A notícia do Público de hoje, 4-1-2008 sobre o caso BCP é bombástica: "(E)ntre Janeiro e Junho de 2007, o banco do Estado [CGD] financiou em mais de 500 milhões de euros a compra de acções do BCP" por accionistas do BCP ( "22 accionistas", entre os quais, Joe Berardo, Moniz da Maia, Goes Ferreira e Teixeira Duarte) que apoiam a lista socratina de Santos Ferreira e Armando Vara candidata ao banco privado. Uma candidatura de clique socratina que o (in)suspeito Ricardo Eu-Sou-Controlado Costa descreve-a um resultado do "acordo tácito com o Ministério das Finanças e o gabinete do primeiro-ministro"...
Num País com um governo descomprometido desencadear-se-ia a imediata suspensão dos envolvidos no empréstimo na sua candidatura à gestão do banco cuja compra de parte significativa do capital eles próprios financiaram, enquanto membros do Conselho Alargado de Crédito da Caixa (juntamente com os socialistas Maldonado Gonelha e Francisco Bandeira e ainda Celeste Cardona do PP), contra a garantia... "feita em primeira linha pelos títulos adquiridos" - as próprias acções do BCP, entretanto desvalorizadas (e com essa garantia "nalguns casos, reforçada com outros activos de menor volatilidade", que o Público não especifica). E seria iniciado imediatamente o respectivo inquérito judicial para apurar os factos gravosos deste caso. Se bem que os investidores, nomeadamente os internacionais, irão achar esta promiscuidade intolerável, prejudicando também a própria imagem da CGD, do Governo que tutela a Caixa e do próprio Estado.
O desmentido-que-não-desmente o essencial, mais um neste caso vergonhoso, hoje propalado pela Caixa Geral de Depósitos (CGD), nesta notícia da Agência Financeira, deixa perceber que os ditos candidatos socratinos - Santos Ferreira e Armando Vara - pertencem ao órgão que autorizou os créditos para financiar a conquista do poder que se candidatam depois a representar.
Louvor ao Público que consegue um furo terrível sobre o rigor e prudência de actuação dos referidos candidatos ao BCP, bem como sobre a mistura de interesses entre quem concede o crédito público, quem escolhe a nova direcção do banco com o capital adquirido por esse financiamento e quem, depois, se candidata a representar o próprio poder cuja conquista financiou.
O furo do Público só não é claro quando afirma, sem conhecimento da informação que nesse primeiro semestre de 2007 os protagonistas possuíam, que "quando o grupo estatal emprestou o dinheiro a Berardo, a Moniz da Maia, a Goes Ferreira e à Teixeira Duarte, não se previa ainda os acontecimentos mais recentes", uma presunção que o próprio comunicado da CGD aproveita - "nada fazia prever..." Nada fazia prever os desentendimentos internos do BCP entre as facções de Jardim Gonçalves e Paulo Teixeira Pinto que vieram a redundar no lançamento de uma terceira via entre os dois grupos?!...
O que o povo queria que o seu banco, pois a Caixa Geral de Depósitos é um banco de capitais exclusivamente públicos, com um passado de prudência financeira e conservadorismo de operações, não se envolvesse no empréstimo de centenas de milhões de euros para operações especulativas em vez de aplicados no desenolvimento deste País, onde os bancos, a começar pelos públicos, muito pouco financiam a pesquisa e desenvolvimento de novas tecnologias, produtos e negócios.
O povo queria que o Governador do Banco de Portugal admitisse a sua responsabilidade nos factos que o Diário Económico hoje, 4-1-2007 denuncia e se demitisse por incapacidade de resolver um caso que, segundo o jornal, conhecia desde 2001!...
O povo quer responsabilidade, rigor e isenção das instituições públicas - Governo, procuradoria-geral da República, Caixa Geral de Depósitos, Banco de Portugal e Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) - em vez deste pântano fétido. O povo quer, mas não tem senão vergonha.
Limitação de responsabilidade (disclaimer): Não tenho qualquer interesse particular no Millennium BCP ou em empresas concorrentes. Exclusivamente pela convicção do interesse nacional e da liberdade económica, apoio a candidatura à administração do BCP da lista encabeçada pelo dr. Miguel Cadilhe.
Publicado por António Balbino Caldeira em 1/05/2008 12:01:00 AM
5 comentários:
Grato pela referência, Isabel. Receio que estas revelações sejam ainda a ponta do icebergue.
Ó António;
Receia?!
Eu estou plenamente convicta... :)
Abraço
I.
Não vou em teorias de conspiração. os acontecimentos relatados de concessão de crédito pela CGD foram no princípio do ano de 2007, muito antes de Joe Berardo fazer estalar o escândalo com a entrega de informações à PGR e que levaram a uma mudança da sucessão na liderança. Um artigo falacioso e faccionista à boa maneira do portuguesinho mesquinho que habita no portugal profundo. Faz-me lembrar as teorias contra a ASAE, o TGV, a Ota, enfim, malta que anda chateada com a vida e não têm mais nada para fazer do que inventar mentiras.
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Este post - dou os parabéns ao António Balbino Caldeira pelo esforço da investigação e da síntese esclarecedora, e pela coragem das denúncias neste ambiente cada vez mais FASCISTA em que vivemos -, este post dizia, não é em rigor uma coisa para me espantar - já pouco me espanta !
Portugal é o país da pouca-vergonha e do deboche a todos os níveis.
E o grave é que há quem saiba e cale, e até apoie, talvez porque espera ganhar alguma coisa com isso.
Mas cada um é livre de fazer o que quiser com a dignidade que devia ter...
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Diria mesmo: "Portugal no seu melhor"...
Só ontem e hoje, dois líderes de partidos vieram às televisões assacar responsabilidades ao "xuxialista" Victor Constâncio, presidente do Banco de Portugal que, ao que tenho lido por aí, não só tinha conhecimento de todas as "maroscas" como ainda por cima as ocultou e arquivou!
E depois admiram-se, quando fazemos comparações com Salazar!
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