quarta-feira, 2 de janeiro de 2008

infelizmente sou saudável...

Apesar de alguns problemas de saúde crónicos, conhecidos daqueles que comigo privam, posso considerar-me um homem saudável.
Não sei se deva dizer 'felizmente' se 'infelizmente'...
Estranho? Não.
Acontece que quem tem pouca saúde, passa a vida em médicos, hospitais, centros de saúde e farmácias - e acaba na morgue... - e, por este facto, tem no mínimo um grande conhecimento da realidade, uma grande experiência e de um modo geral não se sente surpreendido por certas coisas que acontecem. Eu não. É assim que digo que 'infelizmente' sou um homem saudável.
Ao longo de 51 anos de vida contam-se pelos dedos duma mão as vezes em que tive que me deslocar ao Centro de Saúde de Oeiras - CSO - a fim de ser assistido.

Já não recordo quando pela primeira vez entrei no CSO para uma consulta. O centro tinha sido construído e inaugurado pouco antes, coisa a que não dei importância nenhuma em especial, porque eu era jovem e muito saudável. O que é certo é que um dia lá tive que recorrer a ele e, como foi natural, fizeram-me escolher um médico de família. O sistema assim o exigia.
Escolhi. Olhei para o placard com o nome dos médicos e escolhi um à sorte. Afinal eu sempre fora saudável, nunca necessitara de grande assistência médica, não sabia nada a respeito daqueles clínicos e para mim eram todos iguais, qualquer um servia. Como se diz em gíria "era igual ao litro".

Durante talvez uns 10 anos, mudei duas ou três vezes de médico de família. Tal era a minha saúde! Passavam-se anos sem que eu fosse ao CSO a qualquer consulta e quando lá tinha que ir, ao marcar a consulta no balcão, diziam-me que tinha que escolher outro médico porque o meu, no entretanto, tinha-se reformado ou tinha falecido... Mais uma vez lá olhava eu para o danado placard com os nomes dos médicos e horários das consultas e lá escolhia um deles um pouco ao acaso, geralmente um nome que me fosse agradável e me soasse bem. Em situações desta natureza, qualquer critério é bom para fazer uma escolha.

E assim se passaram os anos. Habitualmente apenas problemas do tipo 'gripalhada' ou coisas similares, e só quando eu já tinha atingido o limiar do suportável e sentia que estava quase com 'o pé prá cova' ou seja, as mezinhas caseiras somadas às bagaceiras já não aplacavam as dores nos gasganetes, a 'ranhoca', a tosse, a febre, etc., me levavam ao CSO. Pois se eu era muito saudável!

Foi neste contexto que um dia me dirigi ao CSO. E uma vez mais recebi a resposta, no balcão de marcação das consultas, de que o meu médico tinha falecido - R.I.P., Paz à Sua Alma - e me disseram que tinha que escolher outro. Olhei o raças do placard de alto abaixo. Eliminei os médicos que só davam consulta de tarde. Era-me mais favorável a manhã, para em caso de baixa ainda ter tempo para a ir entregar na empresa depois da hora de almoço e não perder o dia. Nesta sociedade cínica temos que dominar um pouco de estratégia.

Não sei porque carga de água escolhi aquele nome. Talvez pela ressonância estrangeirada. Escolhi, marquei a consulta e lá fui.
Era um médico novato, pouco mais velho que eu. Óptimo. Certamente não iria falecer ou reformar-se tão cedo e eu poderia ter um médico para me acompanhar durante uns bons anos.

Até que... aos 38 anos anos a minha vida mudou radicalmente, e aqui escuso-me de entrar em pormenores sobre os meus problemas de saúde.
Basta dizer que me tornei um doente crónico, com necessidades específicas de assistência, análises, exames e medicação.
Bem... levanto um pouco o véu. Tenho epilepsia e um tratamento que não correu da melhor maneira deixou-me com limitações visuais e motoras - pensem em alguém que tenha tido uma trombose e têm uma boa ideia.

Passei a depender de assistência específica em Neurologia no Hospital Egas Moniz. Nada de assinalável. Isto não invalida que eu necessite de um médico de família no CSO, para coisas como receitas, problemas de saúde que nada têm a ver com o meu problema específico, como seja uma gripe ou uma dor num joelho, e coisas que tais.
Continuei a ir ao CSO, precisamente neste sentido. Continuava a ter lá o meu médico de família. Sim... Até há cerca de uns 8 anos atrás.

