segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Chico Buarque - Construção

Tertúlia Virtual - Brasil




Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague
Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague


CONSTRUÇÃO/LETRA MÚSICA: CHICO BUARQUE/ ROSANA BUARQUE

15 comentários:

Anónimo disse...

Que beleza, Isabel! A letra, a interpretação e a própria peça. A montagem é impressionante. Uma escolha fantástica para este tema da Tertúlia.
Fiquei com vontade de também participar!

Ruvasa disse...

Viva, Isabel!

Excelente participação.

Esta a ver por que refiro a rima fácil?

Abraço

Ruben

Anónimo disse...

Isabel,

sua postagem nesta TERTULIA me fala de perto:
1º do meu país!
2º através de um colega meu de ginásio, no Colégio de Cataguases, onde eramos internos!
Parabéns pela escolha, e por estar participando desta Tertulia!

Jorge Pinheiro disse...

Uma letra absolutamente genial, onde está toda a depressão citadina de um brasileiro insatisfeito. Grande escolha!

Anónimo disse...

Confesso que quando me decidi a participar na Tertúlia deste mês, quase escolhi esta música, pela sua expressão e porque o Chico é um dos meus autores preferidos.
Parabéns
Jorge

james emanuel de albuquerque disse...

Bela escolha.

Um abraço.

http://saia-justa-georgia.blogspot.com/ disse...

Eita, que eu agora voltei a ser adolescente quando eu adorava cantar essa música.

Òtima lembranca

Francisco Castelo Branco disse...

Ola Isabel

Boa escolha
Chico Buarque é uma das figuras da cultura brasileira

bom video

meninaidalina disse...

Chico , Milton e Caetano incontornáveis na MPB.

Lindo.

Serena Flor disse...

Fantástica escolha a sua!
Essa letra de Chico é inesquecível...adorei.
Parabéns!

roserouge disse...

Boa, Isabel! Ainda hoje ouço a "Construção" com a mesma emoção de há 30 anos atrás. A letra é do mais visceral e intemporal que conheço. Muito bem lembrado! Estive quase para pôr esta também. Bjs.

Clotilde Moreira disse...

Isabel
Obrigada.
Clotilde

Alice Salles disse...

E esse que Chico descreve é um verdadeiro Brasileiro, de carne, unha e osso.... Menos carne que osso, e mais alma e cabeça nas nuvens quanto pé no chão e no samba que é seu de direito!

Isabel Magalhães disse...

Caros amigos, blogamigos, visitantes;

Obrigada a todos pela partilha da Tertúlia.

Resumir o Brasil num post era impossível, - logo eu que ainda não fui a Terras de Vera Cruz... mas hei-de ir!;) - daí ter decidido homenagear os brasileiros na voz do Chico Buarque.

Um abraço a todos.

I.

Só- Poesias e outros itens disse...

Uma beleza essa música.
Chico Buarque é um maravilhoso compositor.

Bjs.

JU Gioli