quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Crónica de Ricardo Araújo Pereira

Visão – 19 de Fevereiro 2009









UM GRANDE DEBATE NACIONAL SOBRE GRANDES DEBATES NACIONAIS - A melhor maneira de lançar Portugal no caminho do desenvolvimento não é ouvir os portugueses, é ouvir os noruegueses


O PS e o PSD querem falar connosco. Primeiro foi a crise, agora é este súbito interesse dos dois maiores partidos em falar com os portugueses. 2009 é, definitivamente, o ano das más notícias.
Há uma semana, Manuela Ferreira Leite anunciou o Fórum Portugal de Verdade, uma iniciativa que pretende resolver os problemas que preocupam os portugueses, designadamente com soluções que preocupem de outra maneira os portugueses. Depois, José Sócrates, na qualidade de candidato a secretário-geral do PS (que é uma pessoa muito parecida com o primeiro-ministro, só que enfrenta uma oposição mais forte), declarou que o partido iria levar a cabo um grande debate nacional com o objectivo de definir a plataforma eleitoral com que o PS se apresentará às eleições para continuar a política que gerou a necessidade deste grande debate nacional.
Os grandes debates possuem características específicas que não só os distinguem dos pequenos debates como os tornam encantadores. Em primeiro lugar, os grandes debates são inúteis. A melhor maneira de lançar Portugal no caminho do desenvolvimento não é ouvir os portugueses, é ouvir os noruegueses. Falemos com gente que sabe mesmo o que é desenvolvimento a sério. Trata-se de um povo que consegue desenvolver-se às escuras no meio do gelo. Pode ser que tenham sugestões importantes para dar a quem vive num clima em que o Verão dura mais de dez minutos.
Em segundo lugar, os grandes debates nacionais são sazonais. Só medram em ano de eleições. Desde os Estados Gerais do PS, em 1995, até ao Fórum Portugal de Verdade, todos os grandes debates nacionais decorreram no ano de eleições legislativas. Sempre que os cidadãos se dirigem à cabina de voto, os dois maiores partidos fazem muita questão em ouvi-los. Nos anos em que não vai às urnas, o povo, aparentemente, não tem nada de especialmente interessante para dizer.
Por último, os grandes debates nacionais são inquietantes. Os do PSD misturam Portugal e verdade, que são dois conceitos geralmente tidos como incompatíveis. Além de que, num ano como este, disporem-se a dizer a verdade aos portugueses parece ser uma crueldade desnecessária. A única mais-valia do debate proposto pelo PSD é avançar com a verdade um bom par de meses antes das eleições e, portanto, da campanha eleitoral – da qual a verdade costuma estar convenientemente afastada. Os grandes debates propostos pelo PS realizam-se no âmbito das Novas Fronteiras, o que pode ser trágico. Ao fim de um ano de governo, Sócrates foi às Novas Fronteiras declarar que o País começava a recuperar a confiança. Ao fim de dois anos foi dizer que era claro que o governo tinha um rumo. Ao fim de três anos foi garantir que o governo tinha conseguido fazer um trabalho notável no domínio da estabilidade e da confiança nas instituições. Tenho alguma curiosidade relativamente à comunicação deste ano, mas confesso que, se é para ouvir debates com intervenções sem nexo, prefiro o Fórum da TSF, que é mais animado.

1 comentário:

Isabel Magalhães disse...

Não me consigo esquecer do 'desenvolvimento das larvas' numa Fábrica de Bacalhau, - da Noruega - que até exporta para Portugal.