Esta matéria é deveras curiosa e interessante e merece divulgação. Falo da intenção do Marquês de Pombal de construir um canal navegável que ligaria o Jardim do seu Palácio ao mar, aproveitando para isso a Ribeira da Lage, na época muito mais navegável. Este canal nunca chegou a ser terminado.
A submersão de parte importante dos vestígios do canal debaixo do Passeio Marítimo de Oeiras foi, na minha opinião e sei que nisto sou coadjuvado por muitos historiadores e investigadores de História Local, foi dizia, uma atitude irresponsável e lesiva do Património de Oeiras (e de Portugal).
Será irreversível? Provavelmente sim, pelo menos para já, que a técnica, nomeadamente de recuperação e restauro, não pára de evoluir. Teria sido, é claro, mais económico ter acautelado aqueles vestígios que recuperá-los agora, o que obrigaria a destruir o Passeio onde ele os cobre e a dar a este outro traçado.
Ficam-nos os vestígios que escaparam ao betão, pelo menos até ver...
E ficam-nos documentos coevos referentes ao assunto e documentos fotográficos, obtidos ao longo do século passado, provavelmente na posse de particulares e muito dispersos, se bem que felizmente há investigadores de História Local, como o Dr. Jorge Miranda, muito empenhados em reunir toda a documentação possível sobre o mencionado Canal e em investigá-la. Oxalá leve tal empresa a bom porto.
Para preâmbulo, com um pedido de licença ao seu autor, repesco um excerto dum comentário do nosso colaborador Fernando Lopes, colocado em 29-02-2008 16:55:00 no post Paço de Arcos recebe Passeio Marítimo (29-02-2008):
"(...) ao fazerem o Passeio junto do Inatel passaram simplesmente por cima (cimentaram) de uma obra de engenharia do séc XVIII (única até então) por que foi a primeira experiência mundial de abertura de um canal para fazer a ligação à Ribeira da Lage, recorrendo a explosivos submersos(...)"
Para se avaliar a dimensão dos estragos, a esta citação acrescento que a Ribeira da Lage atravessa o Jardim do Palácio do Marquês, onde existe um cais com escadaria, e que se presume que a intenção do Marquês era a de poder sair directamente do seu palácio e jardim para o mar, navegando ao longo deste canal:
Cais de embarque no Jardim do Palácio do Marquês, infelizmente completamente atulhado de plantas e detritos. Aguardamos a sua necessária limpeza e recuperação
- 11-11-2004 -
Do lado do mar, o ponto de encontro do canal com a ribeira da Lage era mais ou menos onde está a ponte da Estrada Marginal sobre a ribeira, na praia de Sto. Amaro, a nascente do Forte do Areeiro:- 11-11-2004 -
Continuava rasgando as rochas por ali afora e passava na zona em frente ao Inatel (antigo Motel Continental):
O ponto de encontro com o mar seria um pouco a poente do Inatel, próximo do Forte de Catalazete:
Assinalo ainda que a Ribeira da Lage, na sua foz, não era estreita como é hoje. Ainda nos anos vinte do século passado existiam o rossio (terras alagadas) e a enorme lagoa que naquele lugar se formava.
A topografia era muito diferente e o espaço muito mais amplo:
A lagoa na foz da Ribeira da Lage vista para montante.
A casa que se vê na encosta é a Vivenda Carvalho, ainda existente
- 29-08-1926 -
A casa que se vê na encosta é a Vivenda Carvalho, ainda existente
- 29-08-1926 -
A lagoa na foz da Ribeira da Lage vista para juzante
(esta foto na verdade são duas, é uma sobreposição; coisa que acontecia nas velhas câmaras quando o fotógrafo se esquecia de avançar a película).
A chaminé, presumo que seja a da fábrica de têxteis da Quinta de S. Pedro
- 29-08-1926 -
imagens: © josé antónio / comunicação visual - CLIQUE PARA AMPLIAR(esta foto na verdade são duas, é uma sobreposição; coisa que acontecia nas velhas câmaras quando o fotógrafo se esquecia de avançar a película).
A chaminé, presumo que seja a da fábrica de têxteis da Quinta de S. Pedro
- 29-08-1926 -
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5 comentários:
Um post com imenso interesse. Um notável acervo fotográfico.
Pela minha parte muito obrigada.
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I.
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Nada a agradecer, Amiga.
Sabes que é com enorme prazer que divulgo o que me apraz divulgar e considero importante sobre Património de Oeiras.
Dentro do possível, é claro, e muito limitado aos lugares onde morei, onde moro, e que tenho frequentado.
O meu desejo é que estes posts, e não só os meus, sirvam para sensibilizar a população para a necessidade de preservar o Património.
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AMEN!
:)
Fantástico!
Excelente trabalho de reportagem e recolha de imagem.
Hoje recebi o "Oeiras Actual" com um art.º de J Boiça que fala do tal engenheiro encarregado da obra.
Vou postar porque acho que complementa.
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Caro Fernando Lopes,
Obrigado.
A ideia do post sobre o engenheiro é excelente. Força com isso !
Abraço
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