sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Clara Ferreira Alves

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Sob o título em epígrafe, recebemos o seguinte email, um nadinha longo e com um texto já com mais de 3 meses, mas que na nossa opinião merece uma leitura e uma reflexão, apesar de não sermos apologistas de todas as opiniões de C.F.A. Como tantos outros, também este texto, infelizmente, mantém a actualidade:




Que democracia temos?

A Clara Ferreira Alves escreve para o Expresso, sempre coisas interessantes...!!..mas eu ainda acrescentava..e os "colaboradores" da PT depois de saberem o ESCANDALOSO ORDENADO ( 186.000,00 E por MÊS )..!?????!!!!!...revoltaram-se..???? ,pediram aumento..???,melhores condições de trabalho ?,melhores seguros ???,e nós PORTUGAS DE M.... continuamos a pagar ALUGUER de telefone..??,e a trabalhar 40 e mais anos para não sabermos se vamos ter a reforma miserável que se sabe..??...e o preço dos combustiveis,e os juros do emprestimo p/ habitação,e as reformas escandalosas do "DEPUTEDO"..!??..e o que vai acontecer a Jardim Gonçalves ..???
Vale a pena ler até ao fim, este artigo de Clara Ferreira Alves:


*A Justiça criminosa*
por Clara Ferreira Alves
In Pluma Caprichosa *Segunda-feira, 22 de Out de 2007

Por uma vez gostava que em Portugal alguma coisa tivesse um fim, ponto final, assunto arrumado. Não se fala mais nisso.

Vivemos no país mais inconclusivo do mundo, em permanente agitação sobre tudo e sem concluir nada.

Desde os Templários e as obras de Santa Engrácia que se sabe que nada acaba em Portugal, nada é levado às últimas consequências, nada é definitivo e tudo é improvisado, temporário, desenrascado.

Da morte de Francisco Sá Carneiro e do eterno mistério que a rodeia, foi crime, não foi crime, ao desaparecimento de Madeleine McCann ou ao caso Casa Pia, sabemos de antemão que nunca saberemos o fim destas histórias, nem o que verdadeiramente se passou nem quem são os criminosos ou quantos crimes houve.

Tudo a que temos direito são informações caídas a conta-gotas, pedaços do enigma, peças do quebra-cabeças. E habituámo-nos a prescindir de apurar a verdade porque intimamente achamos que não saber o final da história é uma coisa normal em Portugal e que este é um país onde as coisas importantes são "abafadas", como se vivêssemos ainda em ditadura.

E os novos códigos Penal e de Processo Penal em nada vão mudar este estado de coisas. Apesar dos jornais e das televisões, dos blogues, dos computadores e da Internet, apesar de termos acesso em tempo real ao maior número de notícias de sempre, continuamos sem saber nada, e esperando nunca vir a saber com toda a naturalidade.

Do caso Portucale à Operação Furacão, da compra dos submarinos às escutas ao primeiro-ministro, do caso da Universidade Independente ao caso da Universidade Moderna, do Futebol Clube do Porto ao Sport Lisboa Benfica, da corrupção dos árbitros à corrupção dos autarcas, de Fátima Felgueiras a Isaltino Morais, da Braga parques ao grande empresário Bibi, das queixas tardias de Catalina Pestana às de João Cravinho, há por aí alguém que acredite que algum destes secretos arquivos e seus possíveis e alegados, muito alegados crimes, acabem por ser investigados, julgados e devidamente punidos?

Vale e Azevedo pagou por todos.

Portugal tem um défice de responsabilidade civil, criminal e moral muito maior do que o seu défice financeiro, e nenhum português se preocupa com isso apesar de pagar os custos da morosidade, do secretismo, do encobrimento, do compadrio e da corrupção.

Os portugueses, na sua infinita e pacata desordem existencial, acham tudo "normal" e encolhem os ombros.

Quem se lembra dos doentes infectados por acidente e negligência de Leonor Beleza com o vírus da sida?

Quem se lembra do miúdo electrocutado no semáforo e do outro afogado num parque aquático?

Quem se lembra das crianças assassinadas na Madeira e do mistério dos crimes imputados ao padre Frederico?

Quem se lembra que um dos raros condenados em Portugal, o mesmo padre Frederico, acabou a passear no Calçadão de Copacabana?

Quem se lembra do autarca alentejano queimado no seu carro e cuja cabeça foi roubada do Instituto de Medicina Legal?

Em todos estes casos, e muitos outros, menos falados e tão sombrios e enrodilhados como estes, a verdade a que tivemos direito foi nenhuma.