A última vez que lá fui, com um dor fortíssima no ombro (dor reflexa com origem na coluna, que me estragou o Natal e o Fim de Ano), ao marcar a consulta recebi a resposta de que o meu médico estava de baixa, que não sabiam quando voltaria, que não me podiam dar outro médico, e que recorresse à consulta de recurso.
Estas são o que sabemos. São consultas onde se vai uma vez. Não são consultas para o médico seguir o tratamento, porque quando lá regressamos o médico já é outro. Foi o que me aconteceu, porque o tratamento não estava a resultar e tive que lá voltar quinze dias depois, para outro médico me receitar outras porras...

Os médicos também adoecem. Aceitei pacificamente. Por portas e travessas, aliás, eu sabia qual fora o problema de saúde dele, grave por sinal, assim não me senti 'atingido' pelo médico. Senti-me violentado, isso sim, pelo sistema, que revelou uma total incompetência em resolver um problema de um doente crónico.

Nunca mais voltei a entrar no CSO. Mas, além das necessidades recorrentes de uma assistência médica regular, tenho hoje uma idade que exige algum cuidado, e exames e análises regulares, pelo que o recurso ao médico é uma boa ideia. Não posso escamotear que tenho 51 anos, a idade crítica e que ainda em Maio último perdi o meu pai com um cancro na próstata. A 'tal' doença que nos mata a nós, homens, com maior incidência onde já existem casos. Necessito de vigilância. Necessito de exames e análises. Necessito de um médico de família.

Agora a 'piada' sem graça:
Tenho um amigo que trabalha no CSO. Por razões óbvias não vou revelar o seu nome. Encontrei-o ontem. Ocorreu-me perguntar-lhe pelo meu médico de família, se ele sabia de alguma coisa, se já teria acabado a baixa e regressado ao CSO. E qual não foi o meu espanto! Espantai-vos também minhas gentes!
Ele disse-me que o meu médico de família já tinha regressado sim, mas que está em... BARCARENA!
Que os doentes que eram dele e que aceitaram ir para Barcarena, foram; que os que não aceitaram, ficaram sem médico!

NÃO me recordo de ter recebido qualquer comunicação do CSO a perguntar-me fosse o que fosse sobre esta matéria.
E mesmo que o tivessem feito, moro na Freguesia de Oeiras e São Julião da Barra - há 37 anos -, porque carga de água eu, que tenho problemas de mobilidade, se outros não houvesse, aceitaria ir para Barcarena cada vez que precisasse de ser assistido pelo meu médico de família ?!

Dois post scriptum:

P.s. 1: Houve doentes de Oeiras que, além de Barcarena, foram para Paço de Arcos.
P.s. 2: As consultas de recurso vão também ACABAR.

ANDA TUDO DOIDO, NÃO ANDA ??!!

imagem: http://www.wikidoido.com/Chapéus_de_carne
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12 comentários:

Isabel Magalhães disse...

Claro que 'andamos todos doidos'!

Este é o 'melhor (des)governo'...
com o melhor 'elenco' ministerial de 'SEMPRE'.

E somos uns 'ESTÚPIDOS FELIZARDOS', uns pobres e mal agradecidos que nem percebemos que nos saiu o Jackpot da sorte.

Como diz, e bem, o R.F.

CAMBADA!!!

Isabel Magalhães disse...

No C S de Linda-a-Velha há 8.000 (?) utentes sem médico de família.

Fernando Lopes disse...

Pois...mas é o mesmo Governo que vem em peso ao Concelho de Oeiras, do Primeiro aos Ministros, oferecer PCs e inaugurar Centros de Saúde.

Não dá para entender.

Laetitia disse...

Eu tive de me virar para os seguros privados, pago cerca de 50,00€ por mês, mas evita-me passar dias inteiros no CSO para marcar consultas para daí a uns largos meses e para urgências tenho os hospitais particulares.Mas não abdico do meu bom médico de família. Não é que o meu médico de família esteja sempre ausente, muito pelo contrário, até tenho receio quando o dito for para a reforma. Ele é mesmo um bom médico!
Há poucos meses para meu espanto fecharam o S.A.C.
Eu pergunto-me se os utentes só podem ficar doentes até ás 19h00?

