O que não falta na Figueira da Foz são donzelas cristãs que, após uma tarde de apostas na roleta, desejam unir-se em casamento com um seguidor do islamismo
Mais de um milénio depois, os mouros estão de volta a Portugal e desta vez querem casar connosco. Em 711 vieram para lutar; agora vêm para contrair matrimónio o que, pensando bem, é quase a mesma coisa, se não for mais sangrento. Por sorte, os cruzados continuam de atalaia e, depois de terem rechaçado a invasão da Península Ibérica, parecem prontos a impedir esta nova e igualmente perniciosa invasão das conservatórias.
Pessoalmente, confesso que não dei por nada. Só sei que os mouros voltaram porque, no espaço de pouco mais de um mês, dois cardeais foram ao Casino da Figueira precatar as moças católicas contra os perigos do casamento com muçulmanos. Eu não conheço uma única senhora que pretenda desposar um muçulmano, nem imagino a razão pela qual os mouros, aparentemente, preferem noivas católicas frequentadoras de casinos. Mas a verdade é que, tendo em conta a frequência dos avisos e o local em que eles são emitidos, o que não falta na Figueira da Foz são donzelas cristãs que, após uma tarde de apostas na roleta, desejam unir-se em casamento com um seguidor do islamismo.
Vivemos em tempos estranhos.
A única senhora com a qual travei conhecimento que casou com um mouro chamava-se Desdémona, e realmente viria a ser assassinada pelo marido, mas não é menos verdade que o principal responsável pela sua morte foi um cristão especialmente pérfido. Suponho que aconselhar as raparigas a evitarem o casamento com mouros que tenham subordinados cristãos particularmente malévolos seja menos eficaz, e até pouco prático, mas de acordo com a minha experiência pessoal é, de facto, o mais apropriado.
Não quero com isto dizer que desconsiderei as recomendações dos cardeais.
Pelo contrário, tomei-as a sério: nunca ninguém me há-de ver casado com um muçulmano. Até porque conheço bem o perigo que corremos quando nos relacionamos com pessoas que interpretam literalmente os textos sagrados, como fazem muitos muçulmanos e o cardeal Saraiva Martins. Mas, em Dezembro de 2007, D. José Policarpo disse que o maior drama da humanidade era o ateísmo. Pouco mais de um ano depois, vem alertar as portuguesas para os malefícios do casamento com gente que acredita e muito em Deus, e esquece-se do perigo que representam os incréus. Não digo que, para impedir os casamentos entre católicas e ateus, volte a entrar num casino. Mas custa-me a compreender que não interrompa ao menos um jogo de poker para avisar as jovens católicas que pretendem casar-se com quem professa o maior drama da humanidade. A minha mulher deveria ter tido a oportunidade de saber o monte de sarilhos em que se ia meter. Estar casada com um palerma que não deseja matá-la por causa das suas convicções religiosas é um drama pelo qual nenhum ser humano devia ser obrigado a passar.
Visão – 26.02.2009
3 comentários:
A ironia do RAP é deliciosa .
Eu também achei que o facto do sr. padre estar num CASINO, sim num CASINO, a botar faladura da mais fina lucidez, só pode ser pecado mortal.
Anunciação;
'A tradição já não é o que era'! ;)
Nem o conceito de pecado .
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