carlos
Data: Tue, 19 Feb 2008 11:39:25 -0000 [19-02-2008 11:39:25 WET]
De: scardoso@dnoticias.pt
Olá.
Sou colaboradora do Jornal de Oeiras e Jornal de Cascais.
Envio um texto em anexo, que sai na nova edição.
Em jeito de homenagem, se quiserem publicar.
Obrigada.
Sandra Cardoso
Correspondente em Lisboa
Diário de Notícias Madeira
Gigante
Costumava dizer-te que ia escrever a tua biografia. Tu, rias-te, como só tu sabias fazer, e dizias: “Faz, isso”. Eu não falava por falar, mas por admirar a tua grandeza. Não era à toa. Ao início, achavas que me estava a meter contigo, pelos teus conhecidos preconceitos de altura. Até nisso, tinhas graça. Como se os homens se medissem aos palmos! Mas, facilmente percebeste que me referia à dimensão do teu espírito. Foste tão grande, que mesmo desaparecendo das nossas vistas, ainda o és.
Influenciaste-me e ensinaste-me tantas coisas, a maior parte das vezes fingindo que estavas a aprender comigo. Ainda não acredito que nunca mais me vais perguntar: “Já me leste esta semana? O que achaste?”. Sentia-me sempre pequenina, quando me pedias isso. Como se eu tivesse direito de ousar comentar o mestre. Sei que não gostavas dessa designação e que a minha opinião era mesmo importante para ti. Eras de uma humildade enternecedora. Até nas pequenas coisas. Quando falavas dos teus filhos, das tuas paixões (e eram tantas ou não fosses um eterno apaixonado). E quando contavas, transpirando amor, que a tua mãe era a mulher mais inteligente que conhecias, mesmo com a 4ª classe e escrevendo açúcar com um “s” ou dois.
Cada linha deste jornal que escrevo, a cada homenagem que leio, penso em ti. Deves estar a pensar: “que provincianismo”. Pois é, a morte de um jornalista local a fazer manchete pode parecer pacóvio, mas só para quem não te conheceu. Sabes que é verdade. “Sem falsas modéstias”, costumavas dizer e agora sou eu que te digo. Desfruta, tranquilo, meu amigo. Que tu mereces, isto e muito mais. Disseste-me um dia que o jornalista só é notícia duas vezes: se morder um cão ou morrer. Quem me dera que tivesses tido uma súbita e louca fúria em relação a um canino. Seria tão mais fácil.
Felizmente, a tua grandeza levou a que tudo o que hoje é dito sobre ti, o tenha sido feito durante a tua vida. Recebias homenagens diárias. Dizias que “amavas todas as pessoas” e não era um lugar comum. Elas também te amavam e amam.
Mesmo que não queiras que o diga, vou fazê-lo na coluna que me pediste há uns meses para escrever. És a minha referência, não só profissional, mas a nível pessoal. Ainda que tivéssemos as nossas diferenças. O tabaco era uma delas. E por isso, Carlos, meu querido gigante, sabes que não te posso dizer adeus. Porque estarás em cada linha, em cada decisão editorial e sempre que se justificar. Não, não é adeus. É até amanhã, camarada!
Sandra Cardoso
Costumava dizer-te que ia escrever a tua biografia. Tu, rias-te, como só tu sabias fazer, e dizias: “Faz, isso”. Eu não falava por falar, mas por admirar a tua grandeza. Não era à toa. Ao início, achavas que me estava a meter contigo, pelos teus conhecidos preconceitos de altura. Até nisso, tinhas graça. Como se os homens se medissem aos palmos! Mas, facilmente percebeste que me referia à dimensão do teu espírito. Foste tão grande, que mesmo desaparecendo das nossas vistas, ainda o és.
Influenciaste-me e ensinaste-me tantas coisas, a maior parte das vezes fingindo que estavas a aprender comigo. Ainda não acredito que nunca mais me vais perguntar: “Já me leste esta semana? O que achaste?”. Sentia-me sempre pequenina, quando me pedias isso. Como se eu tivesse direito de ousar comentar o mestre. Sei que não gostavas dessa designação e que a minha opinião era mesmo importante para ti. Eras de uma humildade enternecedora. Até nas pequenas coisas. Quando falavas dos teus filhos, das tuas paixões (e eram tantas ou não fosses um eterno apaixonado). E quando contavas, transpirando amor, que a tua mãe era a mulher mais inteligente que conhecias, mesmo com a 4ª classe e escrevendo açúcar com um “s” ou dois.
Cada linha deste jornal que escrevo, a cada homenagem que leio, penso em ti. Deves estar a pensar: “que provincianismo”. Pois é, a morte de um jornalista local a fazer manchete pode parecer pacóvio, mas só para quem não te conheceu. Sabes que é verdade. “Sem falsas modéstias”, costumavas dizer e agora sou eu que te digo. Desfruta, tranquilo, meu amigo. Que tu mereces, isto e muito mais. Disseste-me um dia que o jornalista só é notícia duas vezes: se morder um cão ou morrer. Quem me dera que tivesses tido uma súbita e louca fúria em relação a um canino. Seria tão mais fácil.
Felizmente, a tua grandeza levou a que tudo o que hoje é dito sobre ti, o tenha sido feito durante a tua vida. Recebias homenagens diárias. Dizias que “amavas todas as pessoas” e não era um lugar comum. Elas também te amavam e amam.
Mesmo que não queiras que o diga, vou fazê-lo na coluna que me pediste há uns meses para escrever. És a minha referência, não só profissional, mas a nível pessoal. Ainda que tivéssemos as nossas diferenças. O tabaco era uma delas. E por isso, Carlos, meu querido gigante, sabes que não te posso dizer adeus. Porque estarás em cada linha, em cada decisão editorial e sempre que se justificar. Não, não é adeus. É até amanhã, camarada!
Sandra Cardoso
1 comentário:
Concordo, não existem palavras no meu vocabulário para descrever a pessoa que ele era, foi pela minha mão que o levei a fazer o que ele mais amava, a escrita quando lhe disse que no jornal de um amigo, precisavam de um jornalista, não me arrependo. Apreciei desde o primeiro momento cada palavra redigida. Carlos foste o homem que me ajudou a crescer, não esqueço cada palavra tua, quando me deito a dormeço a ouvir a tua voz. Fica bem.
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