Paula Teixeira da Cruz, Advogada
Da Vida Real
Tricas
Com os Estados Unidos da América em recessão, foi de pronto anunciado um megaplano de investimentos em infra-estruturas, o maior dos últimos cinquenta anos naquele país. A situação impõe responsabilidade a democratas e a republicanos. Vai-se ao essencial sem tricas nem desculpas. Obama sem medo de sombras.
Nós vamos a caminho da terceira recessão em oito anos e continua a não haver plano algum. Finalmente Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal, certificou a dita recessão. Custou mas foi, como se a dita não se sentisse neste Inverno de desconforto, vento e frio.
Ironicamente, quando se celebram os sessenta anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Mundo está mais longe dela do que esteve após as guerras do século passado. A Declaração era suposto ser um ponto de partida para uma espécie de ‘harmonia universal’. Hélas, cavaram-se os fossos culturais e só o ‘comércio’, na pior acepção e com as piores consequências, parece ‘juntar’ os povos para desgraça de todos. Dos Direitos propriamente ditos fez-se o caminho da restrição em nome de um securitarismo inconsequente e perverso.
Até mesmo o projecto europeu está hoje tão longe do espírito dos founding fathers quanto um asceta de um novo-rico.
E uma paralisia desculpante tolhe a iniciativa e a capacidade de cada um de nós.
Se temos modelos a reinventar vamos lá a isso e quanto mais depressa melhor: dos políticos aos económicos, não esquecendo os cívicos e a responsabilidade que cada um de nós também tem nisto tudo. E responsabilize-se. Cultive-se a responsabilidade que é coisa que anda ausente. Ninguém se sente responsável. São sempre os outros. Mentalidades.
Pois neste pano de fundo esperar-se-ia exemplo de responsabilidade dos principais agentes políticos e da sociedade em geral. E menos tricas. E menos ausências.
Mas é precisamente neste contexto que a inflexibilidade do Governo para com o Presidente é particularmente desastrada e pouco inteligente. É a última altura a escolher para provocar fissuras em nome de pequenas tácticas que, sobretudo em momentos difíceis, não compensam e se pagam caro. E pior ainda se for em nome de geometrias eleitorais. Como é a pior altura para o Parlamento se desrespeitar a si próprio.
Se a sociedade portuguesa quiser continuar a ter o direito ao disparate, terá o retorno.
Tal como em Lisboa, continuaremos atulhados em lixo.
Correio da Manhã - 11 Dezembro 2008
Da Vida Real
Tricas
Com os Estados Unidos da América em recessão, foi de pronto anunciado um megaplano de investimentos em infra-estruturas, o maior dos últimos cinquenta anos naquele país. A situação impõe responsabilidade a democratas e a republicanos. Vai-se ao essencial sem tricas nem desculpas. Obama sem medo de sombras.
Nós vamos a caminho da terceira recessão em oito anos e continua a não haver plano algum. Finalmente Vítor Constâncio, governador do Banco de Portugal, certificou a dita recessão. Custou mas foi, como se a dita não se sentisse neste Inverno de desconforto, vento e frio.
Ironicamente, quando se celebram os sessenta anos da Declaração Universal dos Direitos do Homem, o Mundo está mais longe dela do que esteve após as guerras do século passado. A Declaração era suposto ser um ponto de partida para uma espécie de ‘harmonia universal’. Hélas, cavaram-se os fossos culturais e só o ‘comércio’, na pior acepção e com as piores consequências, parece ‘juntar’ os povos para desgraça de todos. Dos Direitos propriamente ditos fez-se o caminho da restrição em nome de um securitarismo inconsequente e perverso.
Até mesmo o projecto europeu está hoje tão longe do espírito dos founding fathers quanto um asceta de um novo-rico.
E uma paralisia desculpante tolhe a iniciativa e a capacidade de cada um de nós.
Se temos modelos a reinventar vamos lá a isso e quanto mais depressa melhor: dos políticos aos económicos, não esquecendo os cívicos e a responsabilidade que cada um de nós também tem nisto tudo. E responsabilize-se. Cultive-se a responsabilidade que é coisa que anda ausente. Ninguém se sente responsável. São sempre os outros. Mentalidades.
Pois neste pano de fundo esperar-se-ia exemplo de responsabilidade dos principais agentes políticos e da sociedade em geral. E menos tricas. E menos ausências.
Mas é precisamente neste contexto que a inflexibilidade do Governo para com o Presidente é particularmente desastrada e pouco inteligente. É a última altura a escolher para provocar fissuras em nome de pequenas tácticas que, sobretudo em momentos difíceis, não compensam e se pagam caro. E pior ainda se for em nome de geometrias eleitorais. Como é a pior altura para o Parlamento se desrespeitar a si próprio.
Se a sociedade portuguesa quiser continuar a ter o direito ao disparate, terá o retorno.
Tal como em Lisboa, continuaremos atulhados em lixo.
Correio da Manhã - 11 Dezembro 2008
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