quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

o passo de caracol sai caro...

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nota prévia: Clique nas imagens para ampliar.


Ontem tivemos que nos deslocar a casa dum familiar. Olhai senhores! Olhai a novidade! Parece coisa que não costumemos fazer, a ponto de justificar uma peça no Oeiras Local. Pois parece. Mas não é. A verdade é que não é a deslocação em si que aqui nos traz, mas uma outra questão com ela relacionada e por isso com ela iniciamos esta peça e dela partimos à descoberta.

Para a sua abordagem, da questão está claro, não poderemos deixar de fazer a respectiva e necessária contextualização e enquadramento espácio-temporal, partindo precisamente da mencionada deslocação, e de muitas outras idênticas que efectuamos com substancial regularidade.


Sintetizemos então, para situar e enquadrar o problema nos seus devidos parâmetros orgânicos e contornos estruturais:

1. Moramos na Qta. do Marquês / próximo do Pingo Doce de Sassoeiros.

2. O nosso familiar mora na Medrosa / próximo do Centro de Dia.

3. A distância entre as duas residências em linha recta é de ca. 1.913,26 metros (*).
4. A distância por estrada é de ca. 2.957,42 metros (seguindo o percurso das camionetas) (*).
5. Deslocamo-nos em transportes públicos - Stagecoach.

6. Usamos 2 carreiras: Qta. Marquês - Estação e Estação - Medrosa (não existe carreira directa).

7. A carreira Qta. Marquês - Estação, demora ca. 6 minutos em trânsito.

7a. Esta carreira circula aproximadamente de 20 em 20 minutos nos períodos menos intervalados; nos mais intervalados pode chegar aos 45-60 minutos (quando há).

8. A carreira Estação - Medrosa, demora ca. 5 minutos em trânsito.

8a. Esta carreira circula aproximadamente de 20 em 20 minutos nos períodos menos intervalados; nos mais intervalados pode chegar aos 30-35 minutos (quando há).

9. Os horários das 2 carreiras não se sincronizam.

10. O total das carreiras, em trânsito, é de 11 minutos.

11. A deslocação entre os dois pontos, em dia de semana e no período horário mais intenso, demora cerca de 45-60 minutos em média; 1h30 ida e volta.

12. Devido ao ponto 9, p.ex. aos domingos, a deslocação pode atingir 1h30 a 2h00; 3h00 a 4h00 ida e volta. Noutros casos pode acontecer o oposto, ou seja, por sorte conseguir-se fazer a deslocação em pouco mais de 40 minutos (dia de semana). Tudo depende dos compassos de espera e dos atrasos.


Do disposto acima sobressai desde logo, fazendo a média, que a mencionada deslocação de ida e volta, considerando 5.914,84 metros e 3h, é feita a uma velocidade de cerca de 1.971,62 m/h. Cerca de 2 km/h...
Uma velocidade estonteante e alucinante digna dum concelho que se proclama I&D...


Passemos então à questão principal, que não era a anterior. A problemática dos custos de deslocação.

Os títulos de transporte apresentados na imagem supra são os que foram usados na mencionada deslocação, adquiridos a bordo, e são em virtude disso o preço máximo (**):

Verde - 1,90 € - viagem Qta. Marquês - Estação e vice-versa.
Azul - 0,90 € - viagem Estação - Medrosa e vice-versa.

O total calcula-se facilmente: 5,60 € (cerca de 1.122$68 na moeda antiga).


Elementos finais deduzidos:

Percurso - 5.914,84 metros

Tempo - 3h

Custo - 5,60 €

Se não me falha a aritmética - aceito humildemente quaisquer correcções -, meia dúzia de cálculos produzem estes resultados prévios:

velocidade - 33 metros/minuto

custo 1 - 0,10 €/metro

custo 2 - 32 minutos/euro


Tirem as vossas conclusões...


Quero ainda, antes de terminar, deixar aqui uma reflexão:

Nem toda a gente tem transporte próprio, pelas mais diversas razões. São muitos os que recorrem aos transportes públicos para se deslocarem. Convenhamos, já agora, que com os problemas ambientais, os de trânsito e estacionamento, etc., seria um pandemónio indescritível se todas as pessoas andassem de carro.

Há imensas razões para que alguém saia de casa e vá a algum lugar, e que o faça optando pela camioneta. Pretende-se aliás afirmar Oeiras como um concelho moderno (modelo?), com qualidade de vida, com uma 'movida' a vários níveis, capaz de pôr a mexer tanto os locais como os turistas. Gostaríamos de acreditar.

