

Da Quinta dos Aciprestes em Linda-a-Velha, salvou-se o Palácio e uns metritos de terrenos, pois o apetite e interesses levou a que o executivo camarário aprovasse o seu loteamento, apesar das muitas irregularidades que a Liga dos Amigos de Linda-a-Velha divulgou e continua a divulgar.

Agora no Público de 14 de Março o edital 141/2006 informa que há alteração no Plano de Pormenor da Quinta da Fonte em Carnaxide, e que se encontra para ser consultado pelos interessados. Talvez seja mesmo importante informarem-se das alterações para depois não haver surpresas.

Ainda resta, nesta zona, uma parte lindíssima de um muro com ameias e portões com torreões; lá dentro existe um dragoeiro. Trata-se da Casa Branca antiga propriedade de Tomaz Ribeiro, poeta, jornalista, historiador, advogado e político que está classificada como edifício de grande interesse. No jardim foram entretanto parcialmente destruídos os pequenos lagos e cascatas que o compunham.

À primeira vista parece ser difícil perceber-se bem o que se passa, mas a tal Casa Branca, parece estar abandonada, com janelas abertas... talvez caía ... e, então, já haverá razão para mais uma quinta passar a betão. E, de Carnaxide uma das primeiras freguesias do nosso País, talvez dentro em pouco só reste uma memória arquivada em alguma tese de doutoramento.



Tribuna do Leitor – Jornal Público de 11 de Abril de 2006


A CASA BRANCA EM CARNAXIDE

Da antiga da Quinta da Fonte resta uma área que se conserva ainda rústica, isto é sem construções de condomínios ou escritórios, apenas com a casa senhorial e seus anexos – a Casa Branca. Parte da terra livre é pertença do Município de Oeiras; o resto é de particulares.

Alguns atentos munícipes tentaram saber qual é a alteração do Plano de Pormenor anunciada pelo edital 141/2006 e deparam com muitas vicissitudes tanto quanto à localização da secção onde se consultava o processo como quanto à sua técnica organização que dificulta, bastante, a compreensão dos leigos.

Terão concluído bem da junção das várias informações obtidas e ouvidas? A Câmara irá permutar as suas leiras de terra com os proprietários da Casa Branca: eles irão betonizar (talvez até obter permissão para densificar o projecto e aumentar as cercias previstas), e a Câmara ficará com o edificado que seria para uma escola Básica ou, em última versão, para uma casa de chá - como está a ser moda aqui em Oeiras - talvez para fruição de um fim de tarde campestre.

Entretanto a Junta de Freguesia de Carnaxide acaba de tornar público que uma cópia do processo está à disposição dos interessados nas suas instalações.

Mas porquê mais construção; haverá falta de casas em Carnaxide? Porquê uma casa de chá? E não um lugar de Cultura, um espaço para a juventude ou de apoio aos seniores, nesta zona da antiga Carnaxide? Sim, porquê?


[Textos da leitora Clotilde Moreira, Algés]

5 comentários:

Provedor de Oeiras disse...

Senhora Clotilde Moreira,

Excelente texto o seu. As quintas históricas e outras, que não o sendo não deixam de ser também um património valiosíssimo, têm cedido à imparável expansão urbanística que tem acontecido um pouco por todos os grandes centros urbanos e periferias das grandes cidades. Os valores de mercado que estes terrenos atingem tornam a sua venda apetecível aos legítimos proprietários. Quando os PDM`s toleram elevados índices de urbanização para estes terrenos estão a incentivar a sua venda e a permitir uma descaracterização do espaço que as caracteriza. Hoje e em Oeiras estas quintas já rareiam, no meio de tanta construção julgo que seria imperativo à autarquia preservar estes espaços, reabilitando-os, recuperando-os e dando-lhes um uso e um destino diferente do que até aqui tem sido a regra.

Diogo Castro

Anónimo disse...

Cara senhora
Também estive nos Encontros de História Local. Excelente fórum de debate sobre o património histórico e a memória do Concelho.
Eu creio que que a CMO tem desenvolvido nos últimos anos uma política de aquisição de Quintas, ou o que resta delas.
Infelizmente, o vil metal (sacrossanta propriedade)condiciona muitas iniciativas. Contudo não pode servir de desculpa para tudo o que se deixa desaparecer. Como não pode servir de desculpa para a descaracterização continuada do território em nome do "progresso".

Fernando Lopes

Isabel Magalhães disse...

Uma Casa de Chá pode ser, também, um espaço de CULTURA. Basta querer. Não é inédito.

Em Colares, a Galeria CASA SANTA RITA tem salão de chá e promove exposições de pintura e escultura e outros eventos ligados à ARTE.

E muitas outras há!

Anónimo disse...

O contributo desta Senhora leva-nos sempre a que todos nós fiquemos a saber mais um bocadinho daquilo que se passa nestas paragens. É alguém continuamente atento e interessado na melhoria da sua terra.

Anónimo disse...

A todos agradeço as V/ palavras. São incentivo para continuar. Querida Isabel
Não sou contra as casas de chá e podem ser uma área cultural, mas neste caso e dado a falta destes equipqmentos podia ou deveria-se pensar num espaço de apoio à juventude ou aos séniores: penso eu; mas talvez haja outras soluções para reavivar aquele espaço.
Clotilde