quinta-feira, 6 de agosto de 2009

A obra de Isaltino não é arte


http://www.ionline.pt/conteudo/16735-a-obra-isaltino-nao-e-arte


por Sílvia De Oliveira, Publicado em 05 de Agosto de 2009 Jornal “I”

Voltas e mais voltas à cabeça, algum esforço de projecção, mas é difícil, praticamente impossível, entender quem mantém o voto em Isaltino Morais, depois de conhecida a pesada sentença do Tribunal de Sintra. O presidente da Câmara Municipal de Oeiras e candidato a um novo mandato, nas eleições de 11 de Outubro, foi condenado, na primeira instância, a uma pena de prisão efectiva de sete anos e à suspensão de mandato. Mas mesmo assim, a actriz Eunice Muñoz vai voltar a apoiar a sua reeleição. Ficaram provados, também na primeira instância, os crimes de fraude fiscal, abuso de poder, corrupção passiva e branqueamento de capitais, mas tamanho veredicto também parece não importar ao capitão de Abril Otelo Saraiva de Carvalho. E, como estes, estão mais oeirenses.

Ora, é no mínimo estranho, que quem tanto se queixa do funcionamento da justiça e dos políticos, em muitos casos com razão, tenha um repente e fique cego, logo agora que a justiça está a funcionar.

Isaltino Morais vai recorrer para o Tribunal da Relação e a decisão deste colectivo de juízes até pode vir a ser contrariada. É importante repetir que ninguém é culpado até trânsito em julgado, mas também é bom sublinhar que, neste momento, o que existe é um duro acórdão. O recurso de Isaltino não rasga este documento. E o que está lá escrito, palavra por palavra, é que Isaltino Morais cometeu, não um, mas quatro crimes.

Mas, mesmo assim, uma parte dos que votam em Oeiras, ao que parece significativa, está empenhada em depositar outra vez a sua confiança em Isaltino Morais, patrocinando, através do voto, a sua gestão camarária. Como se a familiaridade e os jardins, as boas estradas e todas as coisas bem feitas em Oeiras pela equipa de Isaltino valessem mais que uma decisão de um tribunal. Como se a obra fosse o que mais importasse, independentemente do seu criador.

Mas no final de tudo, o que aqui está em causa é grave e revela, sobretudo, duas coisas: mais um voto de desconfiança na justiça e uma tolerância indevida com alguns políticos. Os que parecem ignorar a sentença, desejam que o tribunal tenha falhado, porque, talvez pensem que, no meio da mediocridade que aparenta reinar pelo reino do poder local, pelo menos Isaltino tem obra feita. Imagino que pensem qualquer coisa como abusos há por todo o lado, este já sabemos quem é, o que faz e bem. Que confortável. Pouco interessa de que forma a obra aparece feita e se existiram ou não envelopes de dinheiro pelo meio. Que estranhos são os que, neste momento, parecem não duvidar de mais nada, a não ser da justiça. Estão no seu direito apoiar a reeleição, arriscar uma conivência com práticas criminosas, como ficou, para já, provado em tribunal. Felizmente, nada nem ninguém proíbe, a não ser a consciência de cada um. Mas depois não se queixem da justiça e dos políticos, não se sentem nos bancos de jardim de Oeiras a falar da aparente impunidade de alguns. A obra de Isaltino não é arte, não é de artistas que falamos. Votar não é o mesmo que desfrutar de uma bela sinfonia ou de um grande filme.

3 comentários:

Anónimo disse...

Há pessoas que só daqui a alguns dias vão cair na real. Afinal de contas vão votar como? em quem? Num indivíduo que mais mês menos mês parar à prisão? Sim nesta altura a probabilidade de isso acontecer é muito elevada. Alguns vão perder privilégios? Eu sei é aborrecido, é a vida. Outros estão muito gratos a coisas que do ponto de vista pessoal os engrandeceu. Tudo bem. Mas aos poucos todos vão cair em si. Estão a haver reacções muito a quente. É necessário esfriar a cabeça e perceber a gravidade da situação.

j. manuel cordeiro disse...

Ouço por vezes afirmações «pode ser corrupto mas ao menos este faz». É uma justificação fantástica que me leva a considerar dois aspectos:
1. julgamos os outros pelos nossos valores;
2. quando alguém corrupto "faz", não faria ainda mais se não o fosse?

Anónimo disse...

É importante neste caso Isaltino que a comunicação social faça alguma pedagogia de modo a demonstrar como esté errado em votar-se nesta personagem que se vangloria no Tribunal de não levar a sério as de clarações exigidas pelo Tribunal Constitucional e de não declarar IRS quando o funcionário com mais baixo vencimento da Câmara é obrigado a declarar os seus rendimentos. 7 anos de prisão não é o mesmo que 3 anos de pena suspensa como a Fátima Felgueiras e outros colegas do crime