14 February 09 12:00 AMVerticalidade
Campanhas negras?
Sempre tenho defendido que não devem existir aproveitamentos políticos de processos que correm os seus termos na Justiça. Principalmente, quando nada têm a ver com o exercício de funções públicas. Mas a regra deve valer sempre. Porque, de contrário, são os julgamentos feitos por políticos e por jornalistas em vez de o serem pelos juízes.
Lembro-me de um deputado do PPD/PSD, Cruz Silva, que sempre lutou por não suspender o mandato sem ser julgado. Mas foi muita a pressão da opinião difundida, a tal ponto que o homem foi mesmo afastado.
Nunca privei com ele e limitámo-nos a trocar algumas palavras, duas ou três vezes. Soube, há tempo, que Cruz Silva tinha sido absolvido das acusações que lhe eram feitas. Mas ninguém, ou quase ninguém, difundiu isso. Encontrei- -o nos corredores da Assembleia, aqui há uns meses. Com um ar distante e algo irónico. Compreensivelmente.
Mas, se não deve haver aproveitamento político por parte dos outros, muito menos deve existir por parte da pessoa visada. Aí, entramos no domínio do abuso: os adversários do visado nada diriam para não pôr em causa as boas regras – mas teriam de arrostar com as acusações do próprio, para se livrar de uma situação embaraçosa.
Campanhas negras em Portugal? Já houve. Falei aqui, na semana passada, dos ataques a Paulo Portas. Durante esse tempo, José Sócrates tinha um debate comigo na RTP todos os domingos. Seria bom que mostrasse agora palavras suas da época, demarcando-se das posições do PS. Campanhas negras? E Leonor Beleza? E Miguel Cadilhe? Para não falar de Francisco Sá Carneiro.
O Partido Socialista costuma falar da campanha contra Ferro Rodrigues e do processo Casa Pia. José Sócrates é capaz de se recordar que, na altura, em directo, na televisão, expressei a minha solidariedade sincera para com o então secretário-geral do PS e mostrei repulsa por aquilo que estava a passar-se. Ora seria interessante Sócrates mostrar o que disse sobre esse processo de ataque a Paulo Portas. Até porque poderia credibilizar o que hoje defende sobre essas matérias.
Já agora, se me permitem, tenho uma leve ideia do que são campanhas dessas. Desde há muitos anos – mas, especialmente, desde 2004. Aliás, a campanha foi tão negra que as pessoas até tinham vergonha de me contar algumas das inacreditáveis histórias que a central de intoxicação que existia à época pôs a circular.
José Sócrates, na sua campanha para secretário-geral do PS, deu logo o tom, com um tema ainda ‘suave’.
Numa conferência de imprensa atacou-me por eu, enquanto primeiro-ministro, ter nomeado cerca de vinte secretárias pessoais… Só que, como o acusador sabia, era o mesmo número dos que me antecederam no exercício dessas funções. E como sucedia antes, era para todo o gabinete: Só duas eram para o próprio primeiro-ministro.
Campanhas negras existem quando as acusações se baseiam em invenções ou falsidades. Sem dúvida. E eu, que julgava que a verdade vinha sempre ao de cima, aprendi que às vezes não é fácil – porque só vem depois do que a justiça da verdade impunha.