No caso McCann, cujos desenvolvimentos vão do escabroso ao incrível, alguém acredita que se venha a descobrir o corpo da criança ou a condenar alguém? As últimas notícias dizem que Gerry McCann não seria pai biológico da criança, contribuindo para a confusão desta investigação em que a Polícia espalha rumores e indícios que não substancia.

E a miúda desaparecida em Figueira? O que lhe aconteceu?

E todas as crianças desaparecida antes delas, quem as procurou?

E o processo do Parque, onde tantos clientes buscavam prostitutos, alguns menores, onde tanta gente"importante" estava envolvida, o que aconteceu?

Arranjou-se um bode expiatório, foi o que aconteceu.

E as famosas fotografias de Teresa Costa Macedo? Aquelas em que ela reconheceu imensa gente "importante", jogadores de futebol, milionários, políticos, onde estão? Foram destruídas? Quem as destruiu e porquê?

E os crimes de evasão fiscal de Artur Albarran mais os negócios escuros do grupo Carlyle do senhor Carlucci em Portugal, onde é que isso pára?

O mesmo grupo Carlyle onde labora o ex-ministro Martins da Cruz, apeado por causa de um pequeno crime sem importância, o da cunha para a sua filha.

E aquele médico do Hospital de Santa Maria suspeito de ter assassinado doentes por negligência? Exerce medicina?

E os que sobram e todos os dias vão praticando os seus crimes de colarinho branco sabendo que a justiça portuguesa não é apenas cega, é surda, muda, coxa e marreca.

Passado o prazo da intriga e do sensacionalismo, todos estes casos são arquivados nas gavetas das nossas consciências e condenados ao esquecimento. Ninguém quer saber a verdade. Ou, pelo menos, tentar saber a verdade.

Nunca saberemos a verdade sobre o caso Casa Pia, nem saberemos quem eram as redes e os "senhores importantes" que abusaram, abusam e abusarão de crianças em Portugal, sejam rapazes ou raparigas, visto que os abusos sobre meninas ficaram sempre na sombra.

Existe em Portugal uma camada subterrânea de segredos e injustiças, de protecções e lavagens, de corporações e famílias, de eminências e reputações, de dinheiros e negociações que impede a escavação da verdade. Este é o maior fracasso da democracia portuguesa e contra isto o PS e o PSD que fizeram? Assinaram um iníquo pacto de justiça.

imagem: Da nossa responsabilidade.
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6 comentários:

Fernando Lopes disse...

Eu creio que iníquo começa por ser o sistema, não apenas o judicial, que para tudo isto contribui. Mas como nos dizem que a Democracia é o menor dos males...estamos feitos. Olhemos bem à nossa volta...o que vemos é o poder plutocrata (ou cleptocrata)no seu auge. Aqui e lá fora. O desalento instala-se e tudo torna permissivo. Ouviram há pouco o bastonário dos advogados...Pois é os cães ladram mas a caravana passa (salvo seja).

Isabel Magalhães disse...

Amigo Fernando;

Como disse alguém, até á data, ainda não se inventou nada melhor que a Democracia.

Anónimo disse...

Ora bem, mas desde que possamos gritar que os políticos são isto e aquilo, calamos , ou aderimos ou participamos na desculpa do sistema que, afinal, somos todos nós.

Anónimo disse...

Deve ser essa a diferença entre a actualidade do Sócas e o fascismo de Salazar. «Podemos gritar que os políticos são isto e aquilo», divulgar as indignações na internet mas depois não passa disso.

Anónimo disse...

O que me parece é que "podemos gritar que os políticos ´são isto e aquilo" e grande parte de nós pratica ou condescende, na sombra do seu anonimato de pessoas não públicas, com aquilo que censura naqueles.

Unknown disse...

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Democracia !?

Qual Democracia...!!??


democracia:
do Gr. demokratía
s. f.,
sistema político fundamentado no princípio de que a autoridade emana do povo (conjunto de cidadãos) e é exercida por ele ao investir o poder soberano através de eleições periódicas livres, e no princípio da distribuição equitativa do poder;
país em que existe um governo democrático;
governo da maioria;
sociedade que garante a liberdade de associação e de expressão e na qual não existem distinções ou privilégios de classe hereditários ou arbitrários.
in Priberam Online

Chamo especial atenção para a parte "... garante a LIBERDADE de associação e de EXPRESSÃO e na qual não existem distinções ou PRIVILÉGIOS de classe hereditários ou ARBITRÁRIOS."

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