terça-feira, 4 de março de 2008

Canal navegável do Marquês

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Esta matéria é deveras curiosa e interessante e merece divulgação. Falo da intenção do Marquês de Pombal de construir um canal navegável que ligaria o Jardim do seu Palácio ao mar, aproveitando para isso a Ribeira da Lage, na época muito mais navegável. Este canal nunca chegou a ser terminado.
A submersão de parte importante dos vestígios do canal debaixo do Passeio Marítimo de Oeiras foi, na minha opinião e sei que nisto sou coadjuvado por muitos historiadores e investigadores de História Local, foi dizia, uma atitude irresponsável e lesiva do Património de Oeiras (e de Portugal).
Será irreversível? Provavelmente sim, pelo menos para já, que a técnica, nomeadamente de recuperação e restauro, não pára de evoluir. Teria sido, é claro, mais económico ter acautelado aqueles vestígios que recuperá-los agora, o que obrigaria a destruir o Passeio onde ele os cobre e a dar a este outro traçado.
Ficam-nos os vestígios que escaparam ao betão, pelo menos até ver...
E ficam-nos documentos coevos referentes ao assunto e documentos fotográficos, obtidos ao longo do século passado, provavelmente na posse de particulares e muito dispersos, se bem que felizmente há investigadores de História Local, como o Dr. Jorge Miranda, muito empenhados em reunir toda a documentação possível sobre o mencionado Canal e em investigá-la. Oxalá leve tal empresa a bom porto.

Para preâmbulo, com um pedido de licença ao seu autor, repesco um excerto dum comentário do nosso colaborador Fernando Lopes, colocado em 29-02-2008 16:55:00 no post Paço de Arcos recebe Passeio Marítimo (29-02-2008):

"(...) ao fazerem o Passeio junto do Inatel passaram simplesmente por cima (cimentaram) de uma obra de engenharia do séc XVIII (única até então) por que foi a primeira experiência mundial de abertura de um canal para fazer a ligação à Ribeira da Lage, recorrendo a explosivos submersos(...)"

Para se avaliar a dimensão dos estragos, a esta citação acrescento que a Ribeira da Lage atravessa o Jardim do Palácio do Marquês, onde existe um cais com escadaria, e que se presume que a intenção do Marquês era a de poder sair directamente do seu palácio e jardim para o mar, navegando ao longo deste canal:

Cais de embarque no Jardim do Palácio do Marquês
- 11-11-2004 -

Cais de embarque no Jardim do Palácio do Marquês, infelizmente completamente atulhado de plantas e detritos. Aguardamos a sua necessária limpeza e recuperação
- 11-11-2004 -

Do lado do mar, o ponto de encontro do canal com a ribeira da Lage era mais ou menos onde está a ponte da Estrada Marginal sobre a ribeira, na praia de Sto. Amaro, a nascente do Forte do Areeiro:

Vestígios junto ao Forte do Areeiro
- 13-07-2006 -

Continuava rasgando as rochas por ali afora e passava na zona em frente ao Inatel (antigo Motel Continental):

Vestígios em frente à esplanada do Inatel
- 30-09-2006 -

Vestígios em frente à esplanada do Inatel
- 22-03-1988 -

Vestígios em frente à esplanada do Inatel
- 22-03-1988 -

O ponto de encontro com o mar seria um pouco a poente do Inatel, próximo do Forte de Catalazete:

Vestígios entre a piscina do Inatel e o Forte de Catalazete
- 22-03-1988 -

Assinalo ainda que a Ribeira da Lage, na sua foz, não era estreita como é hoje. Ainda nos anos vinte do século passado existiam o rossio (terras alagadas) e a enorme lagoa que naquele lugar se formava.
A topografia era muito diferente e o espaço muito mais amplo:

A lagoa na foz da Ribeira da Lage vista para montante.
A casa que se vê na encosta é a Vivenda Carvalho, ainda existente

- 29-08-1926 -

A lagoa na foz da Ribeira da Lage vista para juzante
(esta foto na verdade são duas, é uma sobreposição; coisa que acontecia nas velhas câmaras quando o fotógrafo se esquecia de avançar a película).
A chaminé, presumo que seja a da fábrica de têxteis da Quinta de S. Pedro

- 29-08-1926 -

imagens: © josé antónio / comunicação visual - CLIQUE PARA AMPLIAR
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5 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Um post com imenso interesse. Um notável acervo fotográfico.

Pela minha parte muito obrigada.

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I.

Unknown disse...

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Nada a agradecer, Amiga.
Sabes que é com enorme prazer que divulgo o que me apraz divulgar e considero importante sobre Património de Oeiras.

Dentro do possível, é claro, e muito limitado aos lugares onde morei, onde moro, e que tenho frequentado.

O meu desejo é que estes posts, e não só os meus, sirvam para sensibilizar a população para a necessidade de preservar o Património.

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Isabel Magalhães disse...

AMEN!


:)

Fernando Lopes disse...

Fantástico!

Excelente trabalho de reportagem e recolha de imagem.

Hoje recebi o "Oeiras Actual" com um art.º de J Boiça que fala do tal engenheiro encarregado da obra.

Vou postar porque acho que complementa.

Unknown disse...

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Caro Fernando Lopes,

Obrigado.

A ideia do post sobre o engenheiro é excelente. Força com isso !

Abraço

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