quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Estado das coisas

A mão na massa

“No meio deste lamaçal, a grande surpresa é a ‘surpresa evangélica’ do governador do Banco de Portugal”
A recente crise financeira, que se abateu sobre o Banco Português de Negócios é, antes de tudo, um verdadeiro caso de polícia, em que o Direito e a Justiça têm de ser chamados a pronunciar-se. Para isso é necessário que os factos noticiados, de uma gestão com uma prática de "legalidade duvidosa", como disse o ministro das Finanças, cheguem aos tribunais.
A vontade política vai ser o farol que irá fazer despoletar e orientar essa denúncia, para bem da transparência e da credibilização do sector financeiro, que ficou beliscado na sua imagem com esta gestão doméstica dos dinheiros dos contribuintes.
Interessam-me pouco os aproveitamentos políticos. Estou mais preocupado com os efeitos colaterais desta crise que pode manchar a reputação do restante sector financeiro, que é fundamental para a sobrevivência da economia real, e com o dinheiro dos depositantes que não podem pagar as perdas do BPN. Só a responsabilização criminal, civil e política dos administradores que por lá passaram e de alguns accionistas do banco poderá minorar os estragos. Nada fazer e ficar tudo pelos gabinetes da governação, escondendo este escândalo ou este ‘milagre’ que, num toque de mágica, fez desaparecer cerca de 700 milhões de euros, é o que separa o bom do mau governante.
A confiança no sector financeiro é vital para a sua sobrevivência. Com certeza que nesta estória, no que toca ao vil metal, alguém ficou mais rico e com os bolsos cheios. Mas ficou, seguramente, moral e eticamente mais pobre. Bem sei que hoje em dia não são, infelizmente, estes os valores que comandam o Mundo. Mas entre ficar de bolsos cheios, de forma desonesta, prejudicando o País e os depositantes, é preferível ficar mais pobre e andar com a alma limpa e de cabeça erguida.
Esta gestão ruinosa que vem desde 2002, feita por muitos dos homens, verdadeiros notáveis da praça, que ganhavam principescamente, nada tem que ver com a crise financeira internacional. Tem que ver com a ganância, com a avidez e com a falta de escrúpulos, cujo limite é o céu. É bom que se ande rápido, que se apreenda os bens dos administradores e accionistas que participaram nesta triste novela da vida real, impedindo que fujam das malhas da Justiça e ponham a salvo o ‘seu’ património, para que não sejam sempre os mesmos a pagar com mais impostos.
No meio deste lamaçal, a grande surpresa é a ‘surpresa evangélica’ do governador do Banco de Portugal, que não sabia de nada, quando toda a gente sabia de tudo.



Rui Rangel, Juiz desembargador

in - CM- 05-11-2008

6 comentários:

Clotilde Moreira disse...

Disseram no Telejornal que o Governador do B Portugal ganha por mês Euros 17 000. É possível que eu tenha ouvido mal.
Clotilde

Unknown disse...

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Clotilde,

Ouviu BEM...

Todos ouvimos, e há muito tempo que é do domínio público.

Um belo ordenado para alguém que não sabia de nada...

p.s.: Estudar para quê, se sem se saber nada se pode ganhar tão bem ?! :)

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Anónimo disse...

É uma «surpresa evangélica» porque eles são todos uns «ANJOS»

Isabel Magalhães disse...

Pergunto eu: As auditorias não eram/são supostas detectar irregularidades? E ainda outra: Quem faz as auditorias aos bancos privados?
E agora uma que li em rodapé num canal tv nacional logo no passado domingo: 'Um empregado/funcionário que denunciou irregularidades foi despedido'.

Pois...!

Oeiras disse...

É bom escrevermos muito aqui enquanto pudermos, porque pelo andar da carruagem não vou morrer sem ainda ver o direito à expressão outra vez cortado neste país...

meninaidalina disse...

Ora, eles são todos muito amiguinhos . O Oliveira e Costa tb pertenceu ao Banco de Portugal e dizem que recebe uma pensãozita do mesmo....

E o Vitor Constâncio para supervisionar as falcatruas não pode ; mas para mandar palpites sobre energia nuclear e salários dos trabalhadores é um campeão ....

Eu bem digo que o meu País é uma vergonha .... e que estes tipos todos falta-lhes a vergonha na cara .