quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

PONTOS DE VISTA por JORGE MIRANDA

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DEVORISMO



A intenção de a Administração do Porto de Lisboa fazer construir a sua nova sede no terrapleno ribeirinho frente a Algés é sabida desde cerca de 2006. Mas perece que só agora se tomou consciência da lesão paisagística que tal projecto acarretará. Foi necessário que esta autoridade levantasse impedimento (já ultrapassado) à utilização daquele espaço para a realização de um festival de música, agora na terceira edição consecutiva, para se acordar e cair na real. E o projecto de execução já se encontra concluído e a obra, infelizmente, irá avançar no segundo semestre deste ano.

A Administração do Porto de Lisboa goza de autonomia no seu espaço de jurisdição. Vive em autarcia. É uma “ilha” que se desenvolve numa larga área distribuída pelas duas margens. Nem sequer tem de submeter a licença os projectos que empreende. E neste quadro decidiu construir o edifício da sua nova sede sem dar conhecimento à Câmara de Oeiras, o que nos parece que estaria obrigada, embora sem obrigação de se sujeitar ao seu parecer.

Agora que o poder autárquico tanto reivindica a restituição do Tejo para fruição da população e reclama a preservação do espaço, livre de barreiras, especialmente de cimento ou de contentores (veja-se o que se pensou para Alcântara), o Porto de Lisboa dissipa uma portentosa área, com potencial aptidão para o recreio e lazer, para fazer construir um imóvel, em proveito próprio. Primeiro “eu”, depois a população! Sem lesar a comunidade, a opção deveria recair sobre outro terreno.

A construção projectada, “em forma de paralelepípedo alongado, tem dois pisos e assenta sobre pilotis”. Embora o primeiro piso seja vazado, o edifício é “alongado”. Constituirá, portanto, uma muralha que macula a paisagem. E temo-lo como um atentado urbanístico, dadas a vocação do espaço e o seu desejável equilíbrio.

Mas se a Administração do Porto de Lisboa mostrou insensibilidade e não terá ponderado as consequências do seu projecto, a Câmara de Oeiras teve o mesmo comportamento. Porquê só agora protestou e por causa de um efémero festival? Foi um acontecimento acessório e não a essência que motivou a reacção. E porquê uma intervenção “contida” da Câmara e apenas, publicamente, o aparecimento de uma petição de protesto liderada pelo vereador Pedro Simões?

Ir-se-á a tempo de travar o processo?

Jorge Miranda
jorge.o.miranda@gmail.com
Com os habituais agradecimentos ao Autor e ao Jornal da Costa do Sol pela cedência do artigo e à revista municipal oeiras actual pelo uso da foto.

7 comentários:

Anónimo disse...

A pergunta é: Estará a CMO interessada em parar o processo?

antonio manuel bento disse...

Caro Senhor Jorge Miranda,

Aproveito desde já para lhe dar os parabéns pelo excelente texto com que mais uma vez presenteia os leitores do Oeiras Local. Aprecio sobremaneira a sua eloquência e pertinência nos temas escolhidos, principalmente por os mesmos se centrarem invariavelmente no nosso estimado Concelho de Oeiras.

A questão que lhe queria colocar, e que talvez me saiba responder, é a seguinte:
Sendo toda esta área um aterro que foi construído ao longo dos anos 80 pela CMO não terá esta uma palavra a dizer sobre os destinos destes terrenos?

É que foi a Câmara que construiu aquele espaço!! Com dinheiro dos contribuintes oeirenses, o Porto de Lisboa não deve interferir numa zona que não lhe pertence; ESTAMOS EM OEIRAS!!!

Esta situação demonstra bem a incompetência de Isaltino Morais e Emanuel Martins (este não deve ser nunca esquecido pois é pior do que o primeiro) que perpetraram o maior ataque ambiental alguma vez feito no nosso Concelho, ao fazerem um aterro gigante com o intuito de lá edificarem o chamado “World Trade Center de Oeiras” nos idos anos 80. Como tal não foi permitido o aterro tornou-se um baldio ao longo de muitos anos, tendo nos anos 90 sido concluído para se fazer um espaço “ajardinado” mas que no fundo é uma base para circos e outras palhaçadas do género. Pessoalmente não percebo porquê tanta indignação por causa do projecto do Porto de Lisboa quando ninguém se indigna com as tendas gigantes que permanecem indefinidamente lá estendidas. É que apesar de não serem de betão criam um impacto terrível com todas as condicionantes que a construção do Porto de Lisboa também irão causar.

Atentamente,

António Manuel Bento, um cidadão ao serviço da comunidade.

meninaidalina disse...

Pois, eu também acho que esta história continua a estar muito mal contada . E a dúvida do anónimo faz todo o sentido .

Anónimo disse...

Está mal contada está. O aquário não ia passar para o outro lado? E além do WTC não iam lá fazer outras coisas?
GIGI

Anónimo disse...

E eram uns tanques para as focas e eram uma marina, e eram um complexo de arranha céus, eram um conjunto de impossibilidades e ficou um vazio para uso do porto de lisboa.

Anónimo disse...

Nunca fizeram nada, com excepção de durante uns anos (uma vez por ano) ter sido o local da partida da Corrida do Tejo, ou de vez em quando, base para circos e outros espectáculos. E o IPIMAR (com um razoável auditório onde, uma vez, se chegaram a realizar concertos)?
Agora, surge a Câmara preocupada por causa da realização do Optimus Alive em ano de comemoração dos 250 Anos (e já ouviram alguma coisa de jeito?). A senhora presidente da Junta de Algés também disse umas coisas bem como o senhor presidente/comandante dos bombeiros da Cruz Quebrada/Dafundo. De resto, nada. Como nada foi o que fizeram naquele espaço, o ano passado, e o outro antes desse. E assim sucessivamente...
Já viram como se sai do túnel da estação? Já viram como se atravessa em frente à saída do viaduto? Já viram como se ultrapassa aquela rotunda, seja para ir para a frente ribeirinha seja para o terreiro?
Lembram-se de alguma iniciativa camarária ou das juntas, ali realizadas?
Acham sinceramente que essas criaturas, todas juntas, têm alguma ideia naquelas cabeças?

Anónimo disse...

Ao Anónimo das 21:12
Li que iam fazer uma travessia aérea do Jardim de Algés para o outro lado e há afirmações que garantem que o tunel da estação está feito para passar de carro.