As três irmãs monstruosas: as górgones
O ensino transformou-se num reino das trevas. No seu interior evaporaram-se as ideias sobre o que devemos, afinal, aprender. Uma reflexão séria, apoiada numa base científica sólida, sobre os objectivos do ensino, é algo que não se vislumbra acontecer em parte alguma. Em vez disso pontificam as duas irmãs- a grande insegurança e a grande confusão.
Experimentam-se continuamente modelos novos. A escola regressou ao princípio da economia da troca directa. O desconhecimento da língua e da literatura nacionais podem ser compensados por educação física, e as lacunas em matemática por religião e moral. Os pontos obtidos nas disciplinas nucleares escolhidas pelo aluno têm o dobro do peso dos pontos conseguidos nas disciplinas regulares. Tudo isto faz da escola um mercado, onde se negoceiam notas e onde os alunos regateiam com os professores pontos decimais. O facto de tudo poder ser combinado com tudo, de tudo ser permutável e passível de ser compensado, conduziu à consagração da terceira irmã górgone: a grande aleatoriedade.
O seu domínio fez com que se esfumasse a ideia do valor cultural e impermutável de cada disciplina, dependente do respectivo conteúdo. O princípio fundamental de qualquer ordenamento hierárquico dos diversos conteúdos do saber foi posto de parte: a distinção entre o essencial e o acessório, entre o central e o periférico, entre o dever e a escolha, entre as disciplinas nucleares e as facultativas.
O mito e a cosmologia ensinam-nos: quando o desenvolvimento bate no fundo, é tempo de arrepiarmos caminho. A noite mais longa é, ao mesmo tempo, o solstício; após a descida ao inferno segue-se a ressurreição. Por isso são horas de acabarmos com o domínio das três irmãs que são a grande insegurança, a grande confusão e a grande aleatoriedade. Uma das górgones mitológicas é a Medusa, cujo o olhar é mortífero; se a confrontamos com um espelho, ela mata-se a si própria. Comecemos pois por aí.
1 comentário:
Numa só palavra:
OPORTUNO!
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