sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

PREOCUPAÇÕES




Pé ante pé, eles estão aí. Não se vêem, não se ouvem, mas já se começa a sentir que não estão preocupados connosco. Os interesses deles são outros.

Fecham aqui, desactivam ali, deslocalizam no outro lado. Falam do PIB, em ratios e rankings, na convergência e em projectos estruturantes, em parcerias públicas ou privadas. Falam os do governo e os empresários com o calor de salva pátrias. Aparentam que não se combinaram, mas os finalmentes são os mesmos.

O pior é que nivelam por baixo, criam sistemas sem acesso ao cidadão comum, diminuem o pouco que é de muitos e aumentam o muito que é de poucos.

Não há perspectivas para os nossos jovens, estabilidade para quem ainda tem trabalho, nem tranquilidade para os velhos. Estes até são apontados como pesos desequilibradores das contas da saúde e da segurança social.

Que País é este que se esquece dos homens e aposta, apenas, em certa classe de eleitos. Eles estão aí, repito e como disse Bertolt Brecht só quando te levarem é que compreendes que será tarde.


Clotilde Moreira
Algés


Publicado no Jornal Público em 8/7/2007 nas cartas ao Director

6 comentários:

M.A.R. disse...

Foi publicado em 2007 mas continua com actualidade.Um abraço.
m.a.r.

Isabel Magalhães disse...

Ainda há dias voltei a receber o fwd

Maiakovski
Poeta russo "suicidado" após a revolução de Lenin… escreveu, ainda no início do século XX:

"Na primeira noite, eles se aproximam e colhem uma flor de nosso jardim.
E não dizemos nada.
Na segunda noite, já não se escondem, pisam as flores, matam nosso cão.
E não dizemos nada.
Até que um dia, o mais frágil deles, entra sozinho em nossa casa, rouba-nos a lua, e, conhecendo nosso medo, arranca-nos a voz da garganta.
E porque não dissemos nada, já não podemos dizer nada."

Um abraço
I.

Fernando Lopes disse...

Não têm que se preocupar com emprego - está garantido.
Não têm que se preocupar com a Justiça- pois podem sempre recorrer e esperar pelas amnistias.
Não têm que se preocupar com a velhice - já têm bons hotéis preparados.
Não têm que se preocupar com a saúde - pois têm clínicas privadas
Por enquanto ainda morrem...ao fim de algum tempo.

Unknown disse...

.

São muitas as versões, tantas que parece que já ninguém sabe qual a original Mas para o efeito todas são boas.
Fica aqui uma:

PRIMEIRO LEVARAM OS COMUNISTAS,
MAS EU NÃO ME IMPORTEI
PORQUE NÃO ERA NADA COMIGO.

EM SEGUIDA LEVARAM ALGUNS OPERÁRIOS,
MAS A MIM NÃO ME AFECTOU
PORQUE NÃO SOU OPERÁRIO.

DEPOIS PRENDERAM OS SINDICALISTAS,
MAS EU NÃO ME INCOMODEI
PORQUE NUNCA FUI SINDICALISTA.

LOGO A SEGUIR CHEGOU A VEZ
DE ALGUNS PADRES, MAS COMO
NÃO SOU RELIGIOSO, TAMBÉM NÃO LIGUEI.

AGORA LEVARAM-ME A MIM
E QUANDO PERCEBI,
JÁ ERA TARDE.

Bertolt Brecht (1898-1956)


Ou como diz o povo: "QUEM TE AVISA, TEU AMIGO É !"

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Isabel Magalhães disse...

J.;

Tanto qto sei a primeira é do Maiakovski.

Tenho a colectânea, posso enviar-ta por e-mail.

[]

I.

Unknown disse...

.

I.,

Desculpa mas acho que estás enganada.
São textos diferentes.
O Maiakovski morreu em 1930, antes do começo da 2ª GG.

O poema de Brecht refere-se ao nazismo hitleriano, e sempre o conheci em versões aproximadas à que aqui coloquei, e a ele atribuído.

nota: Não estou a negar que o M. tenha escrito o que publicaste. Talvez até tenha inspirado o B. O poema deste é que existe em algumas variantes, adaptadas ao gosto de cada um. Já uma vez fiz uma pesquisa e encontrei umas 3 ou 4 versões diferentes.

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