segunda-feira, 4 de fevereiro de 2008

D. António Alves Martins, Bispo de Vizeu

A nossa história, como outra qualquer, tem personalidades bastante curiosas, que despertam em nós vontade de saber delas um pouco mais.
Deu-se o caso de, recentemente, ir a Viseu e, depois das visitas culturais obrigatórias, nas deambulações pela cidade, lembrei-me de rever o monumento ao Bispo D. António Alves Martins. Havia a recordação guardada de uma visita anterior, feita aí pelos meus 11-12 anos de idade e, na memória, tinham ficado também restos dumas frases que lera no pedestal de granito.
Fui portanto atrás desta recordação de criança e, acreditem, de novo naquele lugar , dei largas à imaginação, agora já como adulta, para avaliar quão incómoda terá sido, na época, a força desta figura da Igreja de que agora vos falo!...
Nasceu em Granja de Alijó em 18 de Fevereiro de 1808, não conseguindo eu obter quaisquer elementos sobre a família onde nasceu. Entrou no Seminário e sei que lhe reconheceram logo aptidões para a Matemática, Filosofia e Teologia . Cedo se mostrou também um acérrimo seguidor e defensor das ideias liberais o que originou, no seu 3º ano de Teologia um castigo de suspensão. Já sacerdote, evidenciou-se como um bom orador sagrado, mas também, sempre, homem de palavras directas e incisivas, nada dado a artifícios de linguagem. Em 1867 protestou, por exemplo, por o seu nome ter sido incluído numa mensagem ao Papa, considerado infalível e rei. O Séc. XIX foi propício no fervilhar de diferentes ideias políticas. Aínda pelo seu forte carisma liberal, com 24 anos apenas chegou a ser condenado à morte. Evadiu-se, porém, quando o levavam preso, para o local do fuzilamento, justamente o Largo de Santa Cristina, onde se encontra hoje o seu monumento, em Viseu .
A sua acção estendeu-se em vários campos:
Foi eleito deputado em 1842, foi Jornalista do Nacional entre1848 e 1849, a seguir no Jornal do Comercio em 1858 e, depois, em 1861no Arquivo Nacional. Nomeado Enfermeiro Mor do Hospital de S. José em 1861. Apresentado Bispo de Viseu em Julho de 1862 , fez a sua entrada solene na cidade em 29 de Janeiro de 1963. Por duas vezes, em 1868 e 1870 foi também Ministro do Reino.

O seu Monumento é obra do famoso Escultor António Teixeira Lopes. Mostra-nos o Bispo esculpido em bronze, de pé, numa figura um tanto atarracada, mas de postura firme, com a mão direita apoiada numa bengala. No pedestal de granito que sustenta a escultura podemos ler, para além dos dados biográficos, estas duas frases sublimes que definem bem qual terá sido a linha de pensamento deste Sacerdote. Qualquer de nós as entende e, a mim, encantam mais ainda pela profundidade do seu sentido humano:

- A religião deve ser como o sal na comida, nem muito nem pouco, só o necessário.
E esta outra:
- Na minha diocese quero padres para amar a Deus na pessoa do próximo; não quero jesuítas que vivam de explorar o próximo em nome de Deus

No livro “ALBUM DAS GLÓRIAS “ de Rafael Bordalo Pinheiro, na página a ele dedicada, Guilherme de Azevedo (sob o pseudónimo de João Rialto) sintetizou-o com estas duas palavras: “MORALIDADE E MARMELEIRO.” Aconselho que leiam esta página na totalidade porque vão gostar.
Convenhamos que, personalidade como esta, seria bem incómoda no seu tempo, mas bem desejávamos que idênticas houvesse, com esta têmpera, nos tempos de hoje…
Morreu pobre, no Paço de Fontelo, em 5 de Fevereiro de 1882.

M.A.R.

3 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Amiga M.A.;

A nossa história é rica em gente de valor, dos ilustres aos anónimos, pena que nos tempos que correm se tenha perdido o espírito do todo, do País enquanto nação...

Obrigada por este seu contributo que nos dá a conhecer melhor o Bispo de Vizeu.

[]

I.

luis botelho disse...

Personalidade fascinante!...Padres e MM:. há do melhor e do pior.

Rita Sousa Rego disse...

Meus amigos

Este Bispo era maçom. A frase da "religião é como o sal" é típica de um maçom: torna a relação com Deus uma coisa insípida, morna, desinteressante.

Quem quer perceber o que é religião e o que é a Igreja faz melhor se perceber que a conssit~encia da fé nunca vem de figuras destas.

Há bispos e bispos... este não é exemplo para um católico.

cumprimentos