Isabel Magalhães disse...

Foram oferecer PCs a escolas que ficam bem na fotografia porque das outras não reza a história...

Laetitia disse...

I.:

Se calhar o dinheiro dos pc's era melhor empregue num curso de Inglês para o P.R.
É mesmo caso para dizer:

"Shame on you..."

Ps: Acho que o "jove" da foto andou a ver o "Mr.Bean at Christmas" e tentou imitá-lo.

Isabel Magalhães disse...

Bom dia, Estrelinha;

O link da SOL já consta no O.L.

Grata por lembrar.

I.

Anónimo disse...

Como eu o compreendo caro amigo, como eu o compreendo...

Nem sei que dizer. Realmente a miséria é demais. Este (des)governo é fabuloso. Não respeita nada nem ninguém. Se formos uns drogaditos talvez consigamos alguma coisa, agora... doentes, santa paciência.

Unknown disse...

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Caras e Caros,

'Sorry', mas só agora tive um bocadinho para aqui vir- não, não tenho estado doente... :)

Agradeço os v. comentários.
Claro que não sou um caso único, nem em Oeiras nem no país.
Oiço centenas de pessoas por todo o lado queixarem-se do mesmo, de terem ficado sem médico de famílía.

Claro que isto tudo tem por trás uma estratégia de privatização da Saúde...
E de pretender enriquecer o estado à custa dos contribuintes.

Ainda não esqueci de que há uns anos se criaram os SAP - Serviços de Atendimento Permanente - e serviços similares, com grande pompa e circunstância, sustentando que eles serviriam para aliviar a pressão nas urgências hospitalares, tornando estas mais operacionais.
Agoram... FECHAM!
E não só este tipo de serviços.

A Saúde é paga com o dinheiro de todos os contribuintes.
É um abuso, um roubo, e cinismo, cobrar impostos e contribuições para a Saúde aos cidadãos e conduzir estes ao não usufruto daquilo que pagaram, direccionando-os para soluções como a da Estrellinha que assim PAGA A DOBRAR!

Se de facto querem privatizar a Saúde, sejam dignos e honestos.
Acabem com as contribuições e os impostos e depois "quem tiver unhas toca viola" ou seja, quem tiver dinheiro tem saúde, quem não tiver morre.

E assim se 'apura a raça' e se inventa um país de homens e mulheres saudáveis.
O Hitler não faria melhor...

BASTA DE HIPOCRISIA !!

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Isabel Magalhães disse...

Ó Zé! Francamente...!

Tu tens má vontade, pá!

Então um (des)governo tão bom, TODO a Bem da Nação, preocupadíssimo com os portugueses e tu nem estás aí?!

Eu sou 'loura' mas percebo que se morrerem uns quantos, por falta de alimentos, por falta de dinheiro, por falta de assistência na saúde, baixa logo a taxa do desemprego e o P.M. (deles) soma pontos...

Povo ingrato. Livra!

Fernando Lopes disse...

Expliquem-me lá que eu ainda não percebi.
Em tempos recorria ao SAP de Oeiras a qualquer hora do dia ou da noite.Depois deixei de aceder à noite (ou estou enganado?). Se os Anjos da Noite ou quejandos (o último nem me media a temperatura porque era antihigiénico), não responderem, onde vou? Atafulhar o S. Francisco Xavier e vir de lá mais doente? Hoje ouvi na rádio que na "Província" os autarcas, depois do discurso do Sr. "Prisidente", estão a levantar-se contra o Poder Central. Será desta...ou vamos ter uma invasão de patos bravos (lá vou ser apelidado de preconceituoso). "Me expeliquem".

Unknown disse...

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É isso aí, tanto quanto lembro.
Era 24 h., depois passou a horário diurno apenas, e agora... KAPUT!

A partir daqui, se uma pessoa tiver uma gripe, torcer um tornozelo, estiver com uma dor de estômago ou de ouvidos, coisas que tais, seja dia seja noite, acho que só tem mesmo uma opção.
'Xico da cunha' com ele...

"Cá se vai andando com a cabeça entre as orelhas"...

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