segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Na minha estante


"De facto, as consequências da globalização têm sido muitas e profundas. Nos termos, totalmente novos e agressivos, em que se põe hoje o problema da concorrência, todos se sentem e estão em forte competição com todos. Isso gera um clima permanente de incerteza e insegurança, em que todos, ou quase todos, parecem estar envolvidos numa permanente luta pela sobrevivência.

É clima em que as pessoas e os grupos se encontram mais vulneráveis à agressividade e ao egoísmo, a olhar como um rival a remover do caminho, e não como um semelhante com quem partilha o passado da humanidade e deve partilhar o futuro.

Vale a pena lembrar que a globalização não existe no vácuo.

É precisamente porque vivemos em clima de liberalismo económico e filosófico que nela exerce um papel fundamental a estrutura de poder.


Trata-se, naturalmente, de um jogo em que os mais poderosos, países e empresas, estão em condições de colherem os maiores benefícios do sistema.


Isso acontece porque estamos perante uma globalização não regulada. E a regulação, mesmo quando vier a existir, não será garantia de justiça se não forem preenchidas duas condições fundamentais: primeiramente, a revalorização da noção de bem comum, de que hoje nem se fala, e em segundo lugar a existência de uma autoridade que tenha função de promover esse bem comum.


Todo o progresso que vem sendo realizado está nas mãos dos homens e mulheres do nosso tempo. De nós depende fazermos desse progresso o que quisermos e pudermos, ou deixarmos que o mesmo simplesmente aconteça, o que pode pôr em causa - como está pondo, em muitos aspectos - a própria noção de progresso. Aquilo a que normalmente chamamos progresso - a electrónica, as ciências da matéria e dos materiais, a informação, a comunicação, os transportes, a globalização - é progresso na sua origem, ( enquanto conquistas do ser humano ) mas nem sempre é progresso na sua finalidade. E a finalidade da actividade humana só pode ser medida e fixada por critérios éticos e valores.


Neste entendimento, havemos de interpelar o progresso com duas questões fundamentais.


Primeira questão: O avanço tecnológico serve como instrumento de felicidade e paz ou como causa de degradação humana, de ansiedade, sofrimento e divisão?


Segunda questão: A quem serve e se destinam os meios de bem-estar que o progresso vem produzindo?


É além do mais, nestas duas questões que o progresso adquire uma dimensão ética e ganha um valor finalístico e não apenas instrumental. Caso contrário, em vez de progresso há desperdício, ou seja, recursos utilizados sem finalidade ética e humanamente válida e justificável."
Alfredo Bruto da Costa

4 comentários:

Clotilde Moreira disse...

Bom dia Tiazoca:
Levanta-se uma pessoa cheia de frio, apesar de alguns raios de Sol, abre esta ferramenta sofisticada e apanha com este texto que a obriga a pensar. Ainda por cima as noticias das 8h00 dizem que o Sócrates ameaça com dias sombrios e quer maioria para governar à vontade. Como ele gosta do Poder.
Estou baralhada.
Vou tomar ar para a rua.
Clotilde

Tiazoca de Oeiras disse...

Confesso que com o presente post não desejava que a Clotilde se constipasse ou ficasse baralhada.

Mas aquilo que o Bruto da Costa diz é muito semelhante ao que afirma em muitos dos seus posts “ coisas de Algés” e que vivemos no nosso quotidiano.
Senão repare-se :
O liberalismo económico produziu um crise no sistema financeiro de dimensões inimaginável, alastrando à economia . O "sacrosanto mercado"que se auto regulava verificou-se que não se auto regulava em nada, antes contribuía em muito para que a ganância fosse a "ética "dominante. Olhe-se o BPN – tudo lhe foi permitido para dar dinheiro a ganhar a alguns , desde as formas lícitas às ilícitas . E aqueles homens alguns deles que exerceram funções públicas e "bem colocados com agendas telefónicas interessantes" trabalharam para o bem comum ou para o bem comum ao meio restritos dos amigos "especiais"?

E onde ficou a autoridade do Estado?

E onde está a justiça no meio disto tudo, num país com 20 % da população a viver abaixo do limiar da pobreza, e como denuncia Bruto da Costa, entre 1995 e 2000 passaram pela pobreza 46% de portugueses?
Que futuro ajudaram a construir estes homens para Portugal? Hoje, estamos mais pobres e com um desemprego que se avizinha catastrófico.

O avanço tecnológico de uma sociedade deve servir para o bem-estar de todos . Pois, olhe outro exemplo : Magalhães - Decidiu o Estado investir em computadores . Não avaliando já a atitude pedagógica de se dar um computador quando o menin@ ainda não adquiriu competências básicas a nível do ler, escrever somar , relacionar, pensar pergunto-lhe : Se eu tenho escolas onde falta o aquecimento, estão velhas, desadequadas e sem o mínimo de conforto como por exemplo, WC , cantinas , equipamento escolar etc, eu invisto recursos para facultar computadores a todos . Ora, qual a finalidade desta medida ? E se falta o emprego ao pais, a casa, a saúde, o computador Magalhães dá-me bem estar ou revela-se mais um desperdício ?

E outro exemplo que lhe é caro ... Valerá a pena gastar imenso dinheiro num jardim e esquecermos o conforto para quem o utiliza, no pequeno pormenor de uma casa de banho ou de bancos minimamente confortáveis? Foi um investimento ou foi um desperdício? Foi o pensar no bem comum?

Claro que eu sei que a Clotilde sabe exactamente a resposta a estas questões e sabe muito bem que precisamos de uma sociedade ética, com valores e em simultâneo se a autoridade que a controla for a Justiça pois que esta seja rápida, eficaz e imparcial e não morosa complexa e parcial. Nem vale a pena dar o exemplo da corrupção .

Precisamos de uma sociedade livre e ninguém pode ser livre sendo pobre e vivendo na miséria . É por isso que se diz cada vez mais que para ser livre não basta que a lei o afirme, é preciso que as pessoas tenham as condições necessárias ao exercício da liberdade. E ninguém é livre sem casa, dinheiro para a alimentação,vestuário e acima de tudo um emprego que lhe permita a autonomia e não esteja alicerçado na precariedade e nos baixos salários . Não podemos ter uma sociedade em que se diga que temos de crescer primeiro para distribuir depois porque temos observado e verificado que esta política económica, não consegue conjugar o crescimento com a distribuição do rendimento.

A propósito Clotilde, o dia embora frio, esteve bonito .

Clotilde Moreira disse...

Tiazoca,

Apesar de focar tantos pontos com justeza de observação, tantos outros estão a acontecer. Eu quando disse que me baralhou foi porque me obrigou a PENSAR e a ficar revoltada pela impossibilidade de encontrar Esperança de um mundo melhor JÁ. Mas vou continuar.
Um abraço.
Clotilde

Isabel Magalhães disse...

Bom dia, 'Tiazoca';


Chego a pensar que os interesses da população estão na razão inversamente proporcional dos interesses dos governantes e respectivo elenco.

Tenha um dia bom, aproveite que hoje há SOL, novamente. ;)