"Trabalharei com todos menos com Isaltino"

Marcos Perestrello tem a difícil tarefa de ganhar a Isaltino Morais, em Oeiras. O candidato socialista diz que Isaltino perdeu não apenas autoridade moral, como também força criativa. E que o concelho está em risco de estagnar se um novo ciclo de modernidade não tiver início. Propõe melhorar o que foi feito e mudar muito. Escolas, acessibilidades, habitação e saúde.

O seu principal adversário chama-se Isaltino Morais, um dos mais populares autarcas, mas recentemente condenado por actos no exercício de funções. Terá Isaltino como vereador ou será vereador de Isaltino?

Estou a concorrer a presidente da Câmara de Oeiras e o meu projecto é dedicar-me ao concelho nos proximos oito anos. Se for presidente sem maioria absoluta, procurarei fazer as parcerias necessárias para a governabilidade da Câmara.Não ponho obstáculos, à partida, a nenhum verador eleito, com excepção de Isaltino Morais. Não trabalharei com ele, ganhe ou perca.

Mas o PS tem uma tradição recente de apoio ao governo municipal de Isaltino Morais...

O acordo que fizémos foi há quatro anos, para permitir o bom governo do concelho em determinadas áreas. Muita coisa mudou depois.

Após conhecida a condenação do actual presidente, fez uma declaração apelando a que ele se não candidatasse.Mas ele vai ser candidato e o desafio, para si, mantém-se difícil.Ou não?

O repto que eu fiz a Isaltino Morais , não foi por receio de o confrontar eleitoralmente.Foi por uma questão de coerência e de ética políticas. Quando foi forçado a sair do governo, ele disse que só voltaria a cargos públicos depois de esclarecidos os rumores que originaram, depois, a sua condenação. Tão simples como isto. Julgo que, por respeito ao seu próprio passado, ele não se deveria colocar numa a situação em que está a misturar política e justiça. E em que está a pedir aos eleitores de Oeiras que validem, ou não, uma decisão judicial.

Os eleitores vão validar, ou não, um trabalho feito. Você reconhece esse trabalho, mas diz que é tempo de mudar. Em que consiste o seu repto?

Os mandatos de Isaltino, de há quinze ou vinte anos atrás, foram marcados por uma obra muito visível e que fez Oeiras progredir. A verdade é que, depois de ele ter abandonado Oeiras para ir para o Governo e ter voltado, a obra já não é a mesma. Perdeu vitalidade, imaginação e força, não acompanhou os tempos. Oeiras está em risco de estagnar. Olhamos para este seu último mandato e não encontramos uma unica obra estruturante para o concelho. E se este mandato já foi mau, o próximo arriscar-se-ia a ser bem pior.

O seu lema de campanha parece tímido e viver à sombra desse passado: "Melhorar o que está bem, mudar o que está mal." Porquê essa timidez?

Um discurso político sério, a meu ver, deve assentar na realidade. Não tenho qualquer problema em reconhecer o que houve de bom trabalho feito. Mas Oeiras tem de olhar o futuro e há também coisas mal feitas e coisas por fazer. Oeiras está no centro da zona mais rica do país, a Área Metropolitana de Lisboa, tem uma posição estratégica, que a autarquia aproveitou para desenvolver o concelho, há vinte e cinco anos. Apostou-se, então, nos parques empresariais, nas vantagens competitivas do concelho, nomeadamente em termos de acessos - e isso é algo que se não pode perder agora. Mas tal se não verifica já. O desenvolvimento do concelho não foi acompanhado por um desenvolvimento semelhante a nível das infraestruturas rodoviárias, nem dos transportes públicos. E hoje o problema da mobilidade é um problema-chave. Como entrar, como sair e como circular lá dentro. Precisamos de novas soluções para manter a competitividade anterior.

Que soluções propõe então para resolver o problema da mobilidade?

A nível do transporte público é peciso perguntar ao actual presidente porque é que Oeiras, nos últimos quatro anos, ficou de fora das discussões que a administração central foi tendo com todos os concelhos da Àrea Metropolitana.Porque é que Amadora e Odivelas já têm metropolitano, porque éque Almada já tem metro de superfície e Oeiras ficou de fora? É vital que a linha vermelha do Metro vá até ao Alvito, se cruze aí com a ligação ferroviária para a margem sul, e prossiga até Carnaxide, Miraflores, Linda-a-Velha, Algés. A solução a encontrar seria transformar essa parte da linha num metro ligeiro de superfície.

Tem falado também dos acessos rodoviários...

Naturalmente. É necessário resolver o estrangulamento da nó da auto-estrada, na zona de atravessamento entre os nós da CREL e da CRIL. A Câmara tem de tomar a inciativa do alargamento daquela via rápida, com mais uma faixa em cada sentido - um problema cuja resolução Isaltino esqueceu também.

Nas áreas sociais, que propõe?

Habitação para as classes médias, sem descurar a habitação social. Um plano de emergência para criar as quatro dezenas de escolas que faltam no pré-escolar - temos mil candidatos para cada quinhentas vagas. Possibilitar a escola a tempo inteiro e assumir o repto do ministério da Educação, no sentido dos municípios assumirem a gestão das escolas do segundo e terceiro ciclo. E há, ainda, um projecto fulcral que Oeiras tem de assumir: a localização do novo hospital da área ocidental de Lisboa, disponibilizando terrenos existentes em Carnaxide. Um centro hospitalar que sirva Lisboa e Oeiras.

Depois das eleições europeias, o PS está sujeito a grande pressão. Isso vai condicionar o resultado das autárquicas? O seu?

Os resultados eleitorais, em eleições tão próximas como estas são, influenciam-se necessariamente uns aos outros. Eu estou optimista, penso que o PS vai vencer as legislativas. E que a especificidade de cada eleição guiará os votantes.

A sua missão é difícil, quase impossível?

Nem uma coisa nem outra. Mas é sem dúvida uma missão exigente, de muito trabalho mas estimulante.

DN