quinta-feira, 26 de junho de 2008

mais um atentado ao Património histórico-cultural de Oeiras?

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Caros, ao que sabemos de fontes seguríssimas, mais um potencial atentado ao Património Histórico e Cultural de Oeiras — e de toda a Linha de Cascais, quiçá de Portugal — pode estar em preparação, mesmo debaixo das nossas barbas.

Um atentado que vem na sequência daqueles que por aqui temos alertado, como os casos recentes do Palácio dos Arcos e da Fundição de Oeiras, e a ver vamos o que se prepara para o Palácio do Marquês e para a Quinta de Cima, atentados estes que apagam a nossa memória histórica, a qual temos por obrigação preservar para as gerações vindouras.

Dizia Braudel(1) "Estudar o passado para compreender o presente".
Pois claro que sim. Acontece é que o estudo do passado fica inviabilizado quando se apagam as memórias e se destroem os documentos e vestígios do passado, sejam eles de que natureza for.
Nestes documentos e vestígios inclui-se com grande pujança e visibilidade o património monumental e edificado.

Qualquer intervenção em tal património, frequentemente imposta pela necessidade, condicionada pela própria degradação dos edifícios, e mesmo necessidade de os modernizar para lhes garantir utilidade, deve ser feita de modo a minimizar os efeitos nefastos da intervenção, tantas vezes esta é descuidada, e a garantir o máximo de pregnância da memória, presente na linguagem do edifício e na sua relação de alteridade - em que o alter, o outro, é tanto o espaço envolvente como as pessoas que com ele se relacionam, directa ou indirectamente, desde fruidores do espaço interior ao simples passante.

O caso, sobre o qual de momento apenas dispomos de alguns indícios preocupantes de intervenção a breve prazo, é a Escola Secundária Sebastião e Silva, antigo Liceu Nacional de Oeiras.

19 de Fevereiro de 1988

Inaugurado em 18 de Outubro de 1952, foi no seu tempo o único liceu em toda a Linha de Cascais — de Algés a Cascais, foi criado especificamente para servir esta linha — construído pelo Estado Novo, dentro do estilo arquitectónico característico deste. Estilo direccionado para a exaltação dos valores caros ao regime.

Como tal, e porque foram felizmente poucas as vezes em que foi intervencionado, e estas intervenções não lhe destruíram a traça característica, o Liceu Nacional de Oeiras constitui o único, e já há poucos, exemplar deste tipo de arquitectura — ensino público liceal — deixado pelo Estado Novo no concelho de Oeiras.

Assim é indubitável a sua importância como património histórico e cultural.
É inquestionável a necessidade da sua consciente e coerente preservação.

Sabemos que o liceu está velho e degradado. Os soalhos de madeira estão apodrecidos, existem infiltrações de água que tudo destroem, é necessário reabilitá-lo, pois continua a funcionar, agora como escola secundária, e importa dar-lhe o máximo de boas condições para cumprir a sua função de ensino e pólo dinamizador da cultura portuguesa, humanística e científica.

O que tememos, a julgar pelo que ouvimos, é que a intervenção, tal como esta nos foi ventilada, possa pôr em causa estes aspectos patrimoniais do Liceu Nacional de Oeiras, descaracterizando-o e transformando-o numa vergonhosa salada de estilos arquitectónicos, que nada tenham a ver com coisa nenhuma. Uma mole de remendos e acrescentos que destrua a linguagem do edifício e anule o diálogo dinâmico deste com a comunidade.

Com toda a sinceridade dizemos: Oxalá estejamos profundamente enganados!

Sobre a história do Liceu Nacional de Oeiras consulte, p. f., esta página

(1) Fernand Braudel (Luméville-en-Ornois, 24 de Agosto de 1902 - Cluses, 27 de Novembro de 1985). Historiador francês, um dos mais importantes representantes da chamada "Escola dos Annales". Ver biografia aqui

imagem: © josé antónio / comunicação visual - CLIQUE PARA AMPLIAR
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16 comentários:

Anónimo disse...

Se a tempo e horas se mantiverem as coisas a degradação não se dá, para isso é necessário que haja politicas de manutenção e actualização das redes de electricidade, águas, esgotos etc.
Mas o que se passa é desleixo organizado. E então quando há alguém com ideias de grandiosidade a organização do desleixo é metódica e até caiem de noite os edificios sem que ninguém lhes toque ????
Já viram a quantidade de casa pequenas abandonadas, selvagemente sem telhas, sem portas e ninguém pede contas a quem as abandonou. Depois... Depoisé um loft, resort condominio, salas para eventos as "mais grandes"
Clotilde

Isabel Magalhães disse...

Clotilde;


"e até caiem de noite os edificios sem que ninguém lhes toque ????"


É o vento...! ;)

Isabel Magalhães disse...

J;

Mais um dos teus excelentes trabalhos de pesquiza, divulgação e alerta para - dizes bem - ATENTADOS ao Património do concelho e de todos nós.

[]

I.

Jorge Pinheiro disse...

Desconhecia inteiramente este assunto. Vou, pela minha parte, investigar. Obrigado.

Anónimo disse...

CaroJosé António Baptista,

Como cidadão do concelho de Oeiras deixo um abraço solidário com as suas preocupações.

Anónimo disse...

PESQUIZA?

Unknown disse...

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Agradeço os comentários e os encómios, imerecidos, que me são dirigidos.
Sou apenas um munícipe preocupado com a sua freguesia e concelho e, neste caso em particular, com um edifício no qual estudei vários anos e que é uma referência a vários níveis.
Referência para mim, mas sobretudo para o concelho de Oeiras e para os milhares de jovens que o frequentaram como alunos, vários deles como professores posteriormente - diz o povo "O bom filho a casa torna".

Tenho estado a aguardar mais informações para as poder divulgar aqui, dum modo mais consistente e suporte documental.

Aproveito para dizer que, apesar de ainda não se saber exactamente o nível e profundidade da intervenção, a minha fonte - a mesma disse-me que conversou com o arquitecto que está no local a estudar o edifício - a minha fonte dizia, fez-me um relato que me deixou com os cabelos em pé:
- Acrescentos aos corpos laterais;
- Um pavilhão com uma papelaria aberta para o exterior, para a rua (!);
- Arranque de árvores centenárias (já existentes à data da construção e que ficaram integradas nos espaços arbóreos exteriores, pátios p.ex.);
- Substituição das paredes e janelas dos corredores por paredes inteiras de vidro (!);
- 'Afundamento' do delicioso pátio das tílias (!), central, para 'não se sabe o quê' - este agradável e aprazível pátio interior tinha de origem um simpático lago central entretanto já desaparecido.

Aguardo, com enorme preocupação, desenvolvimentos e mais notícias, temendo que se confirmem os meus piores receios.

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Laetitia disse...

Eu fui, com muito orgulho, uma aluna do Liceu de Oeiras.
Já nessa altura nos queixávamos de tudo isso, do frio que fazia nas salas, dos pré-fabricados nas traseiras que não davam auxilio nenhum,das salas cheias de humidade, bolor e fendas nos tectos.
O ensino daquela sempre contrastou fortemente com as instalações.
O primeiro Liceu, o único Liceu para muitos alunos.
Espero que tratem dele e que mantenham-no como muitos de nós o conhecemos.

Unknown disse...

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Olá Pepper,

É verdade o que diz.
Apesar de mais 'velhote' já no meu tempo, 1973-77, se notava a degradação que refere.

A qual tem vindo a agravar-se sistematicamente porque nunca se fizeram obras de fundo de manutenção e conservação do edifício.
Apenas uns remendozitos aqui e ali, como aconteceu há poucos anos para tentar obviar às infiltrações.

Obras no sentido da conservação, para melhorar as condições de funcionamento, claro que estamos de acordo.

O que nos preocupa é que as intervenções ultrapassem este nível e alterem, descaracterizando-o, um edifício emblemático, de arquitectura característica do Estado Novo, e que por este facto, é uma referência patrimonial.

Gratos pela visita,

Apareça

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Isabel Magalhães disse...

E para suprema felicidade de um anónimo aqui fica:

'pesquisa'.

NB - Não se incomode a enviar factura. No O.L. todos os trabalhos são de voluntariado.

Anónimo disse...

Fui aluna deste fantástico Liceu.
Espero sinceramente que ele se mantenha com aquele aspecto de escola imponente, tranquila e bela.

PARA MELHORAR, NÃO É PRECISO DESTRUIR, BASTA CUIDAR!

Unknown disse...

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Cara Fátima,

Parece que andámos lá TODOS. :)

Conheço centenas de pessoas que por lá passaram, e NUNCA ouvi nenhuma dizer mal do liceu.

Todos guardam as melhores recordações.
Até os cábulas... como uma amiga minha que gostava tanto dele que andou lá mais de 20 anos !!! AHAHAH
Já fazia parte da mobília. Mas acho que conseguiu acabar. Digo eu, que não tenho a certeza. A próxima vez que a vir, pergunto-lhe.

Grato pela sua visita

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Anónimo disse...

Quem não andou lá foi o Isaltino Morais ... por isso é que aquilo agora vai ser condominio privado,

Zézé Lopes

Anónimo disse...

O Liceu de OEIRAS vi ser condomínio privado?!

Anónimo disse...

ISTO É UMA VERGONHA. HÁ QUE PAGAR A CAMPANHA NÃO É?

Unknown disse...

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Essa do 'condomínio privado' só pode ser brincadeira.

A Escola Secundária Sebastião e Silva vai continuar a ser aquilo que é: uma escola.

A menos que alguém saiba coisas que não sabemos...

Em tal caso, agradecemos que nos facultem informações.
Devidamente fundamentadas, é claro, que de boatos e boateiros estamos fartos.

Levamos Oeiras a sério !

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