Apenas para dar alguns exemplos, fora do quadro das deslocações imperativas como ir ao médico, aos correios ou ao banco: ir até à beira-mar, passear ou a uma esplanada, ir a uma exposição, a um museu, assistir a eventos culturais, a espectáculos, visitar amigos e familiares, almoçar ou jantar fora, ou simplesmente andar a ver montras (poucas).
Muitos são os argumentos para proporcionar à população oeirense razões para não se enclausurar em casa, quiçá a ver telenovelas o dia inteiro.

Esta rede de transportes públicos não incentiva ninguém a sair para coisa nenhuma. Antes pelo contrário, é logo à partida um factor desmoralizador e desmotivador, quer pela escassez, quer pela fraca qualidade e desconforto, quer pelo custo.

Ouvimos falar em bus MoveOeiras... mas nunca mais aparecem por estas bandas. Serão apenas ideias peregrinas?


Para quando um sistema de transportes públicos moderno, eficaz e eficiente? Já tarda.


(*) Dados calculados no Google Earth.
(**) As senhas saem mais barato, assim como o passe, mas quem não as/o utilizar diariamente acaba por pagar mais, como é óbvio.


origem das imagens:
vistas aéreas - © Google Earth
fotografia: 09-07-2007, 13h00 © josé antónio • comunicação visual
bilhetes: digitalização dos originais

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4 comentários:

Clotilde Moreira disse...

O MoveOeiras era, foi um transporte que existiu em Linda a Velha (como o Lés a Lés em Algés) que durante o dia dava a volta à freguesia e levava os fregueses aos principais pontos: centro de saúde, escolas, mercado... Andava sempre cheio. Depois acabou: não era um transporte de EXCELÊNCIA. Agora há o Combos que que passa quando passa, liga??? freguesias e vazio. À chamadas de atenção dizem sempre que está em estudo o seu aperfeiçoamento. Por isso é que era uma boa prenda para Oeiras haver transportes ao Serviço das populações.

Clotilde

Isabel Magalhães disse...

O 'MOVEOEIRAS' era um serviço de autocarro grátis, prioritariamente destinado a idosos e crianças em idade escolar, que circulava na vila de Linda-a-Velha, por iniciativa da então Presidente da CMO Dra Teresa Pais Zambujo.

Logo que o actual executivo camarário tomou posse em 2005 fez questão de suspender o serviço que, diga-se de passagem. andava sempre cheio.

Apesar das 6.500 assinaturas recolhidas na freguesia, - aproximadamente numa semana - para que o 'Moveoeiras' continuasse a circular e de toda a Oposição que propunha um estudo de viabilidade económica antes de se suspender o serviço, o actual PCMO foi irredutível.

Depois surgiu o 'COMBUS' que faz concorrência ao 'SATU' e anda sempre 'cheio de vazio'!

Unknown disse...

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MoveOeiras... Combus... LesmaOeiras... ou outra treta qualquer! O nome não interessa, o que conta é a ideia e a intenção - e a não reacção do Poder ao descalabro e abuso das operadoras, que têm em circulação muito material em mau estado, aumentam frequentemente os preços por dá cá aquela palha, têm horários desajustados (que não cumprem), não criam carreiras onde fariam falta - 'não dá lucro'-, etecétera, etecétera, etecétera...

Sobre isto ainda ninguém disse nada. Talvez não interesse.

Repetir à exaustão a eterna conversa sobre o MoveOeiras e o Combus é bater em mortos.

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Anónimo disse...

Parabéns ao repórter. Excelente. Já agora p PCMO admite que este é o principal problema do Concelho. Mas também vai dizendo que resolução cabe ao poder central, ou à tal Alta Autoridade Metropolitana (que parece vai andar). Insiste que não quer transportes de borla...como se os transportes não fossem um "direito" como tantos outros. A solução para a mobilidade passa por uma decisão política (local) que torne acessível e apetecível em custos e frequência de pequenas e médias viaturas que sirvam quem tem carro e não tem carro. Aqui em Caxias é um drama até para quem tem carro. Quando eliminaram as actividades agrícolas do Concelho (ta renego) substituíram os burros por “bestas”, dos casebres fizeram caixotes que espalharam por tudo quanto é sítio, e é o que se vê. A isto chama-se ausência de planeamento efectivo...mas como há quem prefira os elogios o "conde" vai nu mas poucos reparam.