João Cândido da Silva
O conflito entre Governo e professores por causa do modelo de avaliação arrisca transformar-se numa batalha tão acesa quanto inútil. A receita para o impasse inclui um pouco de tudo o que pode ajudar a traçar o caminho mais rápido entre o ponto de partida e um beco sem saída.
Desde uma entrada agressiva do Governo no terreno de jogo, a medições de força na rua, com manifestações, greves e, pelo meio, as indispensáveis pitadas de intransigência, os ingredientes foram-se misturando em doses "quanto baste" para aprofundar o ambiente de crispação. Atingiu-se um ponto em que, entre sindicatos e Ministério da Educação, já ninguém pode sair bem da contenda. Por um simples motivo: em vez de saírem beneficiadas, as escolas só têm perdido com uma refrega para a qual não se vê a possibilidade de um ponto final.
O sinal de que tudo poderá transitar de mal a pior vem agora dos estudantes. Animados pela capacidade de mobilização e de bloqueio evidenciada pelos sindicatos de professores, ensaiam a sua vez de acrescentar lenha à fogueira ateada pela crescente fragilização política do Governo na matéria. E, no entanto, surgida por entre o facilitismo que decreta a degradação do nível de exigência nos exames para operar o milagre estatístico da melhoria do rendimento dos alunos, a avaliação dos professores era, e continua a ser, uma causa que merece ser objecto de um sério empenhamento político.
O currículo nacional em matéria de qualificação dos recursos humanos é o que as comparações internacionais indicam: muito mau. O país surge invariavelmente classificado no clube dos piores e a competitividade fica dependente de uma mão-de-obra indiferenciada, sujeitando Portugal ao critério do custo da mão-de-obra quando se trata de dirimir argumentos para atrair projectos de investimento. O diagnóstico já é velho e também se sabe que a mobilização de recursos financeiros crescentes para corrigir aquela desvantagem tem resultado num retrato de lamentável ineficiência. Gasta-se muito dinheiro, para que tudo fique na mesma.
A introdução de um modelo de avaliação dos professores não resolve todos os problemas. Mas, na educação como na generalidade das organizações públicas ou privadas, é um pilar incontornável para obter melhores resultados a partir dos mesmos recursos. Pode criar os incentivos necessários à melhoria do desempenho e um sistema de compensações que premeie o mérito. Entre as medidas previstas no programa da actual maioria, esta seria, à partida, das mais consensuais, o que não significa que seria isenta de espinhos na concretização.
Sucede que o Governo geriu mal o arranque da questão. Na relação com os professores, como noutros confrontos que comprou no início de mandato, quis ter a opinião pública do seu lado. Para isso, deixou que o discurso resvalasse, logo de início, para a mensagem de que a culpa dos males do sistema de ensino seria exclusiva dos professores e que isso se deveria a falta de profissionalismo e a abusos como o absentismo. No fundo, a classe em geral seria constituída por gente indolente, apenas interessada num salário certo e seguro a troco de pouco trabalho.
A estratégia revelou-se um desastre. De recuo em recuo, a ministra da Educação já só tenta um qualquer apaziguamento que, perante os sinais de fraqueza transmitidos, dificilmente conseguirá alcançar. Na hora de fazer o ponto de situação, fica a pergunta: tanto barulho para quê?
JORNAL DE NEGÓCIOS – 05-12-2008
Desde uma entrada agressiva do Governo no terreno de jogo, a medições de força na rua, com manifestações, greves e, pelo meio, as indispensáveis pitadas de intransigência, os ingredientes foram-se misturando em doses "quanto baste" para aprofundar o ambiente de crispação. Atingiu-se um ponto em que, entre sindicatos e Ministério da Educação, já ninguém pode sair bem da contenda. Por um simples motivo: em vez de saírem beneficiadas, as escolas só têm perdido com uma refrega para a qual não se vê a possibilidade de um ponto final.
O sinal de que tudo poderá transitar de mal a pior vem agora dos estudantes. Animados pela capacidade de mobilização e de bloqueio evidenciada pelos sindicatos de professores, ensaiam a sua vez de acrescentar lenha à fogueira ateada pela crescente fragilização política do Governo na matéria. E, no entanto, surgida por entre o facilitismo que decreta a degradação do nível de exigência nos exames para operar o milagre estatístico da melhoria do rendimento dos alunos, a avaliação dos professores era, e continua a ser, uma causa que merece ser objecto de um sério empenhamento político.
O currículo nacional em matéria de qualificação dos recursos humanos é o que as comparações internacionais indicam: muito mau. O país surge invariavelmente classificado no clube dos piores e a competitividade fica dependente de uma mão-de-obra indiferenciada, sujeitando Portugal ao critério do custo da mão-de-obra quando se trata de dirimir argumentos para atrair projectos de investimento. O diagnóstico já é velho e também se sabe que a mobilização de recursos financeiros crescentes para corrigir aquela desvantagem tem resultado num retrato de lamentável ineficiência. Gasta-se muito dinheiro, para que tudo fique na mesma.
A introdução de um modelo de avaliação dos professores não resolve todos os problemas. Mas, na educação como na generalidade das organizações públicas ou privadas, é um pilar incontornável para obter melhores resultados a partir dos mesmos recursos. Pode criar os incentivos necessários à melhoria do desempenho e um sistema de compensações que premeie o mérito. Entre as medidas previstas no programa da actual maioria, esta seria, à partida, das mais consensuais, o que não significa que seria isenta de espinhos na concretização.
Sucede que o Governo geriu mal o arranque da questão. Na relação com os professores, como noutros confrontos que comprou no início de mandato, quis ter a opinião pública do seu lado. Para isso, deixou que o discurso resvalasse, logo de início, para a mensagem de que a culpa dos males do sistema de ensino seria exclusiva dos professores e que isso se deveria a falta de profissionalismo e a abusos como o absentismo. No fundo, a classe em geral seria constituída por gente indolente, apenas interessada num salário certo e seguro a troco de pouco trabalho.
A estratégia revelou-se um desastre. De recuo em recuo, a ministra da Educação já só tenta um qualquer apaziguamento que, perante os sinais de fraqueza transmitidos, dificilmente conseguirá alcançar. Na hora de fazer o ponto de situação, fica a pergunta: tanto barulho para quê?
JORNAL DE NEGÓCIOS – 05-12-2008
3 comentários:
Sondagem: Portugueses apoiam Ministra da Educação
Mais de 50 por cento dos portugueses apoiam a ministra da Educação, Maria de Lurdes Rodrigues, para continuar com o actual modelo de avaliação de professores.
Mesmo entre manifestações, greves e vigílias de professores, a ministra da Educação caiu nas boas graças dos portugueses. Pelo menos, a olhar para os dados de uma sondagem feita para a Renascença, SIC e Expresso.
Mais de 50 por cento dos inquiridos (53,9%) considera que Maria de Lurdes Rodrigues tem condições para continuar a exercer a sua função, e 33,6 por cento defende a demissão da ministra.
82,5 por cento dos inquiridos considera que os professores devem ser avaliados e 57,7 por cento acredita numa luz ao fundo do túnel, o mesmo é dizer, numa solução para o conflito entre os professores e o Governo.
É um facto, o PS sobe nas ultimas sondagens, que não andaram nas bocas do mundo se aquele partido tivesse baixado.
è grave o que a generalidade pensa hoje dos professores, pois foi graças es conflito que tomou consciência de muitas coisas que iam mal pelas escolas e com os professores. Infedlizmente esta é a realidade.
Os sindicatos não são nem foram honestos na gestão da crise. Não se pode dizer que o Ministério é isto ou aquilo, quan do os sindicatos são iguais ou piores
O que eu me chateia nas sondagens é o nunca me perguntarem nada . LOL
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