Opinião
Ricardo Araújo Pereira
Solicitaria apenas ao banco que estou a administrar sem o saber que me enviasse os lucros, se os houvesse, ou o dinheiro proveniente da ajuda do Estado, caso tivéssemos tido a sorte de falir.
Tenho seguido atentamente a actualidade económica e estou em condições de avançar com uma informação que me parece relevante: a economia portuguesa está estagnada em todo o lado menos na agência Lusa. Não sei que microclima económico se vive na redacção da agência de notícias, mas o certo é que, a fazer fé nos jornais (prática que, no entanto, não recomendo), os seus jornalistas foram proibidos de usar a palavra «estagnação» para descrever o que parece claramente ser uma estagnação. Para todos os que se queixam de falta de imaginação no jornalismo, a medida tem algum interesse. Parece um exercício de escrita criativa: descreva a estagnação económica actual sem recorrer às palavras «estagnação» e «económica». O que se perde em rigor, ganha-se em fantasia.
Como sempre que alguém impõe uma proibição sobre o discurso dos outros, levantaram-se imediatamente vozes que, por tolice ou maldade, bradam, à primeira oportunidade «censura!» Trata-se, evidentemente, de uma conclusão precipitada. Proibir alguém de dizer determinada palavra não é necessariamente um acto de censura. Pode ser uma tentativa, aliás bastante nobre, de zelar pela urbanidade do trato. Por exemplo: «Não se diz estagnação, que é feio.» Quem sabe se, na evolução do latim «stagnare» para o português «estagnar», a palavra não sofreu um metaplasmo qualquer que a torna obscena? Por detrás da proibição imposta aos jornalistas da Lusa pode estar um subtil linguista que encontrou estragação na estagnação.
Outra hipótese: superstição. Como no caso daquelas pessoas que receiam dizer o nome de certa doença, também aqui pode haver o medo de que, se falarmos em estagnação, ela nos apareça – logo a nós, que estamos tão longe dela. Seria azar, convenhamos.
Há ainda outra possibilidade. Hoje em dia, toda a actividade económica parece decorrer num ambiente de ignorância. Greenspan não sabia que estava a preparar uma crise de dimensões históricas. O Banco de Portugal não sabia que as contas do BPN não batiam certo. Os administradores do BPN não sabiam nada. Eu próprio desconheço, por completo, o que se passa nos bancos portugueses e, à primeira vista, todos os seus gestores me parecem pessoas de bem. É possível, por isso, que eu seja administrador de um banco sem que o saiba. Tenho o perfil e a doce inconsciência que o cargo, aparentemente, exige. Solicitaria apenas ao banco que estou a administrar sem o saber que me enviasse os lucros, se os houvesse, ou o dinheiro proveniente da ajuda do Estado, caso tivéssemos tido a sorte de falir. Em todo o caso, a palavra-chave é «desconhecimento». Quanto menos se chamar «estagnação» à estagnação, menos perceberemos o que se passa. E essa, pelos vistos, é a maneira correcta de estar na economia.
Tenho seguido atentamente a actualidade económica e estou em condições de avançar com uma informação que me parece relevante: a economia portuguesa está estagnada em todo o lado menos na agência Lusa. Não sei que microclima económico se vive na redacção da agência de notícias, mas o certo é que, a fazer fé nos jornais (prática que, no entanto, não recomendo), os seus jornalistas foram proibidos de usar a palavra «estagnação» para descrever o que parece claramente ser uma estagnação. Para todos os que se queixam de falta de imaginação no jornalismo, a medida tem algum interesse. Parece um exercício de escrita criativa: descreva a estagnação económica actual sem recorrer às palavras «estagnação» e «económica». O que se perde em rigor, ganha-se em fantasia.
Como sempre que alguém impõe uma proibição sobre o discurso dos outros, levantaram-se imediatamente vozes que, por tolice ou maldade, bradam, à primeira oportunidade «censura!» Trata-se, evidentemente, de uma conclusão precipitada. Proibir alguém de dizer determinada palavra não é necessariamente um acto de censura. Pode ser uma tentativa, aliás bastante nobre, de zelar pela urbanidade do trato. Por exemplo: «Não se diz estagnação, que é feio.» Quem sabe se, na evolução do latim «stagnare» para o português «estagnar», a palavra não sofreu um metaplasmo qualquer que a torna obscena? Por detrás da proibição imposta aos jornalistas da Lusa pode estar um subtil linguista que encontrou estragação na estagnação.
Outra hipótese: superstição. Como no caso daquelas pessoas que receiam dizer o nome de certa doença, também aqui pode haver o medo de que, se falarmos em estagnação, ela nos apareça – logo a nós, que estamos tão longe dela. Seria azar, convenhamos.
Há ainda outra possibilidade. Hoje em dia, toda a actividade económica parece decorrer num ambiente de ignorância. Greenspan não sabia que estava a preparar uma crise de dimensões históricas. O Banco de Portugal não sabia que as contas do BPN não batiam certo. Os administradores do BPN não sabiam nada. Eu próprio desconheço, por completo, o que se passa nos bancos portugueses e, à primeira vista, todos os seus gestores me parecem pessoas de bem. É possível, por isso, que eu seja administrador de um banco sem que o saiba. Tenho o perfil e a doce inconsciência que o cargo, aparentemente, exige. Solicitaria apenas ao banco que estou a administrar sem o saber que me enviasse os lucros, se os houvesse, ou o dinheiro proveniente da ajuda do Estado, caso tivéssemos tido a sorte de falir. Em todo o caso, a palavra-chave é «desconhecimento». Quanto menos se chamar «estagnação» à estagnação, menos perceberemos o que se passa. E essa, pelos vistos, é a maneira correcta de estar na economia.
2 comentários:
E nesta linha : Não chames Socialista aos sr. Sousa .
Eu quero as minhas dívidas nacionalizadas e Já !
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