domingo, 17 de fevereiro de 2008

Até sempre Pai!

Cara Isabel,

Não sei se nos conhecemos (talvez sim), mas isso não importa. Quero começar por lhe agradecer o esforço para manter viva a memória do meu pai. Peço-lhe depois que publique este pequeno texto sobre o Carlos Saraiva, o meu Pai.


Até sempre Pai!

O chão branco de uma folha não é suficiente para contar todos os ensinamentos que contigo aprendi. Mas uma coisa te prometo: não mais deixarei de dizer em voz alta o quanto foste (és) importante para mim, isto apesar das tensões e dos arrufos que são parte insubstituível da relação entre o melhor pai do mundo e qualquer um dos seus filhos.

No beijo do teu adeus, descobri a importância dos teus silêncios e dos teus olhares, por vezes de reprovação. Não eram mais do que um sinal da tua preocupação com o rumo que a vida dos que sempre amaste podia tomar. Afinal, e como sempre, tinhas razão.
Sabes, Pai... Não é fácil lembrar-me de ti sem que uma ou duas lágrimas escorram rosto abaixo, em sinal de uma saudade que é tudo menos gratuita ou, como tu dirias, é tudo menos "uma mariquice". Há no entanto algumas coisas que me confortam. Desde logo a convicção profunda de que, apesar dos teus exageros, foste profundamente feliz nos últimos quatro anos. Depois porque tinhas ao teu lado a Teresa Lima, certamente uma grande mulher. Por outro lado, fiquei a saber, por estes dias de despedida, que tu, Pai, foste e serás uma referência da vila de Oeiras que tanto amavas. Ouvir tanta gente falar de ti, dizer tantas coisas bonitas e verdadeiras a teu respeito, sabendo que não tinhas nada em troca para lhes dar a não ser a tua enorme grandeza como homem e como Pai fez-me sentir ainda mais orgulho em ser teu filho.

À Joaninha, minha "mana" e ao Miguel Morgado peço mais uma vez que não deixem morrer o sonho do meu Pai: resistam a tudo e a todos que queiram pôr um ponto final no Jornal de Oeiras. Por favor, não desistam de lutar e de continuar o sonho dele.

Pai, eu sei que, mais cedo ou mais tarde, havemos de nos encontrar. algures numa esquina do tempo. Até lá ficará para sempre a saudade e a responsabilidade de falar de ti a toda a gente porque, sem a menor das dúvidas, tu és e serás sempre a minha referência e o meu modelo. Até sempre, Pai!

Nuno Saraiva

2 comentários:

Unknown disse...

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Não tive o privilégio de privar com o Carlos.
Cruzámo-nos algumas, poucas vezes, em exposições, nas quais fomos apresentados um ao outro.
Conhecia-o sobretudo das suas brilhantes prosas no Jornal de Oeiras, que eu não perdia a oportunidade de ler sempre que possível.

Dele fica-me a memória do sorriso afável, do aperto de mão caloroso e quente e a tristeza e mágoa de saber que nunca teremos oportunidade para conversar sobre o muito que teríamos para dizer um ao outro.

Reitero as minhas condolências à família.

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Wolf disse...

Tinha sempre uma palavra sincera na ponta da língua....afiada...com um Humor especial.
Fica a memória de uma pessoa que fez Feliz quem eu guardo no coração (Teresa sabes que estou por aqui sempre)e que contribui de forma incalculável para o concelho de Oeiras.
E que melhor forma de lhe agradecer por tudo senão cuidar do que ele fez nascer?

O meu mais profundo respeito à Família e não posso acabar este comentário sem deixar um beijo muito especial cheio de carinho a ti Teresa.

Álvaro de Campos
O Frio Especial


"O frio especial das manhãs de viagem,
A angústia da partida, carnal no arrepanhar
Que vai do coração à pele,
Que chora virtualmente embora alegre "