PONTOS DE VISTA

O BARRETE


Há muitos – mesmo muitos – anos que não víamos ninguém com o tradicional barrete saloio enfiado. Julgávamos ter já caído em absoluto desuso nesta região. Daí a nossa surpresa. E fez-nos recordar o tempo das lavadeiras e dos burros ajoujados de trouxas de roupa bem lavada, curtida ao Sol e com odores silvestres, ou com sacas ou cestos de achas de lenha para os fogões, ou ainda da fresca produção da horta e do pomar, que, do interior, semanalmente, desciam até à “urbana” população do litoral. Enfim, memórias de há cerca de meio século…
Foi em Laveiras, na manhã de 27 de Maio, que se nos deparou esta agradável surpresa. E consideramos agradável porque foi o pretexto para rememorar o modelo de uma vida calma, pautada por um ritmo natural, pausado e, pelo menos aparentemente, tranquilo.
Apeteceu-nos parar e chegar à fala com aquele curvado e seco ancião que caminhava, lentamente, com passo miúdo. As forças já lhe escasseariam para estugar o passo. Os deveres do “relógio”, no entanto, não permitiram satisfazer o nosso intento. Se tivéssemos tido essa possibilidade, o que não nos teria ensinado!... Tanto deve ser o seu saber “de experiência feito”! Que lição perdemos!
O remanso que aparentava já não se vive. A sua mente, com certeza, estava longe dos problemas do aumento dos combustíveis e do disparo do preço dos alimentos essenciais ou das controvérsias político-partidárias que estiolam os ânimos e acinzentam a esperança de um futuro melhor.
Mas como é possível, hoje, no concelho de Oeiras que se “terciarizou”, subsistir o típico saloio?
A nossa homenagem a este abencerragem que nos fez sonhar e pensar que é sempre possível resistir.

Jorge Miranda
(jorge.o.miranda@gmail.com)

O Oeiras Local agradece ao autor e ao Jornal da Costa do Sol a cedência do artigo

Foto: Oeiras